Carreira em Medicina

Calázio e hordéolo: conceito, sintomas e mais

Calázio e hordéolo: conceito, sintomas e mais

Compartilhar
Imagem de perfil de Prática Médica

Entenda o que é o calázio e o hordéolo, quais suas apresentações no paciente e a melhor condução desses distúrbios. Bons estudos!

O calázio e o hordéolo, conhecido como terçol, são duas condições oftalmológicas comuns nas unidades básicas de saúde. Por esse motivo, é fundamental que o médico saiba conduzir o manejo desse paciente, além de orientá-lo.

Calázio vs Hordéolo: o que são?

Embora o calázio e hordéolo sejam condições distintas, ambas se tratam de inflamações em glândulas oculares.

O hordéolo, conhecido como terçol ou viúva, é o resultado da inflamação das glândulas Zeis e Mol. Essas duas glândulas se encontram mais próximas à borda externa das pálpebras.

Por outro lado, o calázio é decorrente da inflamação das glândulas Meibômio. Elas se encontram mais próximas da borda interna da pálpebra.

calázio hordéolo
Glândulas Zeis e Moll e a glândula Meibômio e suas localizações.

O que causa a formação bolhosa no calázio e hordéolo?

Como comentamos, tanto elas são inflamações, porém de diferentes glândulas.

Embora não se trate de uma infecção propriamente dita, geralmente o ambas são oriundas de uma infecção. Essa infecção, comumente, é causada por bactérias do grupo estafilococos. Essa é uma realidade muito comum, principalmente para crianças com as mãos sujas que são levadas aos olhos.

Devido o processo inflamatório, com todos os sinais flog[isticos como rubor, edema e eritema, por exemplo, tem-se a instalação do quadro. A partir da repercussão inflamatória, os ductos que realizam a drenagem de secreção ocular são obstruídos.

Como consequência desse processo, tem-se a formação de um granuloma, com tecido inflamado. Com a evolução do quadro, inicia-se a formação de um granuloma, que cresce a medida que a secreção não drenada se acumula.

Diferenças de apresentação entre o calázio e o hordéolo

Embora o calázio e o hordéolo sejam muito parecidos, existem diferenças sutis na apresentação dos quadros.

O hordéolo (terçol) se localiza na margem da pálpebra. É formada uma pústula amarelada, na base de um dos cílios. Em volta dela, desenvolve-se um edema difuso, mais endurecido e hiperemiado. A dor é sentida pelo paciente, mas alivia após 2 a 4 dias, quando o material é expulso por rompimento. A partir disso, a lesão desaparece.

Ainda sobre o hordéolo, é comum que o paciente sinta dor, calor e rubor – sinais flogísticos da inflamação. Somado à eles, um prurido, bem como lacrimejamento e fotofobia são também relatados pelos pacientes.

O calázio costuma surgir após 1 ou 2 dias desde a infecção. Com isso, a pálpebra apresenta um inchaço, com um nódulo indolor e pequeno. Aqui, a dor prevalece no começo do quadro, mas com a formação do granuloma a dor é cessada.

Um outro sintoma comum no calázio é a possibilidade de visão turva. Isso acontece nos casos em que o granuloma cresce muito, pressionando o globo ocular.

calázio hordéolo
Figura 1: Calázio e Hordéolo.

Como pode ocorrer a evolução do calázio e hordéolo?

A evolução da maioria dos casos de calázio e hardéolo culmina na resolução após 2 a 3 dias desde a instalação. Ou seja, a partir disso a regressão costuma ser espontânea.

Em alguns casos, embora a dor cesse com o passar dos dias, o granuloma persiste e segue crescendo. Esse crescimento se justifica pela secreção represada, ao longo dos dias anteriores. Relatos apontam que esse tipo de evolução aumenta a chance de recidivas do hordéolo.

Como comentaremos mais adiante, o calázio pode não regredir espontaneamente e resultar em cronificação.

Diagnóstico do calázio e hordéolo

O diagnóstico de ambos é essencialmente clínico.

Já que o quadro inicial do hordéolo e calázio são muito brandos, é possível que sejam indistinguíveis clinicamente aos olhos do médico.

Antes ainda de confirmar o diagnóstico do hordéolo e calázio, é importante afastar outros diagnósticos diferenciais. Por isso, o especialista deve também considerar descartar a dacriocistite e canaliculite.

Dacriocistite

Tratamento do hordéolo: o que saber?

O hordéolo (terçol) costuma ser resolvido por meio da drenagem espontânea do conteúdo na glândula inflamada. Ela pode ocorrer por dentro, por via conjuntiva, ou pela pele.

Uma abordagem que favorece a drenagem do conteúdo é o uso de compressas mornas. Com a temperatura, o conteúdo é amolecido, e o orifício é aberto, permitindo a sua saída da glândula. As compressas podem ser aplicadas de 3 a 4 vezes por dia, por cerca de 10 a 15 minutos.

Em casos persistente, pode ser recomendado um antibiótico tópico ocular ou tópico. Sendo terçóis múltiplos ou em pacientes idosos e muito debilitados, o antibiótico oral pode ser mais eficaz.

Os antibióticos sistêmicos recomendados para o hordéolo são a dicloxacilina ou eritromicina, 250 mg por via oral 4 vezes ao dia.

Embora as compressas mornas sejam muito eficazes, alguns hordéolos externos não respondem à elas. Nesses casos, de preferência com acompanhamento do especialista, uma lâmina de ponta fina pode ser inserida cuidadosamente na formação.

Tratamento do calázio: como conduzir?

O tratamento do calázio também é essencialmente clínico. Assim como no hordéolo, as compressas mornas também possuem finalidade terapêutica, sendo aplicadas de forma semelhante.

Pode ser necessária a curetagem ou terapia com corticoide, principalmente intracalázio. Essa é uma abordagem recomendada para calázios grandes, persistente por semanas. Para isso, são feitos 0,05 a 0,2 mL de triancinolona 25 mg/mL.

Assim, nos casos em que a recidiva é importante, recomenda-se uma avaliação refracional dos olhos. Outra abordagem que também pode ser decidida em conjunto com o paciente é a raspagem da glândula que costuma inflamar.

No entanto, sendo uma doença crônica, em casos onde a resolução não ocorre, a intervenção cirúrgica pode ser uma realidade.

Pensando nessa possibilidade, um exame histológico é realizado. O exame tem como objetivo de afastar ou confirmar um tumor, como o carcinoma de células sebáceas.

Quais recomendações fazer ao seu paciente com calázio ou hordéolo?

Algumas recomendações são de suma importância para se evitar casos de hordéolo e calázio. Algumas delas são:

  • Manter as mãos limpas;
  • Compressas mornas, como comentamos acima;
  • Diminuir o excesso de oleosidade na pele, evitando o bloqueio de saída das secreções palpebrais;

Ainda, o exame refrativo é muito importante para esclarecer o motivo de recidivas. Isso porque, em alguns casos, o calázio e hordéolo podem ser intensificados por esses outros problemas.

De todas as recomendações citadas, certamente a manutenção de mãos limpas tem uma importância especial. Evitando a transmissão de vírus e bactérias, a chance de infecções é diminuta.

A alimentação interfere na formação de calázio e hordéolo?

Como explicamos no início do artigo, a formação do hordéolo e calázio é favorecido pela oleosidade da pele.

Por isso, os alimentos consumidos apresentam contribuição para a formação de hordéolo e calázio. Por isso, evitar frituras, chocolate e alimentos ricos em ômega 3 parece contribuir para menos episódios.

Desmistificando alguns pontos

Na atenção básica, é comum que algumas ideias alimentadas popularmente passe de geração para geração sobre o calázio e o hordéolo. Embora algumas delas sejam verdadeiras, é importante que o médico esclareça algumas informações sobre a doença.

A água boricada é uma solução tópica muito utilizada em infecções e irritações cutâneas. Por isso, algumas pessoas acreditam que o seu uso tem benefício no tratamento do calázio ou hordéolo. Apesar disso, não se tem evidências de benefícios para essas condições podendo, inclusive, irritar a pele. Logo, o mais interessante é simplesmente a água morna.

Assim como a crença na água boricada (3% de ácido bórico), alguns pacientes fazem uso do chá morno. Seguindo o mesmo raciocínio, também não apresenta benefícios sobre a água morna.

Sugestão de leitura complementar

Esses conteúdos podem ser do seu interesse:

Referências

  1. Biblioteca Virtual em Saúde. Ministério da Saúde.
  2. Calázio e características demográficas dos portadores em uma amostra populacional. Marjorie Fornazier do Nascimento.
  3. Figura 1. Site do Salgado Borges.