Oncologia

Entenda tudo sobre o Câncer de Próstata

Entenda tudo sobre o Câncer de Próstata

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Imagem de perfil de Graduação Médica

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre homens no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Em ambos os sexos, em valores absolutos, é considerado o segundo tipo de câncer mais comum, atrás do câncer (CA) de pulmão.

A taxa de incidência é maior em países desenvolvidos do que em países em desenvolvimento. É considerado um câncer da terceira idade, já que em cerca de 75% ocorrem em pacientes com mais de 65 anos.

O aumento das taxas de incidência no Brasil pode ser justificado pela evolução dos métodos diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento da expectativa de vida.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que a cada ano do triênio 2020 a 2022 sejam diagnosticados no Brasil 65.840 novos casos a cada 100 mil homens.

No mundo, também é o segundo tipo de câncer mais comum, sendo estimado que 1 em cada 9 homens será diagnosticado com câncer de próstata durante sua vida. Já são registrados cerca de 1,2 milhão de casos e 358 mil mortes anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Câncer de próstata: anatomia

A próstata é a maior glândula acessória do sistema genital masculino. Apresenta formato de cone invertido, possuindo, aproximadamente, 3 cm de comprimento, 4 cm de largura e 2 cm de profundidade, sendo do tamanho de uma noz, de consistência firme e localizada ao redor da uretra prostática.

Imagem da anatomia da próstata

Imagem: Anatomia da próstata. Fonte: https://www.mdsaude.com/urologia/sintomas-da-prostata/

Essa glândula é composta por ácinos e um complexo sistema de dutos ramificados, cujos produtos de excreção são lançados dentro da uretra prostática. Assim, sua função é produzir substâncias que, juntamente com a vesícula seminal e os testículos, vão formar o sêmen ou esperma.

A divisão anatômica dessa glândula é importante, principalmente para descrever a localização dos processos neoplásicos que ocorrem nesse órgão.

A parte glandular representa cerca de dois terços da próstata, sendo composta pela zona periférica e uma pequena zona central que formam cerca de 95% da próstata; enquanto o outro terço é fibromuscular, composto por zona muscular anterior, zona de transição e glândulas periuretrais.

  • Zona muscular anterior (AMZ): localizada anteriormente a uretra, é também chamada de istmo. Característica fibromuscular com pouco ou nenhum tecido glandular. Representa a continuação superior do músculo esfíncter externo da uretra para o colo da bexiga;
  • Zona Central (ZC): localizada ao redor da uretra, é uma zona glandular.
  • Zona periférica (ZP): localizada posterior a uretra, corresponde a uma zona glandular.
  • Zona de transição (ZT): por se tratar de uma área de transição, apresenta tanto característica glandular quanto fibromuscular.

A zona periférica e de transição, apesar de anatomicamente distintas, apresentam uma origem embrionária comum (sino urogenital). As glândulas da zona central são morfologicamente distintas devido a origem embrionária diferente. Cerca de 60 a 70% dos tumores de próstata ocorrem na zona periférica e de 10 a 20% ocorrem na zona de transição. Apenas 5 a 10% dos tumores se originam na zona central. Já a hiperplasia prostática benigna decorre de um aumento no número das células musculares, principalmente em região de AMZ, podendo ocorrer também em zona de transição.

Imagem da anatomia próstata

Imagem sobre as Zonas da Anatomia Próstata

Imagem: Zonas. Fonte: http://www2.ebserh.gov.br/documents/1322127/4918693/Cintilografia+%C3%93ssea+-+Ca+de+pr%C3%B3stata..pdf/abba9bc4-0b60-4923-b896-e23242c7c97d

Imagem sobre as Zonas da Anatomia Próstata

Ressonância magnética da próstata: uma visão geral para o radiologista

Imagem: Próstata. Fonte: Moore, Anatomia Orientada para a Prática Clínica. 4ed e https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842009000300012

Fatores de risco do Câncer de Próstata

Dos vários fatores de risco, os mais importantes são idade, etnia, fatores genéticos e, possivelmente, fatores alimentares.

Idade

Observa-se uma relação clara entre o aumento da idade e o aumento da incidência de câncer de próstata. Raramente o diagnóstico é feito antes dos 40 anos, mas a incidência aumenta rapidamente a partir dessa idade, atingindo pico entre 65 e 74 anos. A frequência em autópsias é progressivamente maior, conforme a idade do paciente, como registrado a baixo:

Imagem tabela sobre as causas mais comuns de obstrução intestinal

Etnia

Em homens de 50 anos foi registrado em autópsias uma incidência de até 46%, enquanto o risco de doença significativa gira em torno de 9,5% e a mortalidade em torno de 2,9%. Portanto, muitos cânceres de próstata são indolentes e seu tratamento merece ser cuidadosamente discutido com o paciente.

O câncer de próstata é mais comum em homens negros do que em brancos ou hispânicos, talvez relacionado a fatores genéticos combinado a fatores alimentares. Além das taxas de incidência mais altas, a idade de início nos homens afro-americanos é anterior ao dos outros grupos, ocorrendo em menos de 50 anos em 8,3% dos negros e 3,3% dos brancos.

Muitos estudos descobriram que os homens afro-americanos também possuem níveis séricos mais altos de PSA, escores piores de Gleason e um estágio mais avançado da doença no momento do diagnóstico.

História familiar e fatores genéticos

O câncer de próstata tem um forte componente herdado. Homens com histórico familiar de câncer de próstata em ambos lados da família, particularmente aquele com um parente de primeiro grau diagnosticado com idade < 65 anos, possuem um risco maior.

Além disso, apresentar história familiar de outros tipos de câncer potencialmente herdados, como câncer de mama com diagnóstico com < 50 anos, câncer de mama masculino, câncer colorretal, de ovário, pâncreas e melanoma, também podem aumentar o risco de câncer de próstata.

Os fatores hereditários que contribuem para o risco genético de câncer de próstata podem ser divididos em alterações deletérias raras que interrompem a função do gene conhecido, e variantes mais comuns, geralmente polimorfismos de nucleotídeo único identificados, por exemplo, em regiões reguladoras ou codificadoras de proteínas de um gene.

Dieta

Todos os estudos que implicam dieta no risco de câncer de próstata são observacionais e não devem ser considerados definitivos.

Uma dieta rica em gordura animal pode ser um importante fator no desenvolvimento de câncer de próstata, em particular o ácido alfa-linolênico e baixas quantidades de ácido linoleico.

Além disso, uma dieta pobre em legumes e tomate pode ser outro fator de risco. Já em relação ao café, este parece estar associado a um risco reduzido de câncer de próstata letal/metastático, principalmente naqueles que bebem seis ou mais xícaras por dia.

SE LIGA! Não são recomendadas medidas preventivas ou dietéticas específicas para reduzir o risco de desenvolver câncer de próstata.

Etiologia Câncer de Próstata

Basicamente, podemos dividir os cânceres de próstata em dois grupos: os de origem epitelial e os de os de origem estromal (não-epitelial).

Quanto aos de origem epitelial podemos falar em adenocarcinoma acinar e não-acinar. Entre os adenocarcinomas não acinares temos o adenocarcinoma ductal, o qual apresenta um pior prognóstico.

O tumor de próstata mais agressivo, no entanto, é o tumor de pequenas células. Tumores de bexiga podem também se alojar na próstata, porém são menos comuns.

O adenocarcinoma multifocal corresponde a 95% dos cânceres de próstata, enquanto os outros 5% correspondem a sarcomas, linfomas e carcinomas uroteliais.

O câncer de próstata é único entre os tumores sólidos, pois existe em duas formas: uma forma histológica ou clinicamente oculta, que pode ser identificada em aproximadamente 30% dos homens com mais de 50 anos e em 60 a 70% daqueles com mais de 80 anos, e uma forma clinicamente evidente que afeta cerca de 1 em cada 6 homens norte- americanos.

Acredita-se que o câncer de próstata latente tenha uma prevalência semelhante em todo o mundo. A relação molecular exata entre os cânceres latentes e clínicos não é conhecida.

Assim, é provável que a progressão dos primeiros sintomas para os segundos seja contínua com sobreposição dos eventos moleculares associados. Mutações, regulação negativa da expressão gênica por metilação e por outros mecanismos, e modificação de proteínas parecem estar envolvidas na progressão do câncer de próstata. Os andrógenos têm atuação importante na carcinogênese da próstata.

Manifestações clínicas do Câncer de Próstata

Frequentemente estão ausentes no momento do diagnóstico do câncer. O comportamento clínico do câncer de próstata varia de um tumor detectado, assintomático, microscópico e bem diferenciado, que pode nunca se tornar clinicamente significativo, até um câncer significativo clinicamente, sintomático, agressivo, que causa metástases, morbidade e morte.

No momento do diagnóstico, 78% dos pacientes tem câncer localizado, o envolvimento de linfonodo regional está presente em 12% e 6% estão com metástases distantes.

Assim, os sintomas associados a acometimento da próstata são raros, mas podem se apresentar por sintomas urinários, como hematúria ou hematoespermia. No entanto, esses sintomas são mais comumente associados a condições não malignas, como hiperplasia prostática benigna (HPB).

Entre os 6% com doença metastática podem se apresentar com hematúria, incontinência urinária, disfunção erétil, perda de peso, fraqueza ou dor devido a compressão da medula espinhal, dor devido a fraturas patológicas, fadiga causada por anemia ou sintomas associados a insuficiência renal crônica.

Os sinais clínicos associados ao câncer de próstata incluem um antígeno prostático específico (PSA) elevado em testes laboratoriais e um resultado anormal da próstata ao exame do toque retal.

Detecção precoce versus rastreamento

O rastreamento do câncer de próstata é a avaliação periódica e sistemática de uma população do sexo masculino saudável de uma determinada faixa etária, com objetivo de detectar doença curável em homens com boa expectativa de vida.

Para que essa medida seja valiosa deve reduzir a morbidade e/ou mortalidade da doença, detectando o câncer em estágio inicial.

Recentemente, há muitas incertezas em relação ao PSA, o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata detectado em homens assintomáticos, não havendo evidências concretas que os benefícios de um programa de rastreamento para este câncer seriam maiores do que os prejuízos. Dados mostram que cerca de 17% dos homens são diagnosticados com câncer de próstata, mas apenas 4% acabam morrendo da doença.

Esses números chamam atenção para o número de pacientes que não necessitariam de tratamento. Atualmente, a indicação para o rastreamento dos cânceres está restrita aos de mama, colo do útero, cólon e reto.

Entretanto, exceto câncer de pulmão e esôfago, esses cânceres são passíveis de diagnóstico precoce mediante avaliação e encaminhamento oportunos após os primeiros sinais e sintomas. Assim, em consonância com as evidências científicas disponíveis e as recomendações da OMS, a organização de ações de rastreamento para o câncer da próstata não é recomendada.

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