Caso Clínico de Clínica Cirúrgica sobre Gravidez Ectópica Rota

Imagem de uma paciente sendo consultada por um médico
Índice

Confira um caso clínico completo de Clínica Cirúrgica sobre Gravidez Ectópica Rota e entenda o que deve ser feito com pacientes que chegam ao hospital com esse problema – principais sintomas, exames, diagnóstico e conduta.

Bons estudos!

Identificação do paciente

L.B.C, sexo feminino, 34 anos, parda, secretária, natural e procedente de Salvador/Ba, casada e católica.

Queixa principal

Dor abdominal há 4 horas.

História da doença Atual (HDA)

Paciente relata que há mais ou menos duas semanas vem sentindo um desconforto abdominal em hipogástrio, associada a episódios de náuseas, havendo melhora com uso de Buscopan® Composto.

Refere que o ritmo intestinal sempre foi irregular, com momentos de diarreia e outros de obstipação, mas que isso nunca veio atrapalhar a sua vida, fato que não a fez procurar atendimento especializado, atribuindo a dor a essa condição e as cólicas menstruais de rotina.

Há cerca de 4 horas, porém, relata que obteve piora súbita dessa mesma dor enquanto limpava a casa. Refere que a dor era graduada em 7, numa escala de 0 a 10 e mais localizada no QID, havendo piora com a movimentação corporal.

Associado a isso, refere que apresentou um episódio de lipotimia e dois de vômitos nesse mesmo intervalo de tempo e que, agora, a dor localiza-se em todo abdome. Nega cefaléia, febre, gravidez e eventos anteriores similares.

Antecedentes pessoais, familiares e sociais

Refere passado de Úlcera Péptica por infecção por H. pylori e uso contínuo de Omeprazol 40mg devido a Doença do Refluxo Gastroesofágico. G1P1A0, parto cesáreo.

Menarca aos 10 anos, ciclos irregulares, duração de 05/06 dias com intervalos que variam entre 23 e 35 dias, fluxo moderado, dismenorreia frequente.

Refere uso de DIU de Levonorgestrel.  DUM: 30/08/2016. Coitarca aos 18 anos e parceiro fixo desde então. Não faz uso de preservativos. Nega demais comorbidades/patologias, alergia a medicamentos e passado de transfusão sanguínea.

ANTECEDENTES FAMILIARES: Pai falecido aos 55 anos por IAM, mãe com histórico de câncer de cólon e irmã portadora de anemia hemolítica autoimune. Filho de 8 anos saudável, sem patologias.

HÁBITOS DE VIDA: Paciente sedentária, tabagista desde os 16 anos, meia carteira por dia (9 maços-ano). Ingere bebidas alcoólicas aos finais de semana e nega uso de drogas ilícitas. Epidemiologia negativa para Doença de Chagas e Esquistossomose.

INTERROGATÓRIO SISTEMÁTICO:

    • Geral: nada digno de nota;
    • Segmento Cefálico, olhos, boca e ouvidos: nada digno de nota;
    • Ap. CV: nada digno de nota;
    • Ap. Respiratório: nada digno de nota;
    • Ap. GI: Refere regurgitação quando come muito (sic) e ritmo intestinal irregular, com períodos de diarreia alternando com obstipação;
    • Ap. Urinário: Refere polaciúria há uma semana. Nega disúria e sangramentos;
    • Ap. Genital: Refere corrimento vaginal e sangramento. Nega dor.
    • Ap. Osteomuscular: Presença de dor referida em região subescapular direita, não relacionada à movimentação ativa ou passiva.
    • Sistema Nervoso: Refere um episódio de lipotimia.

Exame físico

  • Geral: Paciente em regular estado geral, lúcida e orientada em tempo e espaço, fácies de sofrimento agudo, mucosas hipocrômicas (++/4+) e escleras anictérias;
  • Dados Vitais: TA: 90×60 mmHg; FC: 126 bpm; FR: 28 ipm; Temp.: 37,5ºC;

OBS: Não foi possível avaliar dados antropométricos, pois a paciente encontra-se em posição antálgica, no leito.

  • Pele e fâneros: pele fria e diaforética;
  • AR: tórax simétrico, sem retrações ou abaulamentos. Presença de respiração superficial e irregular. Som claro pulmonar à percussão. FTV preservado. Murmúrio vesicular bem distribuído, sem ruídos adventícios;
  • ACV: Ictus palpável em 5º EIE, na LMC, abrangendo uma polpa digital. Bulhas rítmicas e normofonéticas, taquicárdicas, em dois tempos e sem sopros audíveis;
  • AD: abdome globoso à custa de panículo adiposo. Cicatriz umbilical intrusa. Ruídos hidroaéreos diminuídos. Timpanismo e dor à percussão. Abdome rígido, doloroso à palpação difusa, principalmente à descompressão brusca. Blumberg presente. Murphy ausente. Sem visceromegalias e massas palpáveis. Sem sinais de ascite. Espaço de Traube e lojas renais livres. Ausência de dor à punho-percussão lombar;
  • Extremidades: hipoperfundidas e sem edemas. Pulsos periféricos palpáveis, filiformes em MMSS e MMII;
  • Osteoarticular: Ausência de crepitações ou dores em articulações;
  • Neurológico: ausência de déficits motores e sensitivos. Sem sinais de irritação meníngea.
  • AGU: Hímen perfurado. Durante toque vaginal, presença de dor à mobilização do colo uterino, além de abaulamento e dor no fundo de saco de Douglas (Sinal de Proust).

Exames complementares

  1. Exames Laboratoriais:
  • Hemograma:
  •  
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Valor de Referência
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4,0 milhões/mm3 4,5-6,0 milhões/mm3
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9 g/dL 12 – 16 g/dL
  •  
  1.  
38 – 50%
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13.500 Céls/mm3 4.000 – 12.000 Céls/mm3
  •  
200 mil/mm3 150 – 450 mil/mm3
  • Eletrólitos:

Sódio (146 mmol/L – 135 a 145 mmol/L)

Potássio (5,5 mmo/L – 3,5 a 5,5 mmol/L)

  • Beta-HCG:

Na urina – positivo

Sérico – 2.500 mUI/Ml

 

  1. Exames de Imagem:
  • USG abdominal:

https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTF0kK2wsLlE4hb_FFM7yRyU10Q9i-bZ4V5u6hdalBnRI1cJQDkSAImagem de USG abdominal - gravidez ectópica rota

 

  • USG Transvaginal: presença de sangue na cavidade.

            https://lh5.googleusercontent.com/-2NTD7yP7O9s/T1peSKueeMI/AAAAAAAAAOY/ofdEHzWKCT4/s640/blogger-image-1377460746.jpgImagem USG Transvaginal - gravidez ectópica rota

LISTA SINDRÔMICA:

  1. Hemorrágico: Sinais de choque hipovolêmico: pele fria e diaforética, mucosas hipocrômicas, hipotensão e taquicardia.
  1. Gravidez ectópica rota
  2. Cisto ovariano roto,
  3. Ruptura uterina por DIU;
  4. Aneurisma de ilíacas;
  5. Aneurisma de aorta abdominal.
  1. Inflamatório: Náuseas e vômitos
    1. Apendicite aguda;
    2. Doença inflamatória pélvica;
    3. Salpingite.
  2. Perfurativo: Dor súbita
    1. Úlcera péptica perfurada
  3. Obstrutivo
  4. Isquêmico

Diagnóstico final de Gravidez Ectópica Rota

A gravidez ectópica (GE) é caracterizada pela implantação e desenvolvimento do óvulo fora da cavidade do útero, sendo o local mais comum a tuba uterina, tendo assim um desfecho de aborto ou rotura. A paciente do caso apresenta alguns fatores de risco para essa condição como idade superior a 30 anos e utilização de DIU.

A paciente apresenta-se, então, com dor abdominal súbita em QIE, após realização de atividade física, com sinais de choque hipovolêmico (pele fria e diaforética, taquicardíaca e hipotensa), amenorreica e com abdome reagente a palpação, principais sinais e sintomas de uma GE rota, caracterizando, assim, o quadro de abdome agudo hemorrágico.

Além disso, a paciente apresentou náuseas e vômito e dor em região escapular direita indicativo de irritação peritoneal devido ao sangramento. Como trata-se de uma pessoa do sexo feminino, o exame ginecológico é imprescindível, logo, no toque bimanual observou-se colo uterino amolecido e abaulado, indicativo de gravidez, e dor no fundo de saco de Douglas, sugerindo sangramento no local.

Dessa forma, para diagnóstico temos que todo paciente do sexo feminino que dá entrada ao pronto-socorro com queixa abdominal deve-se pedir a dosagem do hormônio gonadotrófico coriônico (Beta-HCG) sérico que, neste caso, foi positivo,  mas com um valor inferior ao de uma gravidez tópica de mesmo período gestacional.

Pode-se pedir, também, um hemograma completo, que dependendo da perda volêmica pode se apresentar com uma taxa de hemoglobina baixa e um hematócrito concentrado. Além disso, é necessário para confirmação do diagnóstico a Ultrassonografia abdominal e transvaginal, as quais vão permitir a visualização de líquido/sangue na cavidade.

Com o diagnóstico confirmado de GE rota deve-se tentar controlar os parâmetros hemodinâmicos, através de hidratação endovenosa, e cirurgia (laparotomia) para interromper o sangramento, sendo a salpingectomia radical indicada em casos de complicações.

 

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