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Crise de pânico: o que preciso saber para prática psiquiátrica?

Crise de pânico: o que preciso saber para prática psiquiátrica?

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Confira no artigo do Dr. Saulo Ciasca o que o médico precisa saber sobre crise de pânico para prática psiquiátrica.

Ansiedade costuma ser uma queixa comum na rotina da prática psiquiátrica.

A preocupação nos auxilia, até certa medida, a nos organizarmos para o futuro e mantermos energia e ânimo para realizar atividades. Porém, quando em excesso, reduz o próprio desempenho da pessoa e traz sofrimento físico e psíquico, com prejuízos sócio-ocupacionais. Agora, como diferenciar uma crise de ansiedade de uma crise de pânico? Há diferença?

Tem como diferenciar crise de ansiedade de uma crise de pânico?

Imagine-se em uma selva de mata fechada e perdeu sua localização. Escuta um som diferente atrás de uma árvore e de repente se vê na frente de um urso. Neste momento sua amígdala cerebral será ativada: uma descarga de adrenalina irá percorrer seu corpo, aumentando a circulação periférica, frequências cardíaca e respiratória, midríase e medo. Isso tudo para te oferecer resposta orgânica para que lute, ou que fuja. 

Agora imagine-se dentro de casa, sem nenhum perigo à vista, tendo a mesma reação de forma inesperada, repentina. 

A crise de pânico é um episódio de ansiedade aguda marcada por intenso desespero, sensação de morte iminente, com sintomas físicos (os mesmos da descarga adrenérgica) e psíquicos aterrorizantes como: 

  •  alucinações dissociativas (sensação de que o chão se abriu, ou as paredes estão se fechando, com sufocamento),
  •  medo de perder o controle de si mesmo ou de enlouquecer. 

A crise é tão intensa que geralmente faz a pessoa procurar um serviço de emergência, por achar que está morrendo. Uma crise de pânico se diferencia de uma crise de ansiedade pelo fato de se dar sem motivo aparente. 

Características da crise de ansiedade e da crise de pânico

Em geral, quando uma pessoa fica muito ansiosa por alguma questão de trabalho ou provas, reconhece o motivo da crise. Já no pânico é tão inesperado que a pessoa passa a procurar pelo motivo para evitá-lo, como estar em um lugar fechado. 

Como não há previsão de quando e se a próxima crise vai ocorrer, a pessoa passa a ter um medo intenso de ter novas crises e muita tensão. 

A agorafobia é um receio de estar em espaços abertos com muita gente em que a fuga se torna mais difícil (como estar sentado no meio de uma fileira no cinema, ou vagões de trem).

O transtorno de pânico se caracteriza por uma frequência de ataques de pânico que provocam medo de novas crises, muito sofrimento e prejuízos na vida. 

Diagnóstico: o que levar em consideração? 

Para o diagnóstico, é sempre importante descartar algumas causas orgânicas, como:

  • feocromocitoma
  •  sífilis terciária
  • infecção aguda pelo HIV
  • epilepsia
  • intoxicação aguda por cocaína, metanfetamina, LSD, ecstasy ou outros simpatomiméticos
  • abstinência de álcool 
  • taquicardia supraventricular
  • infarto agudo do miocárdio
  • crise tireotóxica
  • síndrome serotoninérgica

Tratamento para crise de pânico

O tratamento se dá com a associação de psicofármacos com psicoterapia. Os medicamentos mais utilizados são: 

  • ISRS (sertralina, fluoxetina, paroxetina, escitalopram), 
  • venlafaxina, 
  • buspirona e 
  • tricíclicos. 

Bupropiona não é recomendada por aumentar a ansiedade e, consequentemente, a chance de novas crises de pânico.

Quando a pessoa tem crises com grande frequência, podem ser utilizados benzodiazepínicos, de preferência de meia-vida curta como alprazolam ou lorazepam. Não pode ser mais que 1 mês para evitar o desenvolvimento de dependência. 

Referências

Roy-Byrne PP, Craske MG, Stein MB. Panic disorder. The Lancet. 2006 Sep 16;368(9540):1023-32.

Locke AB, Kirst N, Shultz CG. Diagnosis and management of generalized anxiety disorder and panic disorder in adults. American family physician. 2015 May 1;91(9):617-24.

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