Medicina da Família e Comunidade

Definição, classificação e manejo da dispneia

Definição, classificação e manejo da dispneia

Compartilhar
Imagem de perfil de Sanar Pós Graduação

Tudo que você precisa saber sobre o manejo da dispneia em um só lugar. Acesse e confira a classificação, etiologia, diagnóstico e tratamento!

Antes de abordarmos o manejo da dispneia, deve-se lembrar que a American Thoracic Society (ATS) define dispneia como sensação subjetiva de desconforto respiratório que consiste em sensações qualitativamente distintas e que variam em intensidade.

A sensação, como já mencionado, é subjetiva e, por esse motivo, pode ser percebida de diferentes maneiras, como:

  • Sensação de aperto no peito;
  • Sufocamento;
  • Falta de ar;
  • Incapacidade de encher o pulmão de ar.

Principais etiologias da dispneia

A dispneia é um sintoma que está presente em diversas patologias, principalmente as associadas ao sistema respiratório e cardiovascular. Entretanto, exitem outras condições e doenças que o paciente também pode apresentá-la como queixa.

Dentre as principais causas mais frequentes da dispenia, temos:

Conhecendo a fisiopatologia para o manejo da dispneia

A fisiopatologia é muito importante para entendermos a forma como ocorre o problema e saúde e assim, poder porpor o tratamento.

A sensação da dispneia é produzida e modulada por estímulos de receptores do sistema respiratório. Existem algumas vias que estão envolvidas nesse processo. Confira a figura abaixo:

Principais vias envolvidas na sensação de dispneia. Fonte: Martins, et. al. 2021

Classificação

A dispneia pode ser classificada por diversas escalas, para se ter noção do grau e quanto a diversos fatores.

Classificação do grau da dispneia

Confira as classificações quanto ao grau da dispneia:

Escala Fletcher modificada utilizada pela American Thoracic Society

Escala de Fletcher. Fonte: Martins, et. al. 2021

Classificação MRC (Medical Research Council)

A classificação do órgão britânico MRC (Medical Research Council) parece ser a mais adequada para a avaliação da intensidade da dispneia. Visto que irá orientar como faremos o manejo da dispneia.

Figura1: Escala de dispneia do MRC.
Fonte: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132008001200005

Essa classificação é bastante usada quando a sua suspeita clínica vem de problemas respiratórios.

 O problema dessa classificação é que ela não é objetiva, e mesmo sendo muito utilizada, a MRC tem suas contraindicações, como por exemplo:

  • Esta escala tem como foco a dispneia associada a caminhadas, não permitindo uma uma avaliação multidimensional;
  • Ela não consegue  detectar alterações no nível da dispneia após a aplicação de uma terapia;
  •  Classificar  o grau de dispneia necessita de um mecanismo de perguntas e respostas, isso elimina os pacientes com limitação de compreensão e fala;
  • Não se pode avaliar pacientes com qualquer outra comorbidade pulmonar associada que causem limitações físicas , e nas suas atividades gerais;

Classificação de Borg

Outra escala bastante utilizada para avaliar a dispneia é a classificação de Borg:

  •  O: dispneia ausente;
  • 1-3: dispneia leve;
  • 4-6: dispneia moderada;
  • 7-9: dispneia moderadamente intensa;
  •  10: dispneia intensa.

Classificação de NYHA (New York Heart Association)

Esta é uma classificação para pacientes com Insufiência Cardíaca (IC).

Classificação de NYHA. Fonte: CardioPapers

Classificação quanto as causas de dispenia

Podem ser classificadas em Dispneia:

  • Psicogênica;
  • Cardíaca;
  • Pulmonar;
  • Descondicionamento.

Tipos de dispneia

Existem alguns tipos de dispneia. Confira:

Quanto ao decúbito do paciente

Quando ao decúbito do paciente, a dispneia pode ser de 4 tipos:

Ortopneia

Piora com o decúbito, aparece minutos após deitar, com frequência com o paciente ainda acordado,  normalmente sugere insuficiência cardíaca (IC), porém não é específica para esse diagnóstico .

Dispneia paroxística

A dispnéia paroxística noturna vai acontecer horas após o paciente deitar-se, surge na progressão de cardiopatias, e pode ser considerada específica da insuficiência cardíaca. 

Trepopneia

A trepopneia é a dispneia que surge quando o paciente se deita em decúbito lateral, porém não aparece quando o paciente está em decúbito lateral contralateral. Está relacionada a patologias como derrame pleural unilateral e doença parenquimatosa unilateral.

Platipneia

A platipneia é a dispneia que surge ao se sentar e melhora ao deitar, acomete os pacientes com shunts , devido a patologias cardíacas congênitas.

Quanto ao tempo de aparecimento

Ela pode ser 2 tipos:

Dispenia aguda

O tipo agudo é aquela que tem início súbito. Geralmente é uma manisfetação clínica de doenças graves, como:

  • Insuficiência cardíaca congestiva;
  • Asma;
  • DPOC.

Dispneia crônica

Considera-se dispneia crônica aquela que tem duração de mais de 1 mês. Segundo Martins et al. (2021),

dispneia é a sétima causa de procura de pacientes aos clínicos gerais, e representa a terceira queixa mais frequente de consultas ambulatoriais, somente superada por fadiga e lombalgia.

Geralmente elas estão associadas às seguintes patologias:

  • Asma;
  • DPOC;
  • Doenças Intersticiais;
  • Disfunções miocárdica;
  • Obsedidade ou descondiocionamento.

Manejo da dispneia

Descobrir qual a etiologia da dispneia é o primeiro passo para poder tratar o sintoma. Entretanto, para isso, é necessário fazer uma anamnese e uma exame clínico muito bem feitos.

Anamnese no manejo da dispneia

A história clínica precisa ser bem descrita. É preciso caracterizar bem a dispneia e os sintomas associados:

  • Caracterizar se a dispneia aparece em repouso ou ao realizar esforços – “o que você estava fazendo imediatamente antes do início da dispneia?”;
  • Tem dor no peito? palpitação associada?
  • Acontece depois de deitar? Ao deitar?
  • Usa travesseiro para dormir?

Além disso, é preciso questionar sempre sobre doenças prévias, histórico familiar, hábitos de vida, se realizou algum procedimento cirúrgico, etc.

Exame físico

Um exame físico completo precisa ser feito. Deve-se priorizar  sinais como:

  • Estridor;
  • Chiado
  • Crepitos;
  • Taquicardia;
  • Arritmia;
  • Murmúrios cardíacos;
  • Galope;
  • Edema periférico;
  • Fraqueza muscular;
  • Disfonia;
  • Evidência de doença reumática.

Exames complementares no manejo da dispenia

Caso a avaliação clínica não seja necessário para chegar a uma origem do diagnóstico, alguns exames podem ser utilizados a fim de colaborar com a construção do raciocínio clínico. São eles:

  • Radiografia de tórax;
  • Eletrocardiograma;
  • Espirometria;
  • Ecocardiograma;
  • Holter;
  • Hemograma;
  • Tomografia de tórax de alta resolução;
  • BNP ou NT pró-BNP;
  • Gasometria arterial;
  • TSH ou T4 livre;
  • Cintolografia pulmonar;
  • Teste ergométrico.

Avaliação da dispneia aguda

Quando a dispnéia aparece  de forma súbita é geralmente devido a patologias que necessitam de avaliação e tratamento urgentes.

 Os sinais que alertam para a necessidade de uma avaliação urgente incluem:

  • Frequência cardíaca >120 batidas/minuto,
  • Taxa respiratória >30 respirações/minuto
  • Saturação de oxigênio de pulso (SpO2) <90%
  • Uso de músculos respiratórios acessórios
  • Dificuldade para falar em frases completas
  • Estridor,
  • Sons de respiração assimétrica
  • Cianose.

Em pacientes com dispneia aguda que procuram o pronto-socorro, a medida do BNP ou NT-pró-BNP pode auxiliar no diagnóstico de dispneia de origem cardíaca.

Tratamento: manejo final da dispneia

O manejo da dispneia se inicia com o encaminhamento dos pacientes para a sala de emergência e aplicar as medidas iniciais de atendimento ao paciente grave: oxigênio suplementar ou intubação orotraqueal, se necessário.

O tratamento definitivo vai depender da doença de base que causa a dispnéia. Os pacientes asmáticos e que são portadores de  DPOC, são tratados com  broncodilatadores; já pacientes com IC são tratados com diuréticos e vasodilatadores.

Oxigênio suplementar é necessário em todos os pacientes com hipoxemia. Essa medida traz benefícios mais significativos para pacientes com PaO2 menor que 55 mmHg. Nos pacientes com doença pulmonar ou sistêmica que já está avançada, inicia-se a abordagem buscando os  fatores desencadeantes ou agravantes da dispneia. Quando não consegue instituir uma terapia para a doença de base ou houve falhas de tratamento, se faz uso do manejo paliativo.

Perguntas frequentes:

1 – Como classificar a dispneia?

Pela escala de dispneia do MRC: O: dispneia ausente; 1-3: dispneia leve; 4-6: dispneia moderada; 7-9: dispneia moderadamente intensa; 10: dispneia intensa.

2 – O que é trepopneia?

Trata-se de um sintoma que ocorre devido à doenças unilaterais pulmonares (derrame pleural ou doença parenquimatosa). Se caracteriza por dispneia ao decúbito lateral, porém ausência de sintoma na posição contralateral.

3 – Quais as etiologias da Dispepsia?Quais as etiologias da dispneia?

As principais etiologias tem origem cardíaca ou pulmonar. Ou seja, deve-se diferenciar pela história clínica e exame físico a presença de cor pulmonale, congestão pulmonar de DPOC, asma ou doenças intersticiais.

Sugestão de leitura complementar

Referências:

  1. AHMED, A. GRABER, M. A. Approach to the adult with dyspnea in the emergency department. UpToDate, 2022.
  2. DUDGEON, D. Assessment and management of dyspnea in palliative care. UpToDate, 2021.
  3. KOVELIS, D. et al. Validação do Modified Pulmonary Functional Status and Dyspnea Questionnaire e da escala do Medical Research Council para o uso em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica no Brasil. Artigos Originais • J. bras. pneumol. 34 (12) • Dez 2008 •
  4. MARTINS, M.A. et al. Semiologia clínica. 1ed. – Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2021.
  5. SCHWARTZTEINS, R.M. Approach to the patient with dyspnea. UpToDate, 2023.