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A desidrogenase láctica é também chamada de lactato desidrogenase, LDH e DHL. Esta enzima é muito utilizada para análise laboratorial de diversos pacientes.
Portanto, é de suma importância a compreensão sobre o papel desta, por que seus valores laboratoriais e o significado deste resultado podem ser alterados, sendo estes tópicos abordados no texto abaixo.
O que é a desidrogenase láctica?
Em casos de anaerobiose, o piruvato oriundo da glicólise pode sofrer fermentação láctica, visando à produção de energia na ausência de oxigênio. Assim, por meio desta via glicolítica, o piruvato é transformado em lactato, sendo esta reação catalisada pela enzima desidrogenase láctica (LDH), como ilustrado pela reação abaixo.
Devemos ressaltar que nas hemácias, células sem mitocôndrias e que, portanto, não podem realizar oxidação de piruvato até a formação de dióxido de carbono, a produção de ATP é realizada sempre via fermentação láctica, mesmo em regimes de aerobiose.

Quais são as isoformas da LDH e qual a diferença entre elas?
A enzima LDH está presente no meio intracelular de diversas células em diversos tecidos e órgãos e é constituída por quatro subunidades proteicas – as mais encontradas sendo LDH-M e LDH-H –, sendo, assim, considerada um tetrâmero.
Este tetrâmero pode originar cinco isoformas enzimáticas: HHHH (4H), MMMM (4M), HMMM (1H3M), HHMM (2H2M), HHHM (3H1M), sendo cada uma delas mais presente em um tipo específico de tecido, embora possuam atividade enzimática semelhante.
Sabemos que a isoforma 4M é mais presente em tecido muscular esquelético e no fígado, enquanto a isoforma 4H é mais presente em tecido muscular cardíaco e tecido cerebral, por exemplo, sendo estas isoformas mais relevantes.
Por que seu valor pode ser alterado em exames laboratoriais?
Pelo fato de a LDH ser encontrada em diversas células no meio intraplasmático, notamos aumento de seu nível quando existe lesão celular, de forma que esta enzima é liberada na corrente sanguínea, se tornando detectável em exames laboratoriais séricos. Portanto, o aumento do nível sérico total desta enzima indica lesão tecidual, porém, como dito anteriormente, a desidrogenase láctica está dispersa por diversos tecidos, o que torna seu uso pouco específico.
Para contornar a baixa especificidade deste resultado, podemos investigar os níveis séricos de suas isoformas, buscando definir com mais certeza o local de lesão que origina a elevação dos valores laboratoriais encontrados.
Um exemplo é a presença de aumento sérico total de LDH em quadros de IAM, nos quais é esperado aumento da isoforma 4H, também denominada LDH-1, por causa de danos às células musculares cardíacas.

Marcadores bioquímicos e o IAM
Em casos de IAM, é sabido que diversos marcadores bioquímicos podem ser empregados para diagnóstico deste quadro, dentre eles temos as troponinas, creatina-quinase, mioglobina e, por fim, a lactato desidrogenase.
Por conta da lesão de cardiomiócitos em decorrência da isquemia e necrose miocárdica encontrada nos IAMs e até mesmo em quadros de angina, ocorre a liberação de LDH na corrente sanguínea, elevando seus níveis séricos em 82 a 100% dos casos.
Como dito anteriormente, é valido ressaltar que a isoforma desta enzima que se encontrará mais elevada é a LSH-1, dado que é a mais presente nas células danificadas neste quadro. É importante salientar que este biomarcador passa a se elevar 12 a 16 horas após o evento, possuindo pico sérico após cerca de 48 horas e permanece elevada por 10 a 12 dias.

No entanto, não possui alta especificidade para a lesão miocárdica, assim não sendo o marcador mais empregado na prática médica, como visto na tabela abaixo.

LDH e COVID-19
Atualmente, com a pandemia causada pelo vírus SARS-Cov-2, diversos marcadores laboratoriais são explorados para diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com a infecção causada por este micro-organismo, a COVID-19. Sabemos que esta patologia possui transmissão por meio de contato com secreções respiratórias contaminadas, como gotículas liberadas por tosse, espirros e fala, além de que se manifesta, principalmente, de forma respiratória, dado que possui como principal alvo células epiteliais nasais e brônquicas, bem como pneumócitos.
A partir destas informações, é sabido que a infecção por este coronavírus desencadeia, além das demais reações, dano às células pulmonares, levando a diversas alterações laboratoriais. Uma das alterações bioquímicas é o aumento dos níveis de LDH, notada em 41% dos pacientes, sendo um marcador não apenas de lesão pulmonar, mas de falência de demais órgãos afetados pela infecção e suas consequências, como a tempestade de citocinas encontrada na fisiopatologia da doença.
Vale ressaltar também que, de acordo com uma matéria publicada no site NewsLab, pacientes internados em UTI por COVID-19 possuem níveis de LDH 2,1 vezes maiores que pacientes não internados sob cuidados intensivos com o mesmo diagnóstico, indicando assim gravidade da doença.
A partir destes dados, notamos a relevância deste marcador bioquímico no acompanhamento e prognóstico de pacientes diagnosticados com COVID-19 durante a pandemia que vivemos desde o início de 2020.
Conclusão
Resumidamente, a LDH é a enzima responsável por catalisar a reação de oxidação de piruvato em lactato em casos de anaerobiose e se distribui dor diversos tecidos, possuindo relevância clínica na detecção de lesões teciduais. Ademais, destaca-se que a análise laboratorial dos níveis séricos desta enzima em sua modalidade total é pouco específica, podendo se tornar mais específica por meio da análise sérica de suas isoformas, permitindo identificação mais detalhada do tecido.
Autora: Gabriela Saldes Campos Pereira
Estudante de Medicina do 7o semestre da PUC Campinas
Instagram: @gabisaldes
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

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Referências
https://www.gov.br/pt-br/servicos-estaduais/exame-laboratorial-dosagem-de-desidrogenase-latica
https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2020/11/funcao_muscular.pdf
Nelson, David L. Princípios de bioquímica de Lehninger [recurso eletrônico]/ David L. Nelson, Michael M. Cox; [tradução: Ana Beatriz Gorini da Veiga… et al.]; revisão técnica: Carlos Termignoni… [et al.]. – 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.
http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_3_tri_2011/RMCT_097_E5A_12.pdf
http://www.invitro.com.br/ldh.php
https://newslab.com.br/alteracoes-laboratoriais-mais-frequentes-em-pacientes-com-covid-19/