Coronavírus

Qual a relação entre a perda de memória e a covid longa?

Qual a relação entre a perda de memória e a covid longa?

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Estudos avaliam a relação entre a perda de memória e a covid longa. Em março de 2022, foi divulgado um estudo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que apontou que cerca de 70% dos pacientes que tiveram covid longa têm dificuldades de concentração e problemas de memória vários meses depois da infecção. O material saiu na Revista Frontiers in Aging Neuroscience. 

Segundo o estudo, os indivíduos que demoraram mais tempo para se curar da infecção tiveram o desempenho pior nos testes cognitivos. 

O programa Globo Repórter desta sexta-feira(13/05) vai trazer informações sobre esse estudo da perda de memória associada aos casos de covid longa com comentários de neurologistas. Também serão abordados os mistérios da memória. Exemplos que falados no programa, o que leva pessoas com mais de 80 anos a ter uma ótima memória e ainda o que faz os garçons gravarem vários pedidos.

Vamos ao estudo?

Perda de memória e a covid longa: como foi realizado o estudo? 

O estudo contou com a participação de 421 pessoas com 18 anos ou mais. Essas pessoas foram recrutadas através do boca a boca, sociedades estudantis e plataformas de mídia online/social. 

A maioria dos envolvidos foram países de língua inglesa. Do total, 181 tiveram a Covid-19 (65 confirmados por teste, 96 suspeitos) e 185 (118 mulheres) não. 

Outros 55 tinham status de infecção “desconhecido”. Eles achavam que não tinham tido a doença, mas tiveram algum episódio que poderia ter sido covid.

Do total que teve covid, 42 se recuperaram durante o estudo. 53 continuaram a apresentar sintomas contínuos leves ou moderados. 66 apresentaram sintomas contínuos graves. Os outros 20 participantes estavam muito cedo na doença para indicar sintomas em andamento. A

Os participantes precisaram responder um questionário para cobertura de dados demográficos, saúde anterior e experiência com a Covid-19. Em seguida, os participantes da pesquisa passaram por testes cognitivos. 

Na etapa do questionário, havia perguntas relacionadas à: 

  • idade
  • sexo
  • nível de escolaridade
  • país de residência permanente
  • etnia 
  • profissão
  • histórico médico
  • comportamentos relacionados à saúde (como tabagismo e exercícios)

Eles também precisaram responder perguntas sobre a experiência com a infecção em detalhes – desde o resultado positivo ou não para doença até a gravidade dos sintomas. 

Já os testes cognitivos consistiam em seis tarefas cognitivas. Os testes realizados foram de:  

  • Memória de Reconhecimento de Lista de Palavras
  • Memória Associativa Pictórica 
  • Categoria Teste de Fluência 
  • Rotação Mental
  • Classificação de cartões de Wisconsin 
  • Contagem de números 
  • Raciocínio Relacional

Como foi feito o processamento e análise dos dados coletados? 

Os pesquisados fizeram suas análises utilizando o IBM SPSS Statistics for Windows, versão 232 . Eles descreveram variáveis quantitativas usando médias e desvios padrão, e números e porcentagens para variáveis qualitativas. 

Devido ao elevado número de variáveis de teste cognitivo, os pesquisados as reduziram por meio de análise fatorial para produzir 4 fatores representando Funções Executivas (Desempenho), Funções Executivas (Tempo de Reação), Memória e Fluência de Categoria.

Assim, os estudiosos conseguiram ter uma visão geral do padrão de desempenho cognitivo e também das variáveis individuais. 

Para chegar aos resultados, os participantes foram divididos em dois grupos (Covid/Sem Covid) para observar diferenças no desempenho cognitivo. 

Depois, o grupo Covid foi subdividido pela longevidade e gravidade dos sintomas (Recuperado, Infecção leve/moderada em andamento e Infecção grave em andamento ).

Perda de memória e a covid: quais foram os resultados do estudo? 

Com base nos dados do estudo, a infecção por Covid-19, independente dos sintomas, foi associada ao desempenho reduzido em tarefas relacionadas à memória. Os participantes precisaram de mais tempo para realizar uma tarefa de memória verbal, de lista de palavras e memória associativa. 

Ao olhar pelo viés de participantes que tiveram covid com sintomas contínuos graves, eles também tiveram dificuldade com tarefas relacionadas à memória. O desempenho ainda chegou a ser pior. 

Mais da metade dos participantes relataram dificuldade de concentração, confusão mental, esquecimento, problemas para encontrar a palavra certa na fala. 

Esses sintomas pontuados por eles refletiu no resultado dos testes, onde os pacientes apresentaram uma capacidade significativamente menor de lembrar vocábulos e imagens.

Para entender a causa dos problemas cognitivos relatados, os estudiosos avaliaram outros sintomas que poderiam ter relação. Foi observado que os participantes que apresentaram fadiga e sintomas neurológicos, como tontura e dor de cabeça, durante a doença inicial, eram mais propensos a apresentar problemas cognitivos no longo prazo. 

Além disso, também foi constatado que pessoas que tiveram sequelas no sistema nervoso central se saíram mal nos testes cognitivos. Clique aqui para ler o estudo completo. 

Perguntas frequentes sobre covid longa 

1- Quais são os sintomas da covid longa? 

Os sintomas duradouros da infecção não necessariamente estão ligados à gravidade da doença e eles podem variar para cada indivíduo.

Porém, com base em dados da OMS, os sintomas mais comuns da covid longa são fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva. 

Os pacientes também podem apresentar alterações neurocognitivas duradouras, dificuldade de concentração, depressão, alterações no sono, entre outras complicações. 

Há relatos também de pacientes com perda de olfato, espirros frequentes, dificuldade de ejaculação, redução na libido, dor torárica, entre outros. 

2- Há tratamento para os sintomas persistentes da covid longa? 

Cada indivíduo pode demandar um tratamento diferente. Mas, em entrevista ao Globo Esporte, o cardiologista Mateus Freitas reforçou que o exercício físico está entre os principais itens da prescrição. 

“A forma e a intensidade sempre são discutidas individualmente. Recomendamos, a princípio, que se inicie de forma leve a moderada, respeite períodos de descanso mais longos, privilegie exercícios de grandes grupamentos e sempre faça exercícios de resistência associados a aeróbicos”, pontuou o especialista.   

É importante pontuar que o retorno às atividades físicas e a forma de fazer isso depende da gravidade da doença. 

Para pessoas assintomáticas ou de sintomas leves, o retorno (após o tempo de isolamento) pode ser imediato, mas deve ocorrer de forma gradual. 

A depender da gravidade do caso e do grau das sequelas é orientado que os exercícios sejam realizados em centros de reabilitação e de forma multidisciplinar. 

Fontes: COVCOG 2: Déficits Cognitivos e de Memória em Longo COVID: Uma Segunda Publicação do Estudo COVID e Cognição |Ministério da Saúde | Reportagem com o Dr. Mateus Freitas Teixeira é médico cardiologista e do esporte para o Globo Esporte.

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