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A diretriz sobre abuso e dependência de Benzodiazepínicos, comentada aqui, foi desenvolvida em 2016 pela Associação Médica Brasileira em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria.
Estudos abordados no texto afirmam que os benzodiazepínicos são responsáveis por 50% de toda a prescrição de psicotrópicos, e seu uso crônico está associado a inúmeros casos de desenvolvimento de tolerância, dependência e síndrome de abstinência.
A diretriz desenvolvida pela ABP, que pode ser encontrada no site da AMB foi criada com o objetivo de auxiliar o raciocínio e a tomada de decisão em situações que envolvam a prescrição desses medicamentos.
Epidemiologia/Etiologia
Os Benzodiazepínicos são psicofármacos que possuem considerável eficácia no controle da ansiedade, e são comumente utilizados como co-adjuvantes na farmacoterapia de diversos transtornos psiquiátricos como Transtornos de Ansiedade, Psicóticos, do Sono, na Depressão, na Mania, e na Síndrome de Abstinência Alcoólica, Cocaína e de outras drogas psicotrópicas.
Estima-se que a prevalência do uso de BZD na população brasileira seja de 5,6% a 21% da população geral, sendo responsáveis por cerca de 50% de toda a prescrição de psicotrópicos.
O risco de desenvolvimento de dependência é alto e, por isso, deve ser um medicamento utilizado sob cuidados médicos e após uma avaliação do seu custo/benefício, incluindo dose e tempo de uso, uma vez que deve-se evitar utilizá-los por um período superior a três meses.
Sobre o uso dos Benzodiazepínicos
São conhecidos os benefícios dos BZD para tratamento, principalmente em curto prazo, de doenças crônicas como insônia e ansiedade, ou alívio sintomático de dispneias em doenças pulmonares obstrutivas crônicas e em pacientes com câncer avançado.
Seu uso prolongado, entretanto, não é recomendável pelos efeitos adversos, riscos de tolerância e de dependência, além dos riscos aumentados de alterações cognitivas, quedas com possíveis fraturas e acidentes de tráfego.
Uma prática frequente é a utilização de BZDs durante o período de início dos efeitos ansiolíticos e/ou antidepressivos dos agentes antidepressivos. Tal uso concentra-se no primeiro mês e, a partir daí, dá-se uma retirada gradual, porém rápida do BZD, que é feita, de preferência, no tempo de 1 a 2 semanas.
O tempo de uso irá depender dos sintomas a serem tratados: para casos de insônia, o uso deve ser restrito há alguns dias, alternados ou não, e não deve ultrapassar duas semanas, já para o tratamento de ansiedade, o ideal é o uso concomitante com antidepressivos e tratamento psicoterápico.
As indicações para o uso de BZDs incluem reação aguda a estresse, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico com ou sem agorafobia.
Diferentemente do que muitos pensam, os benzodiazepínicos são ineficazes para o tratamento da insônia crônica em longo prazo, pois levam a uma série de alterações da arquitetura do sono, especialmente no uso crônico, o que contraindica seu uso para este propósito.
A Síndrome de Dependência dos Benzodiazepínicos
A síndrome de dependência de BZD deve ser investigada em todos os pacientes que façam uso da medicação. É importante a constante análise das indicações para a continuidade do tratamento, uma vez que a síndrome de dependência pode ocorrer em doses próximas à terapêutica.
Entre os fatores de risco relacionados ao potencial de abuso e dependência dos benzodiazepínicos, cita-se o fator genético, pacientes que apresentam transtornos mentais, pessoas com problemas por uso de outras substâncias psicoativas, como álcool e outras drogas, mulheres acima de 50 anos e pessoas com insônia ou outros transtornos do sono mal identificados e tratados. Além disso, quanto maior o tempo de uso, maior o risco de desenvolvimento de tolerância.
O quadro da dependência por esses medicamentos possui peculiaridades, uma vez que por terem seu uso muitas vezes incentivado e mantido pelos próprios profissionais de saúde, alguns fenômenos comuns à síndrome de dependência de outras substâncias podem não estar tão evidentes, o que é somado ao fato de que, muitas vezes, é uma dependência que ocorre em doses próximas à terapêutica, dificultando a percepção de que há um uso problemático da droga.
Frente à isso, torna-se de grande importância orientar o paciente para reconhecer a dependência e os sintomas de abstinência, além disso, é preciso treinamento adequado para melhor reconhecimento dos casos em que o uso do BZD não está bem indicado, nos casos em que o paciente faz uso não-médico dos BZDs (especialmente por meio de auto-diagnóstico e auto-medicação) e, finalmente, em pacientes que apresentam sintomas clínicos da abstinência.
Os sintomas da síndrome de abstinência variam em gravidade a depender do tipo de medicamento utilizado, dose, da presença de transtornos mentais subjacentes, os mais frequentes são insônia, irritabilidade, ansiedade, fotossensibilidade e desejo de consumir a substância (craving). Em casos mais graves, sintomas como despersonalização, desrealização e crises convulsivas podem ocorrer.
A evolução da síndrome de abstinência ocorre a partir de 24 a 72 horas da retirada da substância, a depender da meia-vida, e dura em média uma a duas semanas.
Alguns pacientes que fazem uso de longa data podem apresentar um quadro de síndrome de abstinência protraída, que pode durar alguns meses, com permanência de dificuldades cognitivas, ansiedade, irritabilidade e alterações de humor menores.
A Intoxicação aguda
A intoxicação aguda de BDZ se caracteriza por sintomas como redução da atenção, amnésia anterógrada, confusão mental e prejuízo da coordenação e psicomotricidade.
Embora geralmente seguros, em doses elevadas os BDZs podem causar depressão e parada respiratória por ação central, particularmente em pacientes com problemas respiratórios de base, tais como bronquite e enfisema (que estão fortemente associados ao tabagismo) ou aqueles que sofrem de apneia do sono.
Em caso de intoxicação, o paciente deve ser encaminhado para serviço de emergência para avaliação criteriosa da condição respiratória e possibilidade de reversão com flumazenil.
A tolerância
O tempo para desenvolvimento de tolerância aos BDZs varia enormemente de indivíduo para indivíduo, mas em geral a tolerância para os efeitos hipnóticos e sedativos aparece mais precocemente do que a tolerância para os efeitos ansiolíticos e cognitivos.
Outra preocupação relacionada ao seu uso é o frequente envolvimento deste fármaco em tentativas de suicídio, o que também deve ser levado em consideração, especialmente em pacientes com transtornos mentais não diagnosticados e tratados corretamente.
Autores, revisores e orientadores:
Autor(a) : Ana Luiza Silva Teles – @lulilmp
Revisor(a): Ana Luiza Antony Gomes de Matos da Costa e Silva – @analuizantony
Orientador(a): Lair da Silva Gonçalves
O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de Ligas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
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Referências:
ABUSO E DEPENDÊNCIA DE BENZODIAZEPÍNICOS. Diretrizes AMB, 2016. Disponível em: < https://diretrizes.amb.org.br/acupuntura/abuso-e-dependencia-de-benzodiazepinicos/ >. Acesso em: 09, maio de 2021.