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Distúrbios respiratórios do recém-nascido, como diferenciar?

Distúrbios respiratórios do recém-nascido, como diferenciar?

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Desenvolvimento do sistema respiratório:

A origem do sistema respiratório é dos arcos braquiais, que por volta da 4ª semana formam o sulco laringotraqueal.

Os movimentos respiratórios fetais se iniciam por volta da 11ª semana, e gradativamente ocorre a mudança anatomopatológica dos pulmões, que envolve quatro fases: embrionária, pseudoglandular, canalicular e saco terminal.

A fase do saco terminal se inicia na 23ª semana e ocorre até o término da gestação, sendo responsável pela diferenciação dos pneumócitos tipo I e tipo II. Os pneumócitos I são macrófagos alveolares, enquanto os pneumócitos II reduzem a tensão superficial.

Nos pulmões do feto próximo ao termo, ocorre a transição do epitélio pulmonar, que passa a absorver sódio, promovendo um “drive” de líquido de dentro dos alvéolos em direção ao interstício pulmonar, de onde será absorvido pelos vasos sanguíneos.

O parto natural também é importante para o desenvolvimento do sistema, uma vez que as compressões exercidas sobre a caixa torácica durante a passagem pelo canal de parto auxiliam na remoção do líquido de dentro do pulmão.

Ademais, os hormônios (catecolaminas, glicocorticoides, vasopressina e prolactina) produzidos pelo feto estimulam a modificação do epitélio secretor para absortivo.

Doenças respiratórias neonatais mais prevalentes:

O avanço da tecnologia médica permitiu que os recém-nascidos prematuros tenham mais chances de sobreviver as consequências da imaturidade, porém como consequência houve um aumento nas patologias relacionadas ao desenvolvimento imaturo do sistema respiratório.

A doença da membrana hialina ocorre por conta da deficiência do surfactante pulmonar, enquanto na síndrome da aspiração meconial há um sofrimento fetal intra-útero, e consequentemente liberação de mecônio (que apresenta alterações obstrutivas e inflamatórias).

Já a taquipneia transitória do recém-nascido tem sua fisiopatologia discutida, porém três fatores estão associados: deficiência leve de surfactante, pequeno grau de imaturidade pulmonar e retardo na absorção de líquido pulmonar fetal.

Clínica:

Na doença da membrana hialina, logo ao nascimento o neonato prematuro apresenta disfunção respiratória, com: apneia ou taquipneia, batimento de asa de nariz, retração intercostal, retração xifoide, estridor expiratório, gemência respiratória e cianose.

Estes sinais e sintomas podem ser analisados pelo Boletim de Silverman Andersen para classificar a disfunção em leve, moderada ou grave. Além disso, pode ocorrer diminuição da perfusão, oligúria e edema periférico. Na ausculta pulmonar há diminuição do múrmurio vesicular e presença de ruídos.

Boletim de Silverman Andersen

Na síndrome da aspiração meconial, o feto com mais de 34 semanas nasce com uma disfunção respiratória e com a impregnação de mecônio pelo corpo; é observado que durante o trabalho de parto houve sofrimento fetal, como asfixia.  Na gasometria há hipoxemia, hipercapnia e acidose.

A taquipneia transitória geralmente é autolimita e benigna, com evolução favorável em até 72 horas após o nascimento. Se manifesta como taquipneia logo após o nascimento; na gasometria arterial é encontrado leve a moderada hipocapnia.

Radiografia de tórax:

Doença da membrana hialina: padrão reticulogranular difuso, broncogramas aéreos, diminuição de volume pulmonar, imagem em “vidro moído”.

Doença da membrana hialina no RN

Síndrome da aspiração meconial: hiperinsuflação, condensações grosseiras bilaterais.

Síndrome da aspiração meconial no RN

Taquipneia transitória: desenho vascular aumentado, hilo congesto, líquido na cissura; as vezes derrame pleural.

Taquipneia transitória no RN

Complicações dos distúrbios respiratórios no RN:

Doença da membrana hialina: escapes aéreos, infecção pulmonar, hemorragia pulmonar, hemorragia intracraniana, displasia broncopulmonar, retinopatia da prematuridade.

Síndrome da aspiração meconial: escapes aéreos, pneumotórax, pneumomediastino, infecção bacteriana secundária.

Taquipneia transitória: escapes aéreos, derrame pleural.

Conclusão:

Diante do exposto, é possível afirmar que as doenças apresentam clínicas semelhantes, porém com intensidades de manifestação diferentes. Além disso, através da correta análise da radiografia de tórax é possível distinguir as doenças.

O passo inicial para o tratamento e prevenção de complicações envolve as medidas gerais de alimentação, temperatura, imunização, hidratação, equilíbrio hidroeletrolítico, suporte respiratório necessário e monitorização de oximetria e gasometria.

Na doença da membrana hialina, é importante administrar surfactante exógeno e na síndrome da aspiração meconial aspirar as vias aéreas.

Autores, revisores e orientadores:

  • Liga Acadêmica de Pediatria – Universidade Anhembi Morumbi (LAPED – UAM);
  • Perfil do Instagram da liga: laped.uam
  • Nome do autor: Caroline Lima Claro;
  • Nome do revisor: Marília Machado;
  • Médica orientadora da liga: Cássia Maria Carvalho Abrantes do Amaral.

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