A avaliação do desenvolvimento da criança é de suma importância para uma infância saudável. Haja vista que a identificação de algumas alterações no padrão esperado para a idade de cada uma permite que intervenções precoces sejam feitas e o resultado seja o melhor possível, isto é, a reversão ou a diminuição de um prejuízo no desenvolvimento neuropsicomotor da criança.
Nesse contexto, as aquisições motoras da criança começam a ser avaliadas já no recém-nascido, o qual apresenta uma série de reflexos motores primitivos.
1. Maturação do Sistema Nervoso Central
Os reflexos primitivos do recém-nascido possuem um padrão muito imaturo de caráter automático e refletem a maturação do sistema nervoso central (SNC), que é quando as estruturas neurológicas mais recentes vão se tornando funcionais à medida em que há o processo de mielinização, arborização e formação de novas sinapses.
Tais reflexos são considerados fisiológicos nos primeiros meses de vida e desaparecem ou são substituídos por movimentos voluntários (por volta dos seis meses), ou seja, o bebê passa a apresentar respostas controladas corticalmente ao invés de respostas reflexas do tronco encefálico.
Sendo assim, tanto a ausência inicial quanto a persistência tardia desses reflexos podem indicar alguma patologia neurológica pelo fato da maturação do SNC não ter sido alcançada por completo, como ocorre na paralisia infantil, ou podem até reaparecer na vida adulta em algumas doenças neurológicas, sobretudo naquelas que acometem o lobo frontal.
Além disso, é válido ressaltar que a maturação do SNC não só inibe os reflexos primitivos do recém-nascido, mas também permite o desenvolvimento intelectual, sensorial e da atividade reflexa postural de forma integrada, o que torna ainda mais importante o acompanhamento do bebê a fim de constatar a evolução e desenvolvimento esperados.
2. Avaliação dos reflexos
A avaliação das aquisições motoras envolve alguns reflexos principais, como o reflexo de Moro e outros reflexos primitivos do recém-nascido, cujas presenças ou ausências devem ser interpretadas em conjunto para que não haja nenhum equívoco.
2.1. Reflexo de Moro
Ao ser colocada em posição supina, a cabeça da criança é suspensa com suporte pelo examinador, levantando também o corpo da criança minimamente. Num movimento súbito, o examinador solta a criança, simulando uma queda e presenciando o reflexo de Moro em condições normais, mas logo em seguida já sustenta a cabeça da criança novamente.
Durante o reflexo de Moro, observa-se uma abdução e extensão dos membros superiores com abertura das mãos seguida de uma adução e flexão cruzada destes membros. Esse reflexo primitivo, que avalia a cintura escapular da criança, desaparece e tende a se integrar por volta do 5º ou 6º mês de vida do bebê, não devendo persistir no segundo semestre.

2.2. Reflexo tônico-cervical (assimétrico)
Ao ser colocada em posição supina, a cabeça da criança deve ser rotacionada em 90° para um dos lados pelo examinador e assim permanecer durante 15 segundos.
O reflexo tônico-cervical assimétrico será perceptível pela extensão ipsilateral (à rotação) dos membros superior e inferior e flexão contralateral (do lado occipital) dos membros superior e inferior.
Esse reflexo primitivo, também conhecido como reflexo do esgrimista ou reação de Magnus-Kleijn, pode indicar algum comprometimento neural caso seja exagerado ou se torne persistente, isto é, ultrapasse o terceiro mês de vida. E, assim como o reflexo de Moro, o reflexo tônico-cervical assimétrico não deve estar presente do segundo semestre de vida.

2.3. Preensão palmar e plantar
Para avaliar o reflexo de preensão palmar, o examinador deve posicionar o dedo index na palma da mão da criança, obtendo como resposta a flexão dos dedos. Já o reflexo de preensão plantar é avaliado com o examinador colocando o polegar na planta do pé do bebê, logo abaixo os dedos, observando também a flexão dos mesmos.
Ambos os reflexos são substituídos por ações voluntárias. No entanto, o reflexo da preensão palmar desaparece entre 4 e 6 meses, enquanto o reflexo da preensão plantar desaparece por volta dos 15 meses de vida.

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2.4. Reflexo cutâneo-plantar
A fim de avaliar o reflexo cutâneo-plantar, o examinador deve estimular a porção lateral do pé da criança, no sentido proximal-distal.
Após realizar esse movimento, será observada a extensão do hálux que, apesar de ser um indicativo de lesão neurológica no adulto, é considerado normal na criança até os 18 meses de vida.

2.5. Reflexo da marcha reflexa
Para verificação da marcha reflexa, o avaliador deve segurar e suspender a criança pelo tronco, mas permitindo que ela toque os pés em uma superfície.
O reflexo será obtido com a inclinação do corpo da criança após obter o apoio plantar, estando presente já nos primeiros dias de vida e desaparecendo entre a 4ª e 8ª semana de vida da criança.
2.6. Reflexo da voracidade
Para avaliar o reflexo da voracidade, que também é chamado de reflexo dos pontos cardeais ou da busca, o examinador deve tocar a região perioral da criança.
O que fará com que ela vire a cabeça em direção ao estímulo, abrindo a boca e realizando uma tentativa de sucção com protrusão da língua.
Por anteceder a pega correta, esse reflexo é extremamente importante para a amamentação. Ainda assim, espera-se que ele desapareça por volta dos 4 meses de vida.
2.7. Reflexo de sucção
O reflexo de sucção está intimamente relacionado com o reflexo da voracidade, mas pode ser avaliado individualmente com a presença de um estímulo tátil nos lábios ou a inserção de um objeto na boca da criança, como uma chupeta ou o próprio dedo do examinador.
Seu desaparecimento se dá por volta dos dois meses de vida e, ainda que sua ausência possa indicar uma lesão neurológica grave, alterações no reflexo de sucção são muito inespecíficas.
2.8. Reflexo de Galant
Ao verificar o reflexo de Galant, a criança deve estar em decúbito ventral, suspenso pelo examinador ou não, o qual deve realizar um estímulo tátil na região dorso-lateral da criança.
Com isso, tanto o quadril quanto o tronco da mesma se direcionarão para o lado no qual ocorreu o estímulo, ou seja, será observado um encurtamento do tronco ipsilateral.
Realizando esta manobra, que desaparece por volta dos 2 meses de vida, o examinador conseguirá avaliar a cintura pélvica da criança.

Autora: Giovana Melo Faria
Instagram: @giovanamelof
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