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Ectoparasitoses: como manejar pediculose e escabiose?

Ectoparasitoses: como manejar pediculose e escabiose?

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Ectoparasitoses: tudo o que você precisa saber para sua prática clínica!

As ectoparasitoses são doenças causadas por parasitas externos que vivem e se reproduzem na superfície do corpo humano. Duas das ectoparasitoses mais comuns são as pediculoses, causadas por piolhos e lêndeas, e a escabiose, causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei.

No caso das pediculoses, estudos mostram que a prevalência pode ser relativamente alta em crianças em idade escolar, especialmente em áreas urbanas e comunidades com condições socioeconômicas desfavoráveis. A escabiose também é um problema de saúde pública, especialmente em populações vulneráveis e áreas com condições de vida precárias.

Qual a fisiopatologia das ectoparasitoses?

A fisiopatologia das ectoparasitoses, como as pediculoses e a escabiose, está relacionada às interações entre os parasitas e o hospedeiro humano. Cada uma dessas condições tem características específicas em termos de como os parasitas se estabelecem, se reproduzem e causam danos ao organismo humano.

Na pediculose, os piolhos são os parasitas responsáveis pela infestação. Esses insetos se alimentam do sangue humano e vivem na superfície da pele ou no couro cabeludo, dependendo da espécie. As fêmeas adultas do piolho depositam seus ovos, conhecidos como lêndeas, no cabelo ou na base dos pelos. A fisiopatologia da pediculose está relacionada principalmente às reações alérgicas e à inflamação causadas pela saliva do piolho, que é injetada durante a alimentação. Isso pode levar a coceira intensa, irritação do couro cabeludo ou da pele e, em casos graves, infecções secundárias devido ao arranhamento e à quebra da barreira cutânea.

Na escabiose, o ácaro Sarcoptes scabiei é o agente causador da infestação. A fisiopatologia da escabiose envolve a escavação de túneis na camada superficial da pele pela fêmea do ácaro. Esses túneis são usados para colocar seus ovos.

Quais as manifestações clínicas da pediculose?

A pediculose, causada pelos piolhos humanos (Pediculus humanus var. capitis e P. humanus var. corporis), pode apresentar diferentes manifestações clínicas dependendo da área infestada.

As principais manifestações clínicas da pediculose do couro cabeludo incluem:

  • Coceira intensa no couro cabeludo
  • Sensação de algo se movendo no cabelo
  • Lesões na pele causadas pelo ato de coçar, podendo resultar em feridas, crostas ou infecções secundárias
  • Presença de lêndeas (ovos dos piolhos) aderidas aos fios de cabelo, geralmente próximas ao couro cabeludo. As lêndeas são pequenas, ovais e de cor branca ou cinza

Já quando a pediculose é do corpo (Pediculosis corporis), os principais sintomas são:

  • Coceira intensa na pele
  • Lesões cutâneas semelhantes a pequenas manchas vermelhas, que podem se tornar mais evidentes à medida que a infestação se agrava
  • As lesões podem ser mais comuns em áreas de maior atrito com as roupas, como axilas, região inguinal e tronco.

É importante ressaltar que a coceira é o sintoma mais comum e característico da pediculose em geral. A intensidade da coceira pode variar de pessoa para pessoa e pode ser mais intensa à noite, quando os piolhos estão mais ativos.

Além disso, é possível que ocorram complicações secundárias devido ao ato de coçar, como infecções bacterianas da pele, devido a lesões cutâneas resultantes da coceira persistente. Essas infecções secundárias podem se apresentar como feridas, pústulas ou crostas.

Quais os fatores de risco para o desenvolvimento da pediculose?

Vários fatores de risco podem contribuir para o desenvolvimento da pediculose. Esses fatores incluem:

  • Contato próximo com uma pessoa infestada
  • Ambientes de alta densidade populacional
  • Condições socioeconômicas desfavoráveis
  • Crianças em idade escolar: as crianças em idade escolar estão mais suscetíveis à pediculose devido ao contato próximo com outras crianças infestadas em ambientes escolares
  • Compartilhamento de objetos pessoais
  • Cabelos longos: piolhos tendem a se agarrar melhor a cabelos longos do que a cabelos curtos
  • Falta de conhecimento e educação sobre prevenção

Embora esses fatores aumentem o risco de desenvolver pediculose, é importante notar que qualquer pessoa pode ser suscetível à infestação de piolhos, independentemente de idade, gênero, status socioeconômico ou nível de higiene.

Como manejar um paciente com pediculose?

O manejo de um paciente com pediculose envolve uma abordagem abrangente que inclui tratamento adequado, medidas de controle ambiental e educação do paciente e seus contatos próximos.

O tratamento adequado da pediculose envolve o uso de medicamentos O tratamento de escolha da pediculose (piolho) é feito com permetrina 1% (emulsão ou loção 60 mL).

Orienta-se o seguinte procedimento para o manejo da pediculose utilizando permetrina:

  1. Lavar os cabelos com shampoo normal, evitando o uso de condicionador. Em seguida, secá-los com uma toalha
  2. Com os cabelos quase secos, aplica-se o produto contendo permetrina nos cabelos e no couro cabeludo.
  3. Deixa-se o produto agir por cerca de 10 minutos.
  4. Orienta-se enxague do cabelo com água morna para remover completamente o produto
  5. Não se deve lavar o cabelo nas próximas 24 a 48 horas após a aplicação do produto. Isso ajuda a garantir a eficácia do tratamento.
  6. O tratamento deve ser repetido no 9º dia para garantir a eliminação completa dos piolhos e lêndeas remanescentes

Após o tratamento, é importante remover as lêndeas aderidas aos fios de cabelo. Isso pode ser feito com o uso de um pente fino para piolhos, que geralmente é fornecido com os produtos de tratamento.

Quais as manifestações clínicas da escabiose?

A escabiose, também conhecida como sarna, apresenta uma variedade de manifestações clínicas.

Coceira

A coceira é o sintoma mais comum e característico da escabiose. Esse sintoma pode ser especialmente intensa à noite e piorar após o banho quente.

A coceira ocorre devido à reação alérgica às substâncias irritantes e alergênicas produzidas pelos ácaros escabiosos.

Lesões cutâneas

As lesões cutâneas na escabiose podem variar em aparência e distribuição. Alguns dos tipos de lesões cutâneas observadas incluem:

  • Pápulas: pequenas elevações na pele, que podem ser de cor avermelhada
  • Vesículas: pequenas bolhas que podem conter líquido claro.
  • Pústulas: lesões com pus
  • Crostas: áreas de pele seca, espessa e com crostas devido ao processo inflamatório

Túneis e sulcos

Nas formas mais avançadas da escabiose, é possível observar túneis sinuosos e sulcos na pele, especialmente nos espaços entre os dedos, pulsos, cotovelos, axilas, genitais e áreas de dobras da pele.

Esses túneis são criados pelas fêmeas dos ácaros escabiosos quando escavam a pele para depositar seus ovos.

Escabiose – Widoctor
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Infecções secundárias

A coceira intensa e o ato de coçar podem levar a lesões na pele, que podem se tornar infectadas por bactérias secundárias. Isso pode resultar em piora das lesões e aumento do desconforto.

Quais os tipos de escabiose?

Existem diferentes tipos de escabiose, que variam em termos de apresentação clínica e gravidade.

Escabiose comum

Também conhecida como escabiose clássica, é o tipo mais comum de escabiose.

Caracteriza-se por coceira intensa e erupções cutâneas com pequenas vesículas ou pápulas, geralmente localizadas em áreas como pulsos, dedos, axilas, genitais e áreas de dobras da pele.

Escabiose nodular

É uma forma menos comum da escabiose, caracterizada pelo desenvolvimento de nódulos endurecidos, inflamados e dolorosos na pele.

Esses nódulos podem ocorrer em várias partes do corpo e são uma resposta inflamatória mais intensa aos ácaros.

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Escabiose crostosa ou norueguesa

É uma forma mais grave de escabiose, caracterizada por uma infestação maciça de ácaros na pele.

Apresenta-se com crostas grossas, espessas e escamosas que cobrem grandes áreas do corpo, como couro cabeludo, rosto, tronco, mãos e pés. Geralmente é observada em indivíduos imunocomprometidos, como aqueles com HIV/AIDS ou doenças do sistema imunológico.

Como é a escabiose em crianças?

É importante observar que as manifestações clínicas da escabiose podem variar de pessoa para pessoa e dependem da resposta imunológica individual, da gravidade da infestação e de outros fatores.

Em crianças pequenas, as lesões cutâneas podem ser mais difíceis de serem observadas devido à pele mais sensível e à dificuldade em expressar a sensação de coceira.

Diagnóstico da escabiose

O diagnóstico da escabiose é realizado através de uma avaliação clínica e, em alguns casos, com auxílio de exames complementares.

O diagnóstico é baseado na

  • História clínica do paciente
  • Sinais e sintomas apresentados
  • Identificação dos ácaros, seus ovos ou detritos microscópicos na pele.

Durante o exame físico o médico deverá examinar a pele do paciente, procurando por lesões cutâneas características.

Como manejar um paciente com escabiose?

O manejo adequado de um paciente com escabiose é fundamental para aliviar os sintomas e prevenir a disseminação da infecção.

O tratamento recomendado para a escabiose é o uso de escabicidas tópicos ou orais, sendo a permetrina o fármaco preferido.

Em crianças maiores e adultos, a aplicação de permetrina ou lindano em todo o corpo, do pescoço para baixo, é indicada, removendo-os com água após 8 a 14 horas. A permetrina é geralmente preferível, pois o lindano pode ter efeitos neurotóxicos. O tratamento deve ser repetido após 7 dias.

Em neonatos e crianças menores, a permetrina é aplicada apenas na cabeça e no pescoço, evitando as áreas periorbitais e periorais. Deve-se ter atenção especial às áreas de dobras de pele, unhas das mãos, pés e umbigo. O uso de luvas em crianças pode ajudar a evitar a ingestão de permetrina. O lindano não é recomendado para crianças com menos de 2 anos ou para pacientes com distúrbios epilépticos, devido ao seu potencial efeito neurotóxico.

A ivermectina é indicada para pacientes que não respondem ao tratamento tópico, não seguem as orientações locais ou são imunossuprimidos, especialmente na presença de sarna norueguesa. Ela tem sido usada com sucesso em epidemias onde há contato íntimo, como em casas de repouso.

É importante tratar simultaneamente os contatos íntimos e lavar itens pessoais, como toalhas, roupas normais e roupas de cama, em água quente e secá-los em alta temperatura ou isolá-los em um saco plástico fechado por pelo menos 3 dias.

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Referência bibliográfica

  • BOCKARIE, M. J.; ALEXANDER, N. D. E.; KAZURA, J. W.; BOCKARIE, F.; GRIFFIN, L. & ALPERS, M. P., 2000. Treatment with ivermectin reduces the high prevalence of scabies in a village in Papua New GuineaActa Tropica, 75:127-130.
  • BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Pediculoses. 2014. Disponível aqui. Acesso em 17 de Julho de 2023.
  • Seiler JC, Keech RC, Aker JL, Miller W, Belcher C, Mettert KW. Spinosad at 0.9% in the treatment of scabies: Efficacy results from 2 multicenter, randomized, double-blind, vehicle-controlled studiesJ Am Acad Dermatol. 2022;86(1):97-103. doi:10.1016/j.jaad.2021.07.074

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