A hepatite aguda constitui uma condição na qual ocorre uma agressão ao fígado, que podem resultar em variados graus de necrose dos hepatócitos. A hepatite aguda possui agente etiológicos bastantes variados, como vírus sistêmicos, autoimune, medicamentos, agentes infecciosos não virais, toxinas ou substâncias industriais, de origem do sistema vascular, alterações metabólicas esteato-hepatite não alcoólica, vias biliares, neoplasias.
Dentre o grande universo de causas da hepatite aguda, no Brasil, destaca-se a maior ocorrência das hepatites agudas causadas por vírus hepatotróficos, mais frequentemente, o vírus B.
A hepatite B é causada por um vírus classificado na família Hepadnaviridae, com aproximadamente 42 nm de diâmetro, possuindo DNA de fita dupla parcial, com presença de envelope, com período de incubação que pode variar entre duas semanas a seis meses. No Brasil, a principal forma de contaminação pelo vírus B é por via sexual, acometendo principalmente adultos e jovens. Dessa maneira, é de extrema importância compreender e interpretar os exames sorológicos para hepatite B, como forma de entender o perfil de infecção do paciente, para proporcionar um bom atendimento que tenha como resultado o melhor prognóstico possível para o paciente.
2. Sorologia
Dentre os vários marcadores da infecção, o primeiro a surgir é o HBsAg, o antígeno de superfície, em torno de 4 semanas após a infecção. Se o paciente evoluir para a cura, esse marcador possui a tendência de negativa por volta do 4º ao 5º mês. Se o HBsAg persistir positivo por mais de 6 meses, sugere que a doença evoluiu para um quadro crônico.
Outro marcador que surge de maneira precoce é o HBeAg. O HBeAg é uma proteína do vírus B causador da hepatite. O resultado positivo desse antígeno significa que o vírus está em processo de replicação, significando uma alta taxa de infectividade. Ou seja, maiores são as chances de contaminar outras pessoas. É de suma importância pesquisar esse marcador em mulheres grávidas que tiveram HBsAg positivo, uma vez que a presença do HBeAg aumenta as chances de transmissão vertical, ou seja, infecção de mãe para filho.
A pesquisa pelo antígeno HBcAg é útil no diagnóstico e ajuda no prognóstico do paciente. Contudo, diferente dos outros antígenos, para pesquisa de HBcAg é necessário coletar parte do tecido hepático por meio de biópsia. Uma vez que a HBcAg não é encontrado no sangue, não é muito utilizado na prática rotineira clínica devido a maior dificuldade em realizar o exame.
O anti-HBc IgM é o anticorpo que funciona como marcador da infecção aguda pelo vírus B. Quando se encontra positivo em altos índices é o principal marcador que ajuda no diagnóstico de hepatite aguda pelo vírus B. O anti-HBc IgM pode permanecer positivo por até 12 meses após a infecção, contudo, após os primeiros 6 meses, a tendência é que comece a cair se o paciente evoluir para a cura. Nas hepatites crônicas que sofrem agudização, o anti-HBc IgM pode reativa, contundo, em baixas índices.
Por sua vez, o anti-HBc IgG funciona como anticorpo que atua como marcador de contato prévio com o vírus B. Surge por volta do 4º ao 5º mês após a infecção e permanece positivo por toda a vida, sendo bastante útil para diagnosticar se o paciente já foi infectado ou não.
O anti-HBe é o anticorpo contra o HBeAg. Sua presença indica redução da replicação viral, significando menores chances de transmitir o vírus. Surge por volta de 2 a 4 semanas após a negativação do HBeAg.
A presença do anti-HBs é positiva nos pacientes que evoluem para cura. Surge por volta de um a três meses após a negativação do HBsAg que acontece entre o 3º e o 4º mês de infecção. O estado de cura sorológica é alcançado com o HBsAg negativo e anti-HBc IgG e anti-HBs reagentes.
Um fato interessante é que indivíduos que responderam de maneira positiva a vacina contra o vírus B causador da hepatite aguda, só terão como único marcador positivo o anti-HBs, no qual todos os outros marcadores serão negativos. Isso acontece porque o indivíduo não teve contato com a forma viral ativa capaz de desencadear uma resposta imunológica suficiente para iniciar a produção, desenvolvimento e liberação de todos os outros antígenos e anticorpos.
Se não diagnosticada e tratada corretamente, a hepatite B pode evoluir para um estado crônico. Quando a infecção acontece em pessoas jovens e adultas com algum tipo de patologia que possa causar imunocompetência, as chances de cronificar são entre 5% e 10%. Se adquirida durante o período da infância, as chances de cronificar variam entre 20% e 30%. A maior chance da hepatite aguda pelo vírus B evoluir para o quadro crônico, entre 80% e 90%, acontece na transmissão vertical, durante a gestação, se por algum motivo não forem seguidas as seguintes recomendações: iniciar gamaglobulina hiperimune e a primeira dose da vacina contra o vírus B causador da hepatite aguda nas primeiras 24 horas após o parto. Além disso, a segunda e a terceira doses da vacina devem ser aplicadas após 1 e 6 meses respectivamente.
Autor: Allison Diego
Instagram: @allison_diego
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências
LONGO, D. L.; FAUCI, A. S. Gastroenterologia e Hepatologia de Harrison. 2º ed. São Paulo: AMGH; 2015.
LIMA, J. M. C.; COSTA, J. I. F.; SANTOS, A. A. Gastroenterologia e Hepatologia: Sintomas, sinais, diagnóstico e tratamento. 2º ed. Ceará: UFC, 2019.