Hematologia: hematopoiese, eritrócitos, leucócitos e plaquetas| Colunistas

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Hematologia: tudo o que você precisa saber para sua prática clínica!

A hematologia é uma especialidade médica cujo objetivo de estudo são os elementos figurados do sangue.

Esses elementos são os glóbulos vermelhos (eritrócitos ou hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas (trombócitos), bem como os órgãos/tecidos nos quais o sangue é produzido.

Quais as características do sangue?

O sangue é definido como um tecido conjuntivo fluido constituído por plasma (parte líquida) e elementos figurados (células e fragmentos celulares). A porção líquida representa em torno de 55% do volume sanguíneo total e a porção celular constitui cerca de 45%.

O plasma é composto por:

  • Água (92%)
  • Proteínas: albumina, globulinas, fibrinogênio
  • Sais: sódio, potássio, cloretos, cálcio, ferro
  • Substâncias orgânicas: glicose, colesterol, triglicérides, ureia, creatinina

O que é hematopoiese?

A hematopoiese é o processo pelo qual são formadas as células sanguíneas. Envolve todos os fenômenos relacionados a origem, multiplicação e maturação das células precursoras das células sanguíneas.

Após o nascimento, a medula óssea constitui o único local de produção das células do sangue (eritrócitos, leucócitos e plaquetas). Apesar de essas três linhagens celulares serem distintas, são oriundas de uma célula-mãe única, chamada célula pluripotente (Figura 1).

Eritropoiese

Chamamos de eritropoiese o processo de produção de eritrócitos. A primeira célula que pode ser identificada como série vermelha é o pró-eritroblasto. A linhagem seguinte é do eritroblasto basofílico. A cada divisão, o núcleo vai diminuindo e a célula é preenchida com hemoglobina.

Depois, temos o:

  • Eritroblasto policromatófilo
  • Eritroblasto
  • Reticulócitos (ainda contêm restos de núcleo)
  • Eritrócito maduro (célula anucleada)

A eritropoietina, de origem principalmente renal, é responsável pela regulação da produção de eritrócitos. Qualquer condição que provoque a diminuição do oxigênio transportado para os tecidos provoca formação desse hormônio em questão de minutos, atingindo sua produção máxima em 24 horas. Ao longo da vida, em condições normais, os eritrócitos são formados apenas na medula óssea.

Leucopoiese

A leucopoiese é dividida em:

  • Linhagem mielocítica: produção de granulócitos e monócitos
  • Linhagem linfocítica: formação dos linfócitos.

Ambas as linhagens iniciam com uma célula comum, o blasto (mieloblasto e linfoblasto). Os granulócitos e os monócitos são formados apenas na medula óssea. Já os Linfócitos T e B são produzidos e armazenados nos órgãos linfoides. Os linfócitos B são produzidos na medula e nos órgãos linfoides secundários (OLS) (baço, linfonodos, tonsilas, intestino); já os linfócitos T são produzidos no timo e nos OLS.

Trombocitopoiese

A trombocitopoiese (plaquetopoiese) é a formação das plaquetas, que são fragmentos dos megacariócitos.

A trombopoetina, sintetizada principalmente no fígado, tem papel fundamental na regulação da produção e da diferenciação de megacariócitos que se formam e se fragmentam na medula óssea, dando origem às plaquetas.

Figura 1 / Fonte: Google

Eritrócitos

Os eritrócitos correspondem à maior parcela de elementos celulares sanguíneos, encontrados na faixa de 4,5 a 6,0 milhões/μL de sangue.

A maioria dos eritrócitos normais têm formato de disco bicôncavo e uma minoria tem formato de “tigela”, com concavidade unilateral. O diâmetro médio é de cerca de 7,5 μm. Quando maduros, não apresentam núcleo celular, e têm uma média de vida de 120 dias, quando são recolhidos pelo sistema reticuloendotelial para degradação, sendo algumas partes reaproveitadas e outras eliminadas.

Figura 2 / Fonte: Google

Hemoglobina

No interior da hemácia, encontramos a hemoglobina, uma estrutura complexa com quatro subunidades de globina (parte proteica) que contém o grupo heme (não proteico) ligado ao mineral ferro (Fe) no estado ferroso em cada subunidade globínica, e que tem a função de transportar oxigênio. Nos quadros de doenças, os eritrócitos variam quanto a conteúdo de hemoglobina, tamanho, formato, propriedades de coloração e estrutura.

Algumas alterações morfológicas comuns:

  • Cor: relaciona-se diretamente ao conteúdo de hemoglobina. Hipocromia: quando a área central pálida está maior que o normal, indicando que a quantidade de hemoglobina está diminuída. Hipercromia: quando a área central é menos pálida que o normal.
  • Tamanho: microcíticas (anormalmente pequenas) ou macrocíticas (anormalmente grandes). A microcitose ocorre devido a um descompasso entre a síntese de hemoglobina e a proliferação eritróide. Já a macrocitose se deve à interferência na síntese de DNA, gerando uma assincronia núcleo-citoplasma. Pode, ainda, haver variação anormal de tamanho (anisocitose).
  • Formato: a variação no formato é denominada poiquilocitose. Qualquer célula em formato anormal é denominada poiquilócito. Exemplos: “pera, gota ou lágrima” (dacriócito), oval (eliptócito – com eixo longo maior que o dobro do eixo curto), entre outras.
  • Policromatofilia: eritrócitos assumem uma coloração azul-acinzentada devido à presença de RNA residual, tratando-se de hemácia jovem (reticulócito) liberada na circulação com tempo de vida de 1 a 2 dias.

Alterações sanguíneas

A anemia é, talvez, a alteração sanguínea mais conhecida. Pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a anemia é definida por níveis séricos de hemoglobina abaixo dos valores de referência – os quais mudam de acordo com o laboratório, estando o valor mínimo em torno de 13,5 g/dl para homens, e 11,5 g/dl para mulheres.

De forma resumida, o diagnóstico e a classificação da anemia partem da análise do tamanho e da coloração das hemácias, observados no hemograma. A queda dos valores da hemoglobina, pode ocorrer por diversos motivos, como deficiência de elementos essenciais para produção de eritrócitos (ferro, vitamina B12 e folato), destruição excessiva de eritrócitos ou perdas sanguíneas.

Figura 3 / Fonte: https://www.sanarmed.com/anemias-definicao-epidemiologia-quadro-clinico-fisiopatologia-tratamento

Leucócitos

Os leucócitos constituem a menor parcela de elementos celulares, em torno de 5 a 10 mil/μL do sangue – existem 5 classes principais de leucócitos:

  • Neutrófilos
  • Linfócitos
  • Monócitos
  • Eosinófilos
  • Basófilos (citadas na ordem de maior a menor número no sangue periférico de um adulto saudável).

Eles podem ser classificados em agranulócitos, que são os monócitos e os linfócitos ou em granulócitos, os neutrófilos, eosinófilos, basófilos – termos usados para indicar a presença ou a ausência de grânulos específicos.

Figura 4 / Fonte: Google

Agranulócitos

São ele:

  • Monócitos: correspondem, em média, a 4% dos leucócitos. São os maiores leucócitos maduros, possuindo em torno de 12–20 μm de diâmetro. Apresentam núcleo irregular, excêntrico ou central. Eles saem dos vasos sanguíneos para executar uma função fagocitária nos tecidos (quando são denominados macrófagos). Normalmente, apresentam-se mais numerosos em infecções virais.
  • Linfócitos: representam, em média, 34% dos leucócitos. São células mononucleares, possuem núcleo único e definido, redondo, excêntrico. Podem ser pequenos (10–12 μm de diâmetro), levemente maiores que um eritrócito, ou grandes (12–16 μm de diâmetro). São a principal célula do sistema linfático para defesa geral do organismo e aparecem em maior número no sangue periférico quando há infecção viral ou na circulação sanguínea de crianças saudáveis

Granulócitos:

São eles:

  • Neutrófilos: correspondem a cerca de 56% dos leucócitos totais e apresentam em média diâmetro de 12–15 μm. Em geral, são menores que os monócitos e eosinófilos e discretamente maiores que os basófilos. Apresentam-se em maior número no sangue periférico em casos de infecções bacterianas. Eles fagocitam os patógenos ou detritos de tecidos infectados e liberam enzimas citotóxicas e outras substâncias para eliminá-los.
  • Eosinófilos: correspondem a cerca de 3% dos leucócitos totais e possuem aproximadamente 12–17 μm de diâmetro. É uma célula bem característica e de fácil identificação. Realizam fagocitose especialmente em infecções parasitárias e nos processos alérgicos.
  • Basófilos: são os leucócitos menos numerosos no sangue, correspondendo a menos de 1% do total; apresentam aproximadamente 10–14 μm de diâmetro e, também, se assemelham aos neutrófilos. Penetram nos tecidos danificados e liberam histamina e outras substâncias químicas que promovem a inflamação, participando, também, nos processos alérgicos.

O período de vida dos leucócitos

Os leucócitos circulam por curto período de seu ciclo de vida, utilizando a corrente sanguínea para chegar rapidamente a locais nos quais há lesão ou infecção. Todos podem migrar para fora da corrente sanguínea quando estão ativos, podendo ser atraídos por estímulos químicos até o patógeno invasor. Cada tipo possui uma função específica. Os neutrófilos, eosinófilos e monócitos fazem fagocitose. Após a liberação da medula óssea, os granulócitos permanecem cerca de 6 a 10 horas na circulação antes de migrarem para os tecidos nos quais desempenham a função fagocítica – permanecendo de 4 a 5 dias nos tecidos, até serem destruídos.

Quando há diminuição no número de leucócitos, existe um quadro de leucopenia, típico de baixa da imunidade; já o aumento recebe o nome de leucocitose. Mais especificamente, o sufixo “-penia” é usado quando ocorre diminuição celular (neutropenia, linfocitopenia), enquanto os sufixos “-filia” e “-ose” são usados quando ocorre um aumento celular (neutrofilia, linfocitose, eosinofilia, monocitose, basofilia).

Leucemia

A leucemia é uma outra alteração sanguínea muito conhecida. Geralmente, sua origem é desconhecida, e sua principal característica é o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células normais. Uma célula ainda imatura sofre uma mutação genética, transformando-se em uma célula cancerosa ou leucêmica, que, além de não funcionar de maneira adequada, multiplica-se mais rápido e morre menos do que as células normais.

Figura 5 / Fonte: Cleveland Clinic 2019

Resumidamente, nas leucemias há uma produção inadequada de leucócitos, e liberação precoce na corrente sanguínea, o que predispõe o organismo a infecções, e a produção descontrolada de leucócitos, reduz o espaço na medula óssea para a fabricação das outras células sanguíneas, predispondo o paciente a anemias (alteração na produção de eritrócitos), hemorragias (alteração na produção de plaquetas), entre outros.

Qual a importância das plaquetas na hematologia?

As plaquetas são fragmentos de citoplasma derivados de megacariócitos da medula óssea que entram na circulação sanguínea. Elas são anucleadas e são observadas na faixa de 200 a 350 mil/μL de sangue. Têm forma arredondada ou oval, com diâmetro de 2 a 4 μm. Em média, observa-se, no microscópio, uma plaqueta a cada 10–30 hemácias.

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Figura 6 Fonte: Google

As plaquetas são de fundamental importância no mecanismo de coagulação sanguínea. São as plaquetas que iniciam o processo de coagulação quando um vaso sanguíneo é lesado. Elas se agregam ao redor da lesão endotelial e estimulam os fatores de coagulação – dentre eles, o fibrinogênio, que é uma das proteínas sanguíneas responsáveis pela coagulação e que se transforma em fibrina, desencadeando a formação de um coágulo.

Figura 7 Fonte: Google

A plaquetopenia ou trombocitopenia é uma condição médica bastante conhecida, em que o paciente apresenta uma baixa contagem de plaquetas na corrente sanguínea. Agora que entendemos a principal função das plaquetas, podemos entender por que pacientes com plaquetopenia têm dificuldade de coagulação.

Referências bibliográficas



O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

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