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Confira no artigo da Dra. Gabriela Nöronha tudo que você precisa saber sobre líquen escleroso e atrófico na prática dermatológica.
No mundo da dermatologia existem diversas afecções completamente distintas que iniciam sua denominação com líquen. Hoje nós vamos falar a respeito do líquen escleroso e atrófico (LS)!
O LS é uma condição mucocutânea inflamatória que afeta principalmente as áreas anogenitais. A doença afeta 3-10 vezes mais mulheres, principalmente na pós menopausa. Em menor grau, homens e crianças também são afetados.
A etiologia do LS ainda é desconhecida, porém alterações hormonais, trauma frequente e doenças autoimunes são associações descritas.
A patogênese do LS envolve fatores como predisposição genética e fenótipo induzido por IFNÿ específico de Th1 imunomediado. Além disso, há uma expressão de genes associados à remodelação tecidual, bem como microRNAs.
O estresse oxidativo com peroxidação de lipídeos e DNA fornece um microambiente propício à autoimunidade e à carcinogênese. Autoanticorpos IgG circulantes contra a proteína 1 da matriz extracelular e hemidesmossomo podem contribuir para a progressão.
Quadro clínico e possíveis complicações dessa afecção
O quadro clínico típico consiste em máculas, pápulas e placas atróficas, hipocrômicas e acromicas crônicas. O prurido e a dor local estão frequentemente associados.
É extremamente importante o correto diagnóstico e tratamento, visto a característica dessa doença em evoluir para carcinoma espinocelular (CEC) em até 5% dos casos.
Complicações da líquen escleroso e atrófico
Além da evolução neoplásica, devemos saber outras importantes complicações dessa afecção:
- Estreitamento do introito vaginal: pode levar a dispareunia e disfunção urinária afetando a micção.
- Pseudocisto do clítoris: aderências do capuz do clitóris selam o clitóris e detritos queratinosos se acumulam embaixo, formando um pseudocisto doloroso.
- Fimose: é causada por cicatrizes prepuciais.
- Estenose uretral: embora o LS possa começar no meato, a condição pode se espalhar proximadamente para envolver o pênis e a uretra bulbar.
- Vulvodínea: o paciente costuma permanecer sintomático apesar da melhora clínica objetiva ou resolução das lesões cutâneas. A dor neuropática não responde aos corticosteroides tópicos.
- Disestesia peniana: sensação anormal de queimação na glande ou ao redor do meato uretra.
- Problemas psicossexuais: pacientes com distúrbio genital crônico geralmente perdem o interesse pela atividade sexual, levando a problemas com disfunção sexual.
Além da forma genital, o LS pode apresentar-se, raramente, em formas atípicas, como o LS extragenital disseminado e o LS oral.
Como conduzir o diagnóstico e o tratamento de líquen escleroso e atrófico?
O diagnóstico diferencial mais comum do LS é o vitiligo. Apesar do diagnóstico ser preferencialmente clínico, quando estivermos em dúvida ou na suspeita de um CEC associado, o mais indicado é que seja realizada uma biópsia cutânea.
O local de escolha para o exame é a área esclerótica mais ativa.
Tratamento
E qual o tratamento mais indicado? A terapia padrão ouro é a aplicação a longo prazo de corticosteroides tópicos potentes ou inibidores de calcineurina, como pimecrolimus ou tacrolimus.
Como tratamento coadjuvante, é importante manter o uso diário de hidratantes na região afetada.
Existem outras terapias em estudo, como as injeções de plasma rico em plaquetas (PRP), com resultados promissores, porém ainda sendo avaliadas.
Recomendações
Mesmo com o quadro controlado, é de extrema importância manter acompanhamento a cada 6 meses para evitar o surgimento de complicações.
O diagnóstico precoce do LS proporciona ao paciente um aumento importante da sua qualidade de vida. Espero que este artigo te auxilie nesta jornada!

Sugestão de leitura complementar
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Referências do artigo
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