Psiquiatria

Normopatia: conceito, características do normopata e manejo de casos

Normopatia: conceito, características do normopata e manejo de casos

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Imagem de perfil de Saulo Ciasca

Aprenda com o artigo do Dr. Saulo Ciasca, psiquiatra e coordenador da Pós da Sanar, sobre a normopatia – conceito, características e mais!

O processo de amadurecimento psíquico requer ganho de autonomia, individualidade e a incorporação de elementos sociais e culturais que façam sentido para si ou não. Queremos nos destacar, mas ao mesmo tempo queremos fazer parte de um todo, sentirmos conectados com a sociedade. Mas, até quando esse desejo é saudável para o indivíduo? E quando deixa de ser saudável?

Esse artigo tem como objetivo te ajudar a entender o que é e como se caracteriza esse desejo excessivo de ser como os outros.

O que é normopatia?

A normopatia é um termo cunhado pela psicanalista Joyce McDougall para designar certas personalidades que se caracterizam por sua extrema ‘normalidade’, no sentido de conformismo com as normas de comportamento social e profissional. 

É uma obsessão por ser normal, exatamente como os demais, a se misturar na multidão como apenas mais um. Não se configura atualmente com um diagnóstico psiquiátrico per se (diagnóstico exclusivamente psiquiátrico), mas guarda sintomatologia semelhante com traços de personalidade evitativo e dependente.

Normopatia e a pessoa normopata

Desta forma, o normopata é uma pessoa que se esforça para suprimir sua individualidade em prol da aceitação do outro. Para isso, ele pode deixar de lado seu bem-estar e até a sua dignidade para se encaixar à força ao que os outros esperam dele, que ele considera o “normal”.

Cria uma personagem falsa, focada no exterior, um viver definido pelo outro e não pela própria verdade. Há pouca reflexão: os normopatas imitam, obedecem e confirmam, refletindo um pensamento acrítico, operacional, evitando riscos. 

Leia também o nosso artigo: Emergências psiquiátricas: como manejar?

Afinal, o que é ser normal? 

Há várias dimensões para o conceito de ser normal, que serão explicitadas a seguir:

Normalidade ideal

A ideal é aquela considerada dentro da norma, dos valores de determinada cultura.

Normalidade estatística

A normalidade estatística considera frequência como o que é normal ou não na famosa curva de Gauss.

Normalidade funcional

A funcional em que um fenômeno será considerado anormal se for disfuncional para o indivíduo ou grupo social

Normalidade subjetiva

A normalidade subjetiva tem relação com a percepção e crítica do indivíduo em relação a si mesmo e ao mundo.

Características do normopatia

É importante salientar que há geralmente um sentimento de vazio existencial, angústia e melancolia associados à normopatia. A necessidade de corresponder ao outro priva a pessoa de lidar com frustração, decepção ou fracasso. 

Em geral, normopatas são imunes à culpa, compaixão e empatia, de forma semelhante à psicopatia (transtorno de personalidade antissocial). Porém, enquanto o psicopata nega a realidade externa, os normopatas negam a realidade interna. 

Tratamento para normopatia

O exercício da individualidade é o passo essencial para o tratamento dessas pessoas. 

Na prática médica, o tratamento deve visar a promoção de autoconhecimento, consciência social, trabalhar com autoestima, valores, crenças, identidade e os próprios traços da personalidade ajudarão a pessoa a se reconhecer como única, e aceitar-se como tal. 

É necessário que seja realizado um tratamento psicoterápico. Assim, na psicoterapia, o paciente vai conseguir explorar sua individualidade.

Além disso, o tratamento envolve também conhecer a história do paciente e entender quais são os fatores que fazem com que o mesmo persista nessa identidade falsa.

O programa Nova Manhã convidou o Dr. Saulo Ciasca, que é psiquiatra e terapeuta, para falar sobre o tema. Confira a entrevista:

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Referências

  • McDougall J. Plea for a Measure of Abnormality. Routledge; 2013 Sep 5.
  • Ferraz FC. A loucura suprimida: normopatia, pós-modernidade e instituições psicanalíticas.