Pneumologia

Resumo: Pneumonia Comunitária na Infância

Resumo: Pneumonia Comunitária na Infância

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  1. Introdução

Apesar do expressivo progresso ocorrido nos últimos 50 anos em relação ao desenvolvimento de antibióticos e vacinas, a pneumonia continua sendo um importante problema de saúde pública. A maioria das crianças tem de 4 a 6 infecções respiratórias agudas (IRA) por ano, principalmente nas áreas urbanas. Cerca de 2 a 3% das IRA evoluem para infecção do parênquima pulmonar, das quais 10 a 20% evoluem para óbito, contabilizando 1,2 milhão de óbitos por ano.

2. Fatores de risco

Geralmente a pneumonia ocorre como complicação de uma infecção viral das vias aéreas. Os vírus alteram os mecanismos de defesa do trato respiratório por modificar as secreções, inibir a fagocitose, alterar a flora bacteriana e diminuir o movimento ciliar. Os principais fatores de risco são:

Prematuridade
Baixo peso ao nascer
Desmame preococe
Desnutrição
Baixo nível socioeconômico
Tabagismo passivo


3. Etiologia

É difícil estabelecer o diagnóstico etiológico das PAC devido ao seu curso clínico ser muito semelhante para os diversos agentes e os testes diagnósticos terem baixa sensibilidade. 

Os principais agentes etiológicos envolvidos variam de acordo com cada faixa etária:

Lactentes > 3 meses vírus sincicial respiratório, influenzae, parainfluenzae, adenovírus
S. pneumoniae, H. influenzae, s. aureus, chlamydia sp e mycoplasma pneumoniae.
Pré-escolares Predomínio por vírus
S. pneumoniae e o H influenzae
Escolares/adolescentes Pneumococo e m. pneumoniae

4. Quadro clínico

O quadro clínico da PAC pode variar com a idade da criança, o estado nutricional, a presença de doença de base e o agente etiológico. Os principais sintomas são:

  • Febre
  • Tosse
  • Taquipneia
  • Dispneia

OBS: algumas crianças também podem manifestar otite média aguda e dor abdominal.

SINAIS DE ALERTA:

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Menores de 2 meses:
FR > 60 irpm
Tiragem subcostal
Febre alta
Recusa de seio materno mais de 3 mamadas
Sibilância
Estridor em repouso
Irritabilidade
Letargia

Maiores de 2 meses:

Tiragem subcostal
Estridor em repouso
Recusa de líquidos
Convulsão
Alteração do sensório
Vômitos

Pneumonia afebril do lactente: pode ter como agente etiológico C. trachomatis, U. urealyticum e vírus respiratório sincicial, atinge lactentes entre um e três meses de idade. O estado geral costuma estar preservado; a criança apresenta tosse seca e, ao exame radiológico, observa-se infiltrado intersticial.

Pneumonia atípica: causada pelo Micoplasma pneumoniae ou Clamídia pneumoniae, geralmente acomete pré-escolares e adolescentes, que exibem quadro bastante característico, que se inicia com dor de garganta, às vezes otalgia, evolui com febre baixa, estado geral pouco comprometido e tosse muito intensa, irritativa.

5. Diagnóstico

O diagnóstico de PAC é clínico, não sendo necessário realização de raio-X de tórax, reservado para os casos graves e indicação de internação.

Achados que sugerem etiologia bacteriana ou viral:

BACTÉRIA VÍRUS
Consolidação alveolar Padrão intersticial
Redução do MV e crepitações Início insidioso
Derrame pleural Rouquidão e sibilos

Os exames complementares são inespecíficos e de emprego questionável. O achado de leucocitose acima de 15.000 mm³ e PCR > 40 mg/dL sugere etiologia bacteriana. A hemocultura só é indicada nos casos de PAC grave, em crianças internadas ou quando a evolução do paciente é desfavorável. Podem ser solicitadas sorologias nos casos suspeitos de M. pneumoniae e chlamydia sp.

6. Tratamento

Inicialmente deve-se determinar se o tratamento do paciente poderá ser realizado ambulatorialmente, ou em nível hospitalar.

Indicações para internação:

  • menores de 2 meses;
  • presença de tiragem subcostal;
  • convulsões;
  • sonolência excessiva;
  • estridor em repouso;
  • desnutrição grave;
  • ausência de ingestão de líquidos;
  • sinais de hipoxemia;
  • presença de comorbidades (anemia, cardiopatias, pneumopatias);
  • problemas sociais;
  • falha na terapêutica ambulatorial;
  • complicações radiológicas (derrame pleural, pneumatocele,
    abscesso pulmonar).

Além do uso dos antibióticos, deve-se manter a alimentação da criança,
particularmente o aleitamento materno, aumentar a oferta hídrica e manter as narinas desobstruídas.
Além disso, a criança hospitalizada pode necessitar de uso de broncodilatadores, hidratação venosa, correção de distúrbios hidreletrolíticos e oxigenoterapia (quando a saturação de O2 < 92%).

Principais complicações da PAC:

  • abscesso;
  • atelectasia;
  • pneumatocele;
  • pneumonia necrosante;
  • derrame pleural;
  • pneumotórax;
  • fístula broncopleural;
  • hemoptise;
  • septicemia;
  • bronquiectasia;
  • infecções associadas (otite, sinusite, conjuntivite, meningite, osteomielite)

REFERÊNCIAS

Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole, 2017.

Bedran, R. M. Pneumonias adquiridas na comunidade na infância e adolescência. Rev Med Minas Gerais 2012; 22 (Supl 7): S40-S47

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