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Todos nós sabemos que a formação em medicina é uma das mais desafiadores que existem. No post de hoje, falaremos sobre quatro momentos que considero pontos chave de virada do curso de medicina.
Veja como a faculdade te apresenta desafios cada vez maiores e esteja um pouco mais preparado para eles.
Início da faculdade de medicina
Você deve imaginar que o início da faculdade de medicina não deveria ser uma etapa desafiadora. Afinal de contas o pior já passou, você conseguiu ser aprovado no vestibular mais concorrido do país.
O motivo que considero o início da faculdade de medicina um momento desafiador é justamente por isso. Você era um vestibulando e agora é estudante de um curso superior com a maior das cargas horárias.
No cursinho ou colégio, os professores se esforçavam ao máximo para te entregar um conteúdo bem mastigadinho, o mais didático possível. Você era tratado como um estudante que precisa de ajuda para adquirir conhecimento.
Agora, você terá professores que, do dia para a noite, irão te tratar como um estudante profissional. Eles não terão tanto cuidado em fornecer o conteúdo de forma didática. É você quem tem que correr atrás do próprio aprendizado.
Também não importará muito se no dia de uma prova você já tem mais outra prova, um seminário para apresentar e uma atividade para resolver. Você vai precisar “se virar nos trinta”. Os conteúdos ensinados serão também muito mais complexos que no ensino médio, e irão requerer uma boa base para compreendê-los.
Essa mudança de cenário causa um certo desconforto e requer um tempo de adaptação. Passado um certo período, você irá se acostumar e irá lidar muito bem com a pressão.
Formação em medicina: o ciclo clínico
Quando você já estava se acostumando com a faculdade, vem uma nova etapa desafiadora: o início do ciclo clínico. Você até se empolga, já que até então você não se sentiu médico em momento nenhum.
No ciclo clínico você inicia o contato com o universo da medicina. O desafio se dá porque, se fizermos uma analogia, é como se estivesse tentando se adaptar à uma nova “cultura”, que possui sua própria língua, forma de agir, exigências e código de conduta.
Você precisa aprender os termos técnicos, um vocabulário extenso e totalmente novo. Também terá que:
- Aprender a fazer uma anamnese bem feita,
- Realizar um exame físico,
- Saber construir hipóteses diagnósticas,
- Sugerir condutas.
Será estimulado a pensar em cima de casos clínicos, mesmo ainda não possuindo tanto conhecimento sobre as doenças. Você se sentirá um pouco perdido. Sem uma bagagem para onde você possa olhar e “procurar” o que o seu paciente tem.
Mas, calma! Nesse momento, o seu professor sabe que você não terá elementos suficientes para dar diagnósticos, que nem sempre conseguirá coletar uma história bem coletada, ou ficará em dúvida dos achados do exame físico.
Apenas mantenha em mente que o objetivo desta fase é te introduzir neste novo universo. Forçar você, por assim dizer, a se encaixar nele. Te ensinando como você deverá raciocinar a partir dos seus futuros pacientes. Enquanto isso, você também irá aprender sobre as doenças mais comuns de cada especialidade.
Internato: a melhor fase da faculdade
A entrada no internato é um dos momentos mais aguardados por qualquer estudante de medicina. Depois de passar 4 longos anos estudando, chegou a hora de colocar a mão na massa. E você mal pode esperar por isso.
Esse momento muito aguardado é também bastante desafiador. Você agora será chamado a ser o responsável pelo paciente. Será inserido nos serviços que já possuem uma rotina própria, enquanto que para você é tudo novo. Você é apenas um iniciante ali. Terá que acelerar o próprio ritmo. “Desaprender” a fazer uma anamnese tão extensa, para agora fazer uma anamnese direcionada.
Você estará mudando sempre de rotina, a cada novo rodízio. Perderá noites de sono em plantões. Será cobrado a repassar o caso de forma clara, sucinta, com os elementos necessários para uma tomada de conduta.
Entenderá que seu professor está confiando no que você diz a ele para decidir a vida do seu paciente. E começa a compreender o peso da responsabilidade que tem. Terá que aprender sobre hierarquia, a trabalhar em conjunto com residentes e dividir tarefas e escalas com colegas.
Formação em medicina: desafios do internato
Você também iniciará um contato muito mais íntimo com os pacientes. Verá aquilo que, até então, só tinha visto nos livros. E irá se vislumbrar ou se chocar com o que vê em diversas situações.
Você vai presenciar momentos de alegria, como uma alta hospitalar de um paciente curado, mas também irá presenciar a morte e o sofrimento humano.
Diante de tal exposição, você será desafiado a aprender a estabelecer o limite entre a indiferença e a empatia segura. Afinal, você não poderá se abalar tanto a ponto de se prejudicar.
Você precisará ser empático, mas precisará não se deixar tomar pelo sofrimento. Isso porque terá que seguir em frente e estar inteiro para atender outros que também precisarão de você.
Você também ficará muito feliz ao constatar o seu progresso. Ao se ver conseguindo realizar algum procedimento, ao dar um diagnóstico certeiro, ou sugerindo uma conduta correta. Sem dúvidas, é neste momento da faculdade que você estará se tornando médico.
A formatura: dormir interno e acordar doutor
Chegou o momento considerado ápice na sua vida acadêmica. Você está se formando e a ficha está começando a cair: serei médico! Para muitos, aparece no peito um misto de sentimentos. Alegria e alívio por ter sobrevivido aos 6 longos anos de faculdade. Por outro lado, cresce também a apreensão ao pensar no primeiro plantão que você dará.
Até então, você sempre tinha uma retaguarda. Sabia que o residente, outros médicos, o seu preceptor estariam ali para te dizer o que fazer. Você era responsável pelo paciente, mas não era o único responsável. Mas você sabe que agora o paciente estará completamente em suas mãos. Você será o principal responsável por ele. Terá que dar o diagnóstico e tomar as condutas, muitas vezes sem nenhuma ajuda externa.
Finalmente, você vai começar a ganhar dinheiro, mas logo perceberá que a responsabilidade que terá será enorme. Eu sei, meu amigo, já estive lá, e é como padecer no paraíso. Mais uma vez eu te digo: calma! Se isso te consola, todos os médicos passaram por isso, e sobreviveram. Você também irá sobreviver.
Você já fez a sua parte. Já estudou muito, treinou, e agora é hora de confiar na sua formação e colocar a pele em jogo. Seja responsável, não faça nada sem saber o que está fazendo. Peça sempre ajuda, seja cauteloso e estude, estude e estude tudo aquilo que você tiver dúvidas.
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Formação em medicina: no final das contas, vai dar tudo certo
Perceba que a faculdade vai te oferecer desafios cada vez maiores. Saiba que você não está sozinho, e ninguém entra em cada um desses desafios totalmente seguro. Pelo contrário, a insegurança e o medo fazem parte da formação, e irão desaparecendo aos poucos, conforme você ganha experiência.
Ao invés de se paralisar diante do medo dos desafios, caia para dentro, com garra e força, com vontade de aprender. E eu tenho certeza que você irá se formar um médico incrível.