Podemos definir as Queimaduras como uma lesão tecidual decorrente de trauma térmico, elétrico, químico ou radioativo, que destrói parcialmente ou totalmente a pele e seus anexos, podendo alcançar camadas mais profundas como o tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos.

Imagem: Queimadura. Fonte: Google imagens.
As lesões por Queimaduras estão entre as mais devastadoras de todas as lesões e são responsáveis por uma grande crise global de saúde pública. As queimaduras são o quarto tipo de trauma mais comum no mundo, após acidentes de trânsito, quedas e violência interpessoal.
Aproximadamente 90% das queimaduras ocorrem em países de baixa a média renda, regiões que geralmente não possuem a infraestrutura necessária para reduzir a incidência e a gravidade das queimaduras.
Epidemiologia das Queimaduras
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 320 mil crianças morrem todos os anos em consequência de queimaduras. Números impressionantes, principalmente, por se tratarem de acidentes que acontecem nos próprios lares por distração e que, portanto, poderiam ser evitados.
Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, no Brasil acontecem um milhão de casos de queimaduras a cada ano, 200 mil são atendidos em serviços de emergência e 40 mil demandam hospitalização. As queimaduras estão entre as principais causas externas de morte registradas no Brasil, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes de transporte e homicídios. Estudo conduzido no Distrito Federal demonstrou taxa de mortalidade de 6,2% entre os queimados internados em hospital de emergência.
As lesões por queimadura não intencionais e intencionais variam de acordo com a faixa etária, sexo, renda e região global. Nos países de alta renda, a tendência nos últimos anos tem sido uma redução na incidência de queimaduras, gravidade da queimadura, tempo de internação e taxa de mortalidade.
As lesões por queimadura estão entre as 15 principais causas globais de carga de doenças. Queimaduras são mais comuns em países de baixa e média renda. As três regiões com as maiores taxas de prevalência são a região do Pacífico Ocidental, a região do Mediterrâneo Oriental e a região do Sudeste Asiático.
Os países de baixa renda apresentam maior carga de queimaduras relacionadas ao fogo do que os países de alta renda. Uma pesquisa de base comunitária realizada em Bagdá entre 2003 e 2014 mostrou que a prevalência de queimaduras foi de 1,1% dos 5148 indivíduos entrevistados em 900 famílias. A prevalência de queimaduras é maior para mulheres (0,09 por 100.000) do que homens (0,06 por 100.000).
SE LIGA! Os grupos mais vulneráveis a lesões por queimaduras são crianças, mulheres e adultos mais velhos. A falta de supervisão de crianças, a fragilidade e as comorbidades de idosos, roupas feitas de materiais inflamáveis, analfabetismo dos pais, moradia congestionada, comprometimento preexistente de uma criança e baixo status socioeconômico são fatores de risco importantes para lesões por queimaduras.
Sabemos que o prognóstico de uma vítima de queimadura vai depender da extensão da Superfície Corporal Queimada (SCQ), da profundidade e localização da lesão, da presença ou não de doenças crônicas associadas e da idade do paciente (mais grave em crianças e idosos).
Assim, as queimaduras de primeiro grau e algumas queimaduras de segundo grau curam-se em dias ou semanas sem deixarem cicatrizes. As queimaduras profundas de segundo grau e as queimaduras pequenas de terceiro grau demoram semanas para se curarem e, normalmente, causam cicatrizes. A maior parte requer enxertos de pele. As queimaduras que afetam mais de 90% da superfície corporal ou mais de 60% em uma pessoa idosa são normalmente mortais.
Houve um declínio na mortalidade devido a incêndios e chamas em todo o mundo. Nos Estados Unidos (EUA), a taxa de mortalidade por incêndio e queimaduras ajustada à idade diminuiu de 2,99 por 100.000 em 1981 para 1,2 por 100.000 em 2006. Entre 1990 e 2010, o Global Burden of Disease Project observou um declínio de 6% no mundo em mortes por incêndio e queimaduras, de 5,3 para 4,9 por 100.000.
Durante este período, entre 1982 e 2002, a mortalidade por incêndios e queimaduras nos homens australianos caiu de 1,5 para 0,7 por 100.000. Da mesma forma, a taxa de mortalidade por incêndio em mulheres brasileiras diminuiu de 1,1 para 0,5 por 100.000. Outros países que observaram redução na mortalidade por incêndios e queimaduras de 1982 a 2002 incluem Canadá, França, México, Panamá, Tailândia, Reino Unido e Venezuela.
Aproximadamente 90% de todas as mortes relacionadas a queimaduras ocorrem em países de baixa e média renda ou baixa renda, enquanto 3% ocorrem em países de alta renda. Nos EUA, em 2006, as taxas de mortalidade por mortes relacionadas a queimaduras em crianças até quatro anos de idade foram 1,24 vezes mais altas para meninas do que meninos. Para crianças de 4 a 20 anos, a taxa de mortalidade foi quase idêntica para meninos e meninas (0,7 por 100.000 e 0,65 por 100.000 crianças).
Fisiopatologia das lesões por queimaduras
A fisiopatologia da lesão por queimadura se dá pela destruição da integridade capilar e vascular, em razão de seus efeitos serem locais e sistêmicos. O comprometimento do tecido vai depender da intensidade da exposição térmica, das características da área queimada e das reações locais e sistêmicas.
Assim, a queimadura irá comprometer a integridade funcional da pele, responsável pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície corporal. Portando, a magnitude do comprometimento dessas funções depende da extensão e profundidade da queimadura.
A injúria térmica provoca no organismo uma resposta local, traduzida por necrose de coagulação tecidual e progressiva trombose dos vasos adjacentes em um período de 12 a 48 horas.
A ferida da queimadura a princípio é estéril, porém o tecido necrótico rapidamente se torna colonizado por bactérias endógenas e exógenas, produtoras de proteases, que levam a liquefação e separação da escara, dando lugar ao tecido de granulação responsável pela cicatrização da ferida, que se caracteriza por alta capacidade de retração e fibrose nas queimaduras de terceiro grau.