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Abdome agudo obstrutivo corresponde a um quadro de dor abdominal provocada por uma obstrução intestinal com interrupção do trânsito, por diversos mecanismos.
Como a progressão do conteúdo intestinal é interrompida, o paciente cursa com diversos sinais e sintomas, que podem levar a deterioração do seu estado clínico caso não seja definida uma conduta terapêutica de urgência, seja ela clínica ou cirúrgica.
Causas
Dentre as principais causas de obstrução intestinal temos as:
- bridas/aderências – que correspondem a um tecido conjuntivo fibroso formado na cavidade peritoneal de pacientes com história de cirurgia prévia -,
- hérnias,
- neoplasias,
- volvos,
- corpo estranho,
- intussuscepção intestinal e
- íleo biliar.

Fonte: https://www.tuasaude.com/dor-abdominal/
Epidemiologia de Agudo Agudo Obstrutivo
Dentre os 05 tipos de abdome agudo – inflamatório, obstrutivo, perfurativo, hemorrágico e vascular -, o obstrutivo é o segundo mais comum. Ele corresponde a aproximadamente 20% das cirurgias de emergência em pacientes com dor abdominal.
Fisiopatologia
Quando há uma obstrução intestinal, o conteúdo intralumimal é impedido de progredir em direção ao reto, levando a uma distensão de todo o intestino a montante do ponto obstrutivo.
Com a progressão do quadro, a parede intestinal torna-se edemaciada, comprometendo a sua função absortiva.
Nos casos mais graves, a distensão das alças pode levar a um comprometimento da vascularização, dificultando a chegada de sangue no intestino.
Com a perfusão comprometida, a parede intestinal começa a isquemiar, podendo evoluir para necrose e, – caso o processo não seja interrompido- , perfuração.
Quadro clínico de Agudo Agudo Obstrutivo
O quadro clínico da obstrução intestinal pode ser muito variável, dependendo da etiologia, localização, grau de oclusão e presença ou não de estrangulamento. Os sinais e sintomas mais comuns são:
Dor
A dor visceral domina o quadro clínico. Ou seja, a dor inicialmente é difusa e mal localizada. Tem início abrupto, em forma de cólica intermitente, com intervalos regulares.
Em geral, é intensa, provocada por distensão e espasmo da musculatura intestinal, na tentativa de vencer o ponto de obstrução. Algumas horas após o início do quadro, há uma exaustão intestinal, com diminuição da intensidade das ondas peristálticas, e as cólicas tendem a desaparecer.
Vômitos
Apresentam intensidade diferente a depender do local da obstrução. Na obstrução alta do intestino delgado, os vômitos são precoces e intensos, porque a distensão ou irritação da parede do estômago e duodeno são os principais estímulos indutores de vômitos.
Nas obstruções mais baixas do intestino delgado, eles são mais tardios e menos intensos. Se ocorrer a persistência do quadro, a estase do conteúdo entérico favorece a proliferação de bactérias, que modifica o odor do conteúdo vomitado, sendo chamado de vômito fecaloide.
A presença de vômitos fecaloides traduz uma obstrução tardia e estabelecida. Na obstrução do intestino grosso, os vômitos podem estar ausentes, porém, quando presentes, costumam ocorrer mais tardiamente.
Parada de eliminação de gases e fezes
Geralmente ocorre de forma tardia, porque na fase inicial ainda ocorre expulsão de gases e fezes que já estavam no intestino. Quando há suboclusão intestinal, o paciente pode continuar a eliminar gases, e quando há oclusão total, ocorre parada de eliminação de gases e fezes.
Num quadro inicial de obstrução, pode ainda ocorrer a diarreia paradoxal antes da parada de eliminação de gases e fezes.
Isso acontece porque a onda peristáltica violenta que está tentando vencer o ponto de obstrução, continua passando pela parede da alça, alcançando a alça abaixo da obstrução. Se houver alguma quantidade de fezes residual, elas serão expulsas rapidamente.
Distensão abdominal
Aparece algumas horas após o início do quadro e aumenta progressivamente. Quanto mais baixa for a oclusão, mais difusa é a distensão abdominal.
Nas obstruções mais proximais, a nível de duodeno e jejuno proximal, a distensão podem nem existir.
Diagnóstico de Agudo Agudo Obstrutivo
O diagnóstico do abdome agudo obstrutivo pode ser feito a partir de achados do exame físico, associados a exames complementares.
No exame físico, durante a inspeção devemos procurar por cicatrizes cirúrgicas (principal fator de risco para bridas), abaulamentos (falam a favor de hérnias e tumores), peristaltismo de luta e distensão abdominal.
A ausculta tem uma contribuição muito importante no diagnóstico de um abdome agudo obstrutivo. Na fase inicial de um quadro de obstrução mecânica, os ruídos hidroaéreos estão aumentados – com timbre metálico -, devido ao reflexo de luta.
Entretanto, nas fases mais tardias, o intestino entra em exaustão, e há diminuição acentuada desses ruídos, até o desaparecimento completo, indicando um íleo paralítico.
O que deve ser observado?
Na percussão do abdome, o achado mais comum é o de timpanismo generalizado, devido ao acumulo de gás.
Na palpação, o abdome geralmente é flácido quando há uma obstrução simples, porém, a palpação da alça distendida pode provoca dor. Nos casos de estrangulamento, o paciente pode apresentar contração involuntária da musculatura, indicando irritação peritoneal.
O toque retal é uma etapa obrigatória do exame físico de todo paciente com suspeita de abdome agudo obstrutivo. Esse exame pode demostrar ausência de fezes na luz retal, presença de sangue, corpo estranho e fecalomas.
Exames complementares
Quanto aos exames complementes, radiografias simples, muitas vezes, são suficientes para estabelecer o diagnóstico de obstrução. Devemos solicitar radiografia de abdome com o paciente em ortostase e decúbito dorsal, além de uma radiografia simples de tórax.
Nos casos em que o paciente não consegue ficar em pé, a radiografia de abdome deve ser feita com paciente em decúbito lateral esquerdo, com raios horizontais.
Nos quadros de obstrução de delgado, podemos identificar nas imagens:
- níveis hidroaéreos,
- edema de parede,
- distensão de alças ocupando a parte mais central do abdome e
- a presença das válvulas coniventes, que formam um sinal radiológico conhecido como “empilhamento de moedas”.
Já nas obstruções de colón, a radiografia costuma evidenciar uma distensão ocupando a parte mais periférica do abdome e a presença de haustrações.
Tratamento de Agudo Agudo Obstrutivo
O tratamento da obstrução intestinal vai depender sua etiologia. Na maioria dos casos, ele é cirúrgico, porém, em algumas situações, os pacientes podem responder apenas ao manejo clínico.
As principais medidas de suporte clínico são:
- dieta zero – para limitar a distensão abdominal -,
- descompressão intestinal através de uma sonda nasogástrica (alivia vômitos, reduz o risco de aspiração e melhora a ventilação pulmonar) e
- correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e acido-básico através da reposição volêmica.
O tratamento cirúrgico, através da laparotomia exploradora, está indicado para os pacientes com sinais de complicação. Alguns deles são:
- febre,
- leucocitose e
- irritação peritoneal, ou
- para aqueles que são refratários aos tratamento conservador.
Posts relacionados:
- Abdome agudo hemorrágico
- Caso clínico de abdome agudo obstrutivo
- Abdome agudo inflamatório
- Mapa Mental dos tipos de abdome agudo
- Abdome agudo perfurativo
Referências:
Etiologies, clinical manifestations, and diagnosis of mechanical small bowel obstruction in adults. UpToDate. Acesso em: 14 mai. 2021. https://www.uptodate.com/contents/etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis-of-mechanical-small-bowel-obstruction-in-adults
Management of small bowel obstruction in adults.UpToDate. Acesso em: 14 mai. 2021. https://www.uptodate.com/contents/management-of-small-bowel-obstruction-in-adults