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A bupropiona é um fármaco com importante papel antidepressivo, cuja classe farmacológica se sustenta na inibição da recaptação tanto da dopamina – DA (isto é, age como inibidor do transportador de dopamina ou do DAT – receptor) quanto da noradrenalina – NA (ou seja, age como inibidor do transportador de noradrenalina). Nenhuma outra ação farmacológica específica ou potente foi consistentemente identificada para esse fármaco.
A bupropiona, no organismo humano, é metabolizada em vários metabólitos ativos, alguns dos quais não apenas são inibidores da recaptação sináptica de NA e DA, como são farmacologicamente mais potentes do que a própria bupropiona.
Desse modo, em alguns aspectos, a bupropiona é um fármaco ativo e, ao mesmo tempo, um precursor de outros fármacos ativos, em outras palavras, atuando como um profármaco para múltiplos metabólitos ativos e potentes.
Apresentação da Bupropiona
No Brasil, as apresentações da bupropiona, comercializadas são:
- Comprimido revestido de liberação lenta: 150mg
- Comprimido revestido de liberação prolongada: 150mg e 300mg
O receituário exigido para compra e liberação do medicamento é a C1. substâncias sujeitas a controle especial (em duas vias).
Farmacocinética
Dentre as propriedades farmacocinéticas do fármaco, destacam-se:
- Absorção
- Distribuição
- Metabolização
- Eliminação
Absorção
Após administração oral de bupropiona, os picos de concentração plasmática são alcançados após aproximadamente três horas e não parece sofrer interferência com a alimentação.
Distribuição
É largamente distribuída com cerca de 77 a 84% do princípio ativo e metabólito ligados moderadamente às proteínas plasmáticas.
Metabolização
É extensivamente metabolizada em humanos em três metabólitos farmacologicamente ativos:
- Hidroxibupropiona
- Treoidrobupropiona
- Eritroidrobupropiona
Esses metabólitos podem ter importância clínica quando suas concentrações plasmáticas são altas ou maiores que as da bupropiona.
Os picos das concentrações plasmáticas da hidroxibupropiona e da treoidrobupropiona são alcançados, aproximadamente, seis horas após a administração de uma única dose de cloridrato de bupropiona. Estudos in vitro demonstram que a bupropiona é metabolizada em seu principal metabólito ativo, a hidroxibupropiona, primariamente pelo CYP2B6 e que o sistema enzimático citocromo P450 não está envolvido na formação da treoidroxibupropiona.
Eliminação
Após a metabolização hepática em humanos, 87% e 10% da dose são eliminadas na urina e nas fezes, respectivamente.
A fração da dose excretada inalterada foi de apenas 0,5%, dado que está de acordo com o extenso metabolismo da bupropiona. A meia-vida de eliminação média da bupropiona é de cerca de 20 horas.
Mecanismos de ação (farmacodinâmica)
O fármaco atua em duas linhas de ação, que resultam na maior distribuição e disponibilização de norepinefrina (NA) e dopamina (DA) no sistema nervoso central (SNC). São elas:
- Bloqueio do transportador responsável pela recaptação de norepinefrina, aumentando assim a neurotransmissão noradrenérgica.
- Bloqueio do transportador responsável pela recaptação de dopamina, aumentando assim a neurotransmissão dopaminérgica.
Além disso, secundariamente, a bupropiona atua no córtex frontal, aumentando a concentração de DA. Isso ocorre porque a DA é inativada quando a NA é recaptada na fenda e uma vez esse processo sendo bloqueado, aumenta-se a neurotransmissão de DA nessa região cerebral (rica em receptores dopaminérgicos).
Indicações da bupropiona
As principais indicações de uso da bupropiona são:
- Transtorno depressivo maior
- Transtorno sazonal afetivo
- Cessação do tabagismo
Transtorno depressivo maior
Tanto nas crises agudas quanto para evitar remissões e recaídas. Geralmente não é fármaco de primeira linha (lembre-se dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina – ISRS), porém a bupropiona demonstrou ser um antidepressivo útil.
É útil não apenas para pacientes que não conseguem tolerar os efeitos colaterais serotoninérgicos dos ISRS (principalmente efeitos adversos na ordem da vida sexual), mas também para aqueles cuja depressão não responde à estimulação serotoninérgica pelos ISRS.
Transtorno afetivo sazonal
É eficaz na prevenção destes casos, em que normalmente o indivíduo apresenta sintomas depressivos no período de outono e inverno, sendo que os mesmos desaparecem na primavera e verão.
Cessação do tabagismo
Minimiza os efeitos indesejáveis quando existe a redução e cessação da utilização do tabaco, sendo o primeiro fármaco no tratamento do paciente que busca abandonar a adicção, com elevada taxa de sucesso.
Off-label, a bupropiona também é vista sendo prescrita nos casos de estados depressivos associados ao transtorno bipolar, no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), em pacientes com hipersônia e nos pacientes com disfunção sexul (anorgasmia, por exemplo).
Contraindicações
A bupropiona é contraindicada em pacientes, com:
- Hipersensibilidade conhecida à bupropiona ou a qualquer componente da fórmula.
- Diagnóstico de epilepsia ou outros distúrbios convulsivos e diagnóstico atual ou prévio de bulimia ou anorexia nervosa, uma vez que foi observada alta incidência de convulsões nestes pacientes quando a bupropiona foi administrada.
- Uso de medicamentos que diminuem o limiar convulsivo, como lítio, antidepressivos tricíclicos, fenotiazinas.
- História de uso concomitante de inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) ou o uso de bupropiona dentro de até 14 dias após a interrupção do tratamento com IMAOs.
- Descontinuação abrupta do uso de sedativos ou álcool.
- Insônia grave.
- Menos de 18 anos de idade.
Efeitos adversos
Os principais efeitos colaterais, secundários ao uso de bupropiona são: insônia, cefaleia, sensação de boca seca (xerostomia), náuseas, vômitos, constipação, dor abdominal, anorexia, reações de hipersensibilidade, como urticária, rash cutâneo, prurido…
Além disso, há relatos de aumento da ansiedade, tremor, distúrbios de concentração, transtornos no paladar, transtornos na visão, aumento da pressão sanguínea (em alguns casos, grave), calor e rubor na face, vertigem, astenia, dor no peito e sudorese.
Interações medicamentosas da Bupropiona
Deve-se ter cuidado ao administrar bupropiona concomitantemente a drogas que afetam a isoenzima CYP2B6, tais como: orfenadrina, ciclofosfamida, isofosfamida, ticlopidina e clopidogrel. Por esse meio, também pode aumentar o efeito da codeína e aumentar níveis plasmáticos de alguns betabloqueadores.
Além disso, a literatura contraindica o uso juntamente a IMAOs e orienta o uso com cautela junto aos tricíclicos, uma vez que essa combinação diminui o limiar convulsivo e aumenta os níveis pressóricos.
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Veja também:
Referências bibliográficas
- Stahl, Stephen M. Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas / Stephen M. Stahl; tradução Patricia Lydie Voeux; revisão técnica Irismar Reis de Oliveira. – 4. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
- Farmacologia básica e clínica [recurso eletrônico] / Organizador, Bertram G. Katzung ; Organizador Associado, Anthony J. Trevor ; [tradução: Ademar Valadares Fonseca … et al. ; revisão técnica: Almir Lourenço da Fonseca]. – 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2017.
- Stahl, Stephen M. Fundamentos de psicofarmacologia de Stahl : guia de prescrição [recurso eletrônico] / Stephen M. Stahl ; tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa ; revisão técnica: Gustavo Schestatsky. – 6. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019.
- Bula da Bupropiona – https://cdn.eurofarma.com.br//wp-content/uploads/2016/09/bup-comprimido-bula-profissional-eurofarma.pdf