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Resumo de hepatite A (completo)

Resumo de hepatite A (completo)

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O vírus da hepatite A (HAV) causa uma doença geralmente autolimitada e que tem no humano seu único reservatório conhecido.

Um quadro de insuficiência hepática fulminante ocorre em menos de 1% dos casos. A infecção confere imunidade vitalícia e pode ser evitada por meio de vacinação. 

Epidemiologia de hepatite A

A prevalência do HAV varia de acordo com o grau de saneamento básico local, de educação sanitária e das condições de higiene individuais e coletivas. A grande quantidade de vírus presente nas fezes dos indivíduos infectados também contribui para sua disseminação. 

Em regiões menos desenvolvidas  as pessoas são expostas ao HAV em idades mais precoces, apresentando formas subclínicas ou anictéricas, que ocorrem, mais frequentemente, em crianças em idade pré-escolar.  Menos de 1% dos casos pode evoluir para hepatite fulminante, mas este percentual é maior em pacientes idosos acima dos 65 anos. 

Virologia e fisiopatologia 

O HAV é um vírus RNA de fita simples, pertencente à família Picornaviridae e o único representante do gênero Hepatovirus. O HAV é formado por um capsídeo de formato icosaédrico, composto pelas proteínas estruturais VP1, VP2 e VP3, o qual envolve o genoma viral. 

Estudos de variabilidade genética do HAV permitiram sua classificação em seis genótipos: três de origem humana (I, II e III) e três de origem símia (IV, V e VI). A principal via de contágio do HAV é a fecal-oral, principalmente por meio de água e alimentos contaminados.

O vírus da hepatite A tem a capacidade de resistir ao pH ácido do estômago. Dessa forma, ele consegue chegar ao trato digestivo. O HAV atravessa o epitélio intestinal, chega às veias mesentéricas e alcançam o fígado pelo sistema porta. O vírus se replica no hepatócito e é excretado pelos canais biliares, atingindo o intestino por meio da bile, onde, finalmente, é eliminado nas fezes. Por mais que o vírus consiga atingir outras partes do corpo, sua patogênese é praticamente exclusiva de fígado. 

A  infecção pelo HAV pode ser dividida em duas fases: 

  • Fase não citopática: A replicação ocorre exclusivamente no citoplasma do hepatócito, mas há pouca ou nenhuma lesão ao fígado. 
  • Fase citopática: Nessa fase ocorre necrose tecidual e infiltração portal. O dano hepatocelular não é causado diretamente pelo vírus, mas sim por uma resposta imunológica do indivíduo. Quando essa resposta for excessiva, pode gerar hepatite fulminante. 

Qual o quadro clínico de hepatite A?

Mesmo sendo uma doença autolimitada, a maioria dos adultos com infecção por HAV tem doença sintomática. Os sintomas têm início abrupto com náusea, anorexia, febre, mal-estar e dor abdominal. 

Dentro de alguns dias a uma semana, os pacientes podem apresentar colúria e acolia fecal, seguidas de icterícia e prurido. As primeiras manifestações clínicas geralmente diminuem quando a icterícia aparece, e a icterícia atinge seu pico em duas semanas.

Achados no exame físico do paciente

Ao exame físico, os principais achados são icterícia nas escleras, hepatomegalia e dor a palpação do quadrante superior direito. Alguns achados mais atípicos podem estar presente, como esplenomegalia, erupções cutâneas e artralgias. 

Até 10 % dos pacientes experimentam uma recidiva dos sintomas principalmente durante os seis meses após a doença aguda, mas nenhum fator predisponente para essa recorrência foi identificado. 

Evolução da doença

Mesmo ocorrendo em menos de 1% dos casos, a principal preocupação na doença por hepatite A é a evolução para insuficiência hepática fulminante. Essa condição clínica consiste em lesão hepática aguda grave com encefalopatia e função hepática prejudicada.

Os fatores de risco para o desenvolvimento desse quadro são indivíduos com idade avançada e com outras doenças hepáticas, como hepatite B ou C. Pacientes com insuficiência hepática fulminante precisam ser transferidos para um centro com capacidade para realização de transplante de fígado. 

As anormalidades laboratoriais incluem elevação das aminotransferases e bilirrubina séricas. As aminotransferases séricas atingem o pico aproximadamente um mês após a exposição ao vírus e diminuem consideravelmente a cada semana. A concentração de bilirrubina sérica geralmente diminui após duas semanas dos níveis máximos. 

Diagnóstico de hepatite A

O diagnóstico de infecção aguda por HAV deve ser suspeitado em pacientes com início abrupto de sintomas prodrômicos:

  • Náusea
  • Anorexia
  • Febre
  • Mal-estar
  • Dor abdominal
  • Icterícia ou níveis elevados das transaminases, principalmente nas populações de risco. 

O diagnóstico é estabelecido pela detecção de anticorpos imunoglobulina IgM anti-HAV séricos, que se tornam positivos entre 5 a 10 dias após a infecção. Esses testes possuem elevada sensibilidade (100%) e especificidade (88%), mas pela possibilidade de falsos positivos, o teste sorológico deve ser realizado apenas em indivíduos sintomáticos. 

Prevenção e tratamento

A infecção pelo HAV é geralmente autolimitada e o tratamento consiste em cuidados de suporte. O uso de medicações sintomáticas para vômitos e febre deve ser realizado quando pertinente. Entretanto, faz-se necessária a máxima atenção quanto às medicações utilizadas. Dessa forma, é poss´ível evitar o emprego de drogas que tenham potencial hepatotóxico. 

De maneira geral, recomenda-se repouso relativo até praticamente a normalização das aminotransferases, liberando-se progressivamente o paciente para atividades físicas. Não há necessidade de dietas restritivas para o paciente. 

A recuperação clínica e bioquímica completa é observada dentro de dois a três meses na maioria dos pacientes, e a recuperação completa é observada em seis meses em quase todos os pacientes. A infecção pelo HAV confere imunidade vitalícia.

O principal método de prevenção está na vacinação contra a hepatite A. Essa vacina faz parte do calendário de vacinação do SUS em dose única para crianças menores de 12 a 23 meses. A vacina é composta por parte do vírus morto inativado. Existe também a profilaxia em situações de pós exposição para pacientes não vacinados (por exemplo, em caso de surtos):

  • Menores de 1 ano e maiores de 40 anos: Recebem imunoglobulina IM. 
  • Pacientes entre 1 e 40 anos: Recebem a dose da vacina contra hepatite A. 
  • Profilaxia também está indicada para RNs de mães cujas manifestações se iniciaram 02 semanas antes até 01 semana após o nascimento.

Outras práticas são importantes para prevenir o contágio, como lavar as mãos, evitar água da torneira e alimentos crus em áreas com falta de saneamento e aquecer os alimentos de maneira adequada. Alimentos cozidos podem transmitir o HAV se a temperatura durante o preparo for inadequada para matar o vírus nos alimentos. 

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