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Resumo de Morte Súbita: epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento

Resumo de Morte Súbita: epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento

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A parada cardíaca súbita e a morte súbita cardíaca (MSC) referem-se à interrupção súbita e inesperada da atividade cardíaca com colapso hemodinâmico.

A OMS afirma que a MSC é um evento natural que ocorre em menos de uma hora do início dos sintomas (que muitas vezes podem nem estar presentes), em indivíduos sem qualquer condição prévia potencialmente fatal. 

Normalmente essa condição está associada a taquicardia ventricular sustentada/ fibrilação ventricular.  Se as medidas corretivas não forem tomadas rapidamente, esta condição progride para morte súbita. Esses eventos estão frequentemente associados a pacientes com doença cardíaca estrutural.

O episódio recebe o nome de parada cardíaca súbita (ou morte cardíaca abortada) se ocorrer uma intervenção, como a desfibrilação, bem sucedida que reverta o quadro. Na ausência dessa resolução, o paciente morre e o evento recebe o nome de morte súbita. Ou seja, não deve utilizar desse termo para eventos que não sejam fatais. 

Deve-se ressaltar a importância de um atendimento rápido para reversão do quadro. A cada minuto perdido, a chance de recuperação da vítima diminui em 7 a 10%. A morte cerebral e a morte cardíaca definitiva ocorrem, em média, 5 minutos após a parada cardíaca. 

Epidemiologia da Morte súbita

A incidência aumenta radicalmente com a idade, de modo que os indivíduos mais acometidos estão entre a sexta e a sétima década de vida. Também há grande associação com doença cardíaca subjacente. 

Os homens possuem duas a três vezes mais probabilidade de sofrer de parada cardíaca súbita do que as mulheres. No Brasil (e no mundo) há intensa correlação epidemiológica da MSC com a doença arterial coronariana (DAC), sendo que até 80% das vítimas têm DAC.

Etiologia

A parada cardíaca súbita geralmente ocorre em pessoas com alguma forma de doença cardíaca estrutural subjacente, principalmente doença cardíaca coronariana (DAC), de modo que até 80% desses desfechos estavam associados.

Outras formas de doenças cardíacas estruturais, adquiridas e hereditárias, são responsáveis ​​por aproximadamente 10% dos casos de PCR súbita: 

  • Insuficiência cardíaca e cardiomiopatia 
  • Hipertrofia ventricular esquerda 
  • Miocardite
  • Cardiomiopatia hipertrófica
  • Cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito.
  • Anomalias congênitas da artéria coronária
  • Prolapso da válvula mitral.

Fatores de risco

A maioria dos fatores de risco são comuns para DAC e para parada cardiaca súbita. Incluem dislipidemia, hipertensão, tabagismo, sedentarismo, obesidade, diabetes mellitus e história familiar de infarto do miocárdio. A aterosclerose coronariana está presente na autópsia de até 80% dessas vítimas.

O exercício físico, assim como o consumo de álcool possuem condições protetoras e, ao mesmo tempo, oferecem risco. Isso porque o exercício físico extenuante aumenta o risco de uma morte súbita, entretanto, a prática de atividade física fornece redução desse risco em outros momentos. Isso ocorre porque o exercício regular está associado a uma menor frequência cardíaca de repouso e aumento da variabilidade da frequência cardíaca, características associadas a um risco reduzido de morte súbita. 

Da mesma forma, o consumo moderado de álcool diminui o risco de morte súbita, mas o consumo excessivo aumenta consideravelmente esse risco. Fatores psicossociais, como situações de intenso estresse, também fornecem risco aumentado para a morte súbita. 

Fisiopatologia

As doenças cardíacas que causam a arritmia responsável pela morte súbita são variáveis. Além disso, o mecanismo exato do colapso cardíaco muitas vezes é difícil de estabelecer, uma vez que a grande maioria dos pacientes que morrem repentinamente não estão em ambiente hospitalar, com monitorização constante. 

Os estudos que estabeleceram algumas informações a que se tem acesso hoje foram baseados na pequena parcela de pacientes que estavam sendo monitorados continuamente com um eletrocardiograma ambulatorial ou os que possuíam um cardioversor-desfibrilador implantável (CDI). Por isso, sabe-se que a taquicardia ventricular (TV) ou a fibrilação ventricular (FV) são as arritmias que estão mais associadas a esse desfecho de morte súbita. Vale ressaltar que a FV é a etiologia mais frequente de uma TV. 

A FV é resultado de múltiplas áreas localizadas de microrreentrada sem qualquer atividade elétrica organizada. A ausência de coordenação elétrica resulta em despolarização miocárdica deturpada. Essa alteração elétrica causa contração ventricular desarmônica e ineficaz, resultando na falha do coração em gerar débito cardíaco. A ausência de débito culmina na hipoperfusão cerebral e tecidual, acarretando o óbito. 

A aterosclerose é outro fator importantíssimo, que resulta na obstrução da passagem sanguínea e evolução com quadro similar de hipoperfusão. A isquemia miocárdica e/ou o infarto também podem reduzir essa despolarização e repolarização do ventrículo esquerdo. 

Quadro clínico da Morte súbita

A maioria dos indivíduos que são acometidos por parada cardíaca súbita permanecem inconscientes em segundos a minutos devido ao hipofluxo cerebral. A persistência desse quadro, na ausência de tratamento adequado e imediato, levará à morte. Geralmente não ocorrem sintomas premonitórios, mas, se ocorrerem, são inespecíficos e incluem desconforto no peito, palpitações, falta de ar e fraqueza.

Diagnóstico da Morte súbita

O diagnóstico só ocorre após o episódio. Normalmente, baseia-se na história de acompanhante que apresente o relato de súbita PCR ou se este paciente estiver internado e sendo monitorado, para que haja o flagrante eletrocardiográfico desta condição. Muitas vezes o diagnóstico só processa-se na autópsia, após descartar outras causas. 

Tratamento da Morte súbita

O atendimento inicial necessita, rapidamente, de manobras de ressuscitação cardiopulmonar e de cardioversão. Vale lembrar que cada minuto perdido no atendimento torna a situação mais difícil de ser revertida, e por isso a necessidade de atendimento imediato. 

A terapia mais eficaz é o implante de um cardioversor-desfibrilador implantável (CDI). O CDI não evita a recorrência das arritmias, mas oferece o tratamento efetivo imediato, que é o de interrompê-las quando iniciam. O uso de drogas antiarrítmicas é limitado, pois são menos eficazes que o CDI. São utilizadas no caso de pacientes que não podem ou não querem implantar o dispositivo, mas estão longe de serem a melhor escolha terapêutica. 

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Referências:

BRAGGION-SANTOS, Maria Fernanda; et. al. Morte Súbita Cardíaca no Brasil: Análise dos Casos de Ribeirão Preto (2006-2010). Acesso em 16 de maio de 2021.

LINK, Mark. Approach to sudden cardiac arrest in the absence of apparent structural heart disease. UpToDate, Inc., 2020. Acesso em: 13 de maio 2021.

PODRID, Philip. Overview of sudden cardiac arrest and sudden cardiac death. UpToDate, Inc., 2019. Acesso em: 13 de maio 2021.

PODRID, Philip. Pathophysiology and etiology of sudden cardiac arrest. UpToDate, Inc., 2020. Acesso em: 13 de maio 2021.