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Introdução
A candidíase vulvovaginal é uma infecção fúngica causada por diferentes espécies do gênero Candida, sendo a C. albicans o agente etiológico mais comum. Vale ressaltar que a candidíase vulvovaginal não é considerada uma infecção sexualmente transmissível e que cerca de 20% das mulheres possuem colonização assintomática por C. albicans.
Antes de se instituir uma terapêutica farmacológica específica para a candidíase, deve-se pensar em eliminar e controlar fatores predisponentes. Esses fatores incluem DM descompensada, estados de imunossupressão, obesidade, tabagismo, distúrbios alimentares, uso de corticoides ou antibióticos, hábitos de higiene ou vestuário inadequados, estresse excessivo e gestação1,3.
O tratamento medicamentoso da candidíase é recomendado em caso de pacientes sintomáticas. Pode ser realizado por via oral ou de forma tópica, com comprimidos, cremes e óvulos, a depender do fármaco a ser utilizado e do quadro clínico da paciente. Não há evidência de superioridade da eficácia de uma ou outra forma de administração desses tratamentos2. Os esquemas podem ser feitos em dose única ou em curta duração (até 7 dias), preferenciais para os casos não complicados. O tratamento por mais de 7 dias é indicado para os casos complicados, que correspondem à candidíase grave ou à candidíase aguda de pacientes com candidíase recorrente2.
Via tópica
Os fármacos de uso tópico são nitrato de butoconazol, clotrimazol, miconazol e tioconazol. São primeira opção no tratamento da candidíase, sendo mais efetivos que o uso da nistatina. Nos casos em que há presença de hiperemia e sintomas irritativos locais intensos, podem ser utilizados corticoesteroides tópicos de baixa potência para alívio dos sintomas.
Nas pacientes com diabetes ou com vaginite por cândida não albicans, o tratamento pode ser prolongado por até 14 dias e associado a terapia oral. Além disso, deve-se lembrar que os azólicos podem diminuir a proteção conferida pelo preservativo às relações sexuais, devendo essa informação ser passada à paciente2.
Via oral
Os fármacos de administração oral são fluconazol, cetoconazol e itraconazol. Apresentam como desvantagem em relação aos de via tópica sua toxicidade sistêmica, especialmente o cetoconazol, e podem ter interações farmacológicas principalmente com antagonistas do canal do cálcio, cisaprida, astemizol, cumarínicos, hipoglicemiantes orais e rifampicina. Por isso, os fármacos de uso tópico são a primeira opção de tratamento para candidíase vulvovaginal.
Os antifúngicos orais podem provocar sintomas gastrointestinais, cefaleia, e, raramente e com o uso mais prolongado, angioedema e hepatotoxicidade2.
O uso de forma indiscriminada do fluconazol 150 mg, dose única, tem apresentado níveis crescentes de falhas terapêuticas, sendo atualmente permitida a administração de duas doses com intervalo de 72 horas2.
Situações especiais
Nas gestantes, é recomendado o tratamento apenas nas pacientes sintomáticas em qualquer trimestre da gestação com os azólicos tópicos de maior experiência, como miconazol e isoconazol por 7 dias2.
Nas pacientes soropositivas para HIV, a candidíase sintomática é mais frequente, no entanto o esquema terapêutico é o mesmo. Em alguns casos, é necessário realizar tratamento supressivo. Segundo alguns estudos, o uso de Fluconazol 150 mg VO semanalmente seria efetivo em diminuir a colonização por Candida albicans e reduzir os episódios de CVV sintomáticos nas pacientes HIV-positivas2.
Candidíase recorrente
A candidíase recorrente (4 ou mais episódios por ano) ainda não tem o tratamento ideal estabelecido, no entanto é preferível tratamentos mais longos do episódio agudo, sendo os tópicos estendidos para 7 a 14 dias e o oral, Fluconazol 150mg/dia, dividido em 3 doses, com intervalos de 03 dias1,2. Recomenda-se ainda higienização adequada e cuidadosa da região genital, evitando uso de duchas vaginais2.
Alguns estudos sugerem o tratamento supressivo entre os episódios, que pode ser feito com o Fluconazol 150mg VO semanalmente, por 6 meses, como primeira linha, tendo o cetoconazol 400mg/dia VO por 5 dias, 1vez/mês no período perimenstrual por 6 meses, como uma segunda opção2. No entanto, é importante lembrar dos efeitos sistêmicos e interações medicamentosas dos fármacos orais. Outra alternativa são os tratamentos por via local de forma intermitente1.
A recomendação do tratamento das parcerias na candidíase recorrente é controversa e deve ser realizado apenas nas parceiras ou parceiros sintomáticos.
Quanto ao tratamento das espécies de Candida não albicans, não existem recomendações terapêuticas comprovadamente eficazes. Os tratamentos recomendados por alguns autores são óvulo manipulado contendo 600mg de ácido bórico e óvulos de anfotericina B ou flucitosina a 17% (essas duas últimas não estão disponíveis no mercado brasileiro)1.
O uso de probióticos ainda não tem seu papel bem definido no tratamento e na prevenção das recidivas devido à falta de evidências de estudos randomizados e controlados1.
O quadro abaixo, retirado do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) de 2019, resume o tratamento de candidíase vulvovaginal:

Autores, revisores e orientadores:
Autor(a): Carolina Brabec Barreto Matos –
Revisor(a): Juliana Darbra Cruz Rios – @julianadarbra
Orientador(a): Lídia Aragão e Talitha Alves – @dratalithaalves
Sugestão de leitura complementar
- Aborto induzido: o que é, legislação e polêmicas
- Candidíase vulvovaginal: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento
- Qual a relação entre diabetes mellitus e candidíase?