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Síndrome de Deleção 22q11.2 | Colunistas

Síndrome de Deleção 22q11.2 | Colunistas

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A Síndrome de deleção 22q11.2 é também conhecida como Síndrome DiGeorge ou velocardiofacial. É considerada uma das síndromes de microdeleção genética mais freqüentes em seres humanos.

Caracteriza-se por um espectro fenotípico muito amplo.

Nenhum achado é patognomônico ou obrigatório.

O achado de um rearranjo cromossômico não balanceado envolvendo os cromossomos 20 e 22 em quatro pacientes de uma mesma família com a sequência de DiGeorge foi a base para identificar a microdeleção 22q11.2.

A maioria dos pacientes apresenta uma deleção pequena, detectada somente por técnicas de genética molecular, como a hibridizzação in situ fluorescente.

Padrão de herança autossômico dominante. Risco de 50% dos indivíduos acometidos transmiti-la aos seus filhos.

Pacientes com a síndrome de deleção 22q11.2 frequentemente necessitam, ao longo de suas vidas, de um grande número de intervenções médicas e hospitalizações.

Achados: voz anasalada e diminuição da mímica facial; arco aórtico à direita, dismorfismo facial e déficit cognitivo; deficiência imune letal de células T associadas à hipoplasia das paratireóides; anomalias cardíacas conotruncais e face assimétrica ao choro; anomalias de palato, aparência facial característica e dificuldades de aprendizagem.

Prevalência: 8,1% de todos os indivíduos com fenda palatina apresentam a síndrome. Cerca de um em cada 2 mil indivíduos. A estimativa pode ser maior, considerando que muitos bebês morrem ainda no primeiro mês de vida, antes do diagnóstico, frequentemente por anomalias cardíacas graves ou malformações secundárias incompatíveis com a vida.

A SD22q11 se caracteriza por um espectro fenotípico bastante amplo, com efeitos pleiotrópicos (de um gene) que resultam no acometimento de praticamente todos os órgãos e/ou sistemas. Mais de 180 achados clínicos, tanto físicos como comportamentais, tem sido relatados, incluindo anormalidades craniofaciais, oftalmológicas, gastrointestinais, neurológicas, de desenvolvimento psicossocial e de função cognitiva, psiquiátricas, autoimunes, hematológicas, imunológicas, endocrinológicas, vasculares, músculo-esqueléticas e geniturinárias.

Não existem manifestações patognomônicas ou obrigatórias para a síndrome, o que dificulta seu diagnóstico clínico. Dismorfologias sutis + retardo mental sutil.

A SD22q11 também se associa frequentemente a defeitos cardíacos congênitos, especialmente do tipo conotruncal. Esses defeitos representam a principal causa de óbito em indivíduos com a SD22q11, com ocorrência especialmente nos primeiros meses de vida, e parece estar associada à gravidade das lesões cardíacas e à presença, nesses indivíduos, de anormalidades extracardíacas.

Achados faciais: aumento do comprimento vertical da face à custa, especialmente, de um excesso maxilar vertical; hipertelorismo; fendas palpebrais estreitas e oblíquas para cima; aumento da altura do nariz, com base e narinas pequenas, e um enchimento sobre a ponte; redundância das pálpebras superiores e retrognatia secundária a uma anormalidade do ângulo da base do crânio, que se mostra mais obtuso; articulação temporomandibular em posição mais posterior do que o habitual; anormalidades menores de orelhas, em especial sobredobramento das hélices. A aparência facial dos pacientes tende a se acentuar com a idade e sofrem influência da origem étnica.

Outros achados: distúrbios de fala e de aprendizagem; transtornos comportamentais; hipocalcemia (secundária ao hipoparatireoidismo) (pode ter convulsão); anomalias de palato (fenda palatina, sem fenda labial); seqüência de Pierre Robin (micrognatia, glossoptose e fissura de palato); úvula bífida; voz anasalada; trombocitopenia; plaquetas grandes; membrana laríngea (a criança não chora); telecanto; olhos amendoados; ponte nasal alargada/nariz cilíndrico; esquizofrenia; alterações renais.

Anomalias do palato, dificuldades de aprendizagem, transtornos comportamentais e dismorfismos faciais estiveram presentes mais em adultos, ao passo que as cardiopatias congênitas formam mais observadas nas crianças.

A maioria dos pacientes com SD22q11 é identificada pela presença de um defeito cardíaco congênito maior, hipocalcemia e imunodeficiência no período neonatal.

A maioria dos paciente com a SD22q11 apresenta uma deleção de cerca de 3 milhões de pares de base (Mb) na região 11.2 do braço longo do cromossomo 22.

Apesar de a análise de modelos animais apresentar limitado sucesso, sugere-se que o gene TBX1 seja crítico para os achados clínicos da síndrome.

O gene COMT é fortemente associado ao fenótipo psiquiátrico. Sua haploinsuficiência resulta em inabilidade de degradar dopaminas e níveis elevados dessas substâncias tem sido implicados em uma variedade de transtornos comportamentais, como o espectro obsessivo-compulsivo, a psicose e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), freqüentes em pacientes com a SD22q11.

Diferenças fenotípicas podem ser observadas em gêmeos monozigóticos.

Não há correlação entre o tamanho da deleção e a gravidade da doença.

Diagnóstico laboratorial: estudos citogenéticos com o uso do cariótipo de alta resolução revelam que menos de 15% dos pacientes apresentam deleções visíveis na região 22q11;

Uma pequena porcentagem (<1%) tem rearranjos cromossômicos, como translocações envolvendo a região q11 do cromossomo 22. Contudo, a maioria dos pacientes apresenta uma deleção bastante pequena (microdeleção) em 22q11.2, detectável somente pelo FISH, uma técnica que integra a utilização da citogenética com a genética molecular, por meio de sondas de DNA marcadas com material fluorescente que identificam regiões específicas do genoma;

Mais de 90% dos pacientes com a SD22q11 tem uma deleção intersticial no braço longo do cromossomo 22 detectável por técnicas correntes de citogenética e de FISH;

Relatos de mosaicismo para deleção 22q11.2, tanto em células somáticas como germinativas também existem.

Ao suspeitar de SD22q11, o primeiro passo para o diagnóstico é realizar a avaliação citogenética por cariótipo de alta resolução. No caso de um exame normal, seguir a avaliação pela técnica de FISH para microdeleção 22q11.2.

O diagnóstico pela PCR, apesar de suas facilidades, ainda não se encontra disponível comercialmente.

Padrão de herança e aconselhamento genético:

A deleção 22q11.2 pode ser tanto herdada (8 a 28%), como decorrente de uma deleção nova. Nos casos familiares, parece haver um predomínio de relatos de herança materna sobre paterna. Isso se deve, provavelmente,a fatores socioculturais, pois mulheres com a SD22q11 se reproduzem mais do que homens com a mesma síndrome.

Indivíduos com a deleção apresentam um risco de 50% de a transmitirem a seus filhos.

Ambos os pais de um paciente com a SD22q11 devem ser testados para excluir a possibilidade de que um deles apresente a deleção. Tal avaliação é particularmente importante se os mesmos ou outros membros da família consideram a possibilidade de terem outros filhos.

Usualmente, esses indivíduos não apresentam malformações congênitas maiores, o que claramente representa um viés de seleção, pois são aqueles que sobrevivem a ponto de se reproduzirem. Assim, esse teste é indicado mesmo em familiares aparentemente normais.

Diagnóstico pré-natal: pode ser oferecido a casais em risco com o objetivo de fornecer um diagnóstico acurado, informações prognósticas e aconselhamento genético apropriado. A USG fetal de alta resolução é capaz de detectar um grande número de anomalias fetais, como malformações cardíacas e fenda palatina, que podem auxiliar na triagem dos pacientes que devem realizar o teste de FISH. Gestantes com fetos portadores de SD22q11 apresentam diminuição nas dosagens séricas de alfafetoproteína, estriol não conjugado e gonadotrofina coriônica humana.

Importância do diagnóstico da SD22q11: pacientes com a SD22q11 são considerados indivíduos em risco, uma vez que podem necessitar, ao longo de suas vidas, de um grande número de intervenções médicas e hospitalizações.Além disso, a presença de anormalidades orofaríngeas, laringobrônquicas, imunológicas, endócrinas, psiquiátricas e cardiovasculares, freqüentes na SD22q11, pode levar a várias complicações clínicas tanto no momento da indução anestésica como durante e após a realização de procedimentos cirúrgicos.

As artérias carótidas internas são frequentemente ectópicas nos pacientes com SD22q11 e podem se encontrar logo abaixo da mucosa faríngea, o que facilita complicações graves durante cirurgias na faringe.

Crianças com anormalidades imunes não devem receber vacinas com vírus vivos atenuados.

Autora: Julya Pavão

Instagram: @julyapavao

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. ROSA, Rafael Fabiano M. et al. Síndrome de deleção 22q11.2: compreendendo o CATCH22. Rev. paul. pediatr. [online]. 2009, vol.27, n.2, pp.211-220. ISSN 1984-0462.  https://doi.org/10.1590/S0103-05822009000200015.
  2. ROSA, Rafael Fabiano M. et al . Síndrome de deleção 22q11.2 e cardiopatias congênitas.Rev. paul. pediatr.,  São Paulo ,  v. 29, n. 2, p. 251-260,  June  2011 .   Available from . access on  15  May  2021.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822011000200018.