Psiquiatria

Abstinência por Cocaína: o que todo médico precisa saber

Abstinência por Cocaína: o que todo médico precisa saber

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Aprenda como funciona, a identificar, e conduzir o melhor cuidado para o paciente em abstinência por cocaína! Bons estudos!

A cocaína é uma substância do origem vegetal que apresenta propriedades psicoestimulantes. No século XIX, passou a ser empregada na elaboração de formulações farmacêuticas para o tratamento de diversas doenças.

Entretanto, o uso desordenado dessa substância gerou importantes restrições de sua utilização. A Abstinência por Cocaína é um conjunto de sinais e sintomas de desconforto físico e psíquico, que aparecem quando o consumo da substância é reduzido ou interrompido

Cocaína: um breve resumo

Apesar de a cocaína ser uma droga famosa, o conhecimento sobre ela por parte dos profissionais de saúde ainda é raso. Diante disso, é importante que algumas informações sobre ela sejam compreendidas, antes de entender a abstinência por ela.

Trata-se de uma substância psicoativa estimulante do sistema nervoso central (SNC). Por esse motivo, a reação provocada no usuário é de euforia e excitação, mas não apenas isso. Em muitos casos, como efeito, a cocaína é capaz de resultar em ansiedade e paranoia.

A cocaína é derivada das folhas da planta do gênero Erythroxylon. Usada geralmente por aspiração em forma de pós, a cocaína é extraída legalmente para a indústria farmacêutica, resulta no cloridrato de cocaína.

Folha da coca: Erythroxylon coca.

Além do subproduto mais conhecido da cocaína: o Crack, um segundo subproduto menos comentado é a Merla. No caso da Merla, a coca é somada à ácido sulfúrico, cal virgem, querosene e outros. Apesar do que parece pela sua composição, é consumida de maneira semelhante à cocaína, tendo efeitos similares.

Epidemiologia da abstinência por Cocaína

Compreender a epidemiologia do uso da cocaína não é tão certeiro. Isso é facilmente compreendido devido à subnotificação do uso da droga.

Apesar disso, estima-se que 45% dos atuais usuários da droga tenham experimentado a cocaína antes mesmo dos 18 anos de idade. Apesar disso, a maior parte dos usuários é composta por usuários recreativos episódicos.

É importante que o médico tenha em mente a forte relação estabelecida entre o uso da cocaína e da maconha. Segundo pesquisas, estima-se que cerca de 70% dos usuários da cocaína também façam o uso da maconha.

Por outro lado, a relação inversa não se mostra tão forte. Isso quer dizer que a porcentagem de indivíduos que fazem o uso rotineiro da maconha fazem uso recorrente da cocaína.

No entanto, cerca de 25% (ou mais) dos usuários preenchem critérios para abuso ou dependência.

A disponibilidade de formas altamente ativas biologicamente, tais como o crack, pioraram o problema da dependência de cocaína. A maior parte da cocaína nos EUA é em torno de 45 a 60% pura; pode conter ampla variedade de diluentes, adulterantes e contaminantes.

Qual o mecanismo de ação por trás da abstinência por cocaína?

A cocaína é considerada uma droga com potencial estimulante. Como consequência, induz o corpo e o cérebro a trabalharem intensamente. Esse efeito leva à taquicardia, aumento da pressão arterial e da temperatura corporal.

Após o uso intenso e repetitivo, o usuário experimenta sensações muito desagradáveis, como cansaço e intensa depressão. Isso faz com que ele procure a droga novamente, para alívio dessas sensações e dessa forma cria um ciclo vicioso.

O mecanismo de ação da cocaína no sistema nervoso central (SNC) consistem em aumentar a liberação e prolongar o tempo de atuação dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina, os quais são atuantes no cérebro.

Além disso, atua bloqueando o transportador de dopamina e, quando em concentrações maiores, os transportadores de serotonina e noradrenalina. Devido a esse bloqueio, a cocaína reduz a recaptação desses neurotransmissores, aumentando a sua concentração na fenda sináptica.

Como resultado, tem-se a potencialização da neurotransmissão, o que pode ser apontado como responsável pelo efeito estimulatório dessa droga.

A cocaína, quando consumida na forma inalada, inicia seus efeitos entre 10 a 15 minutos. Entretanto, quando injetada, seus efeitos começam por volta de 3 a 5 minutos, o que faz todo sentido uma vez que a via de administração intravenosa apresenta início de efeitos mais rápidos que a outras vias. Vale salientar que os efeitos da cocaína, após ambas as formas de consumo duram entre 20 a 45 minutos.

A ação da cocaína no cérebro ocasiona em seus usuários sensação de autocontrole, autoconfiança, estado de alerta, fazendo com que se sintam cheios de energia.

Por isso, apresentar dificuldades de comer e dormir são também comuns nesses casos. Porém, o uso em grandes quantidades acabam por levar a comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes de alucinações e delírios.

A Síndrome da abstinência por cocaína e suas fases

A síndrome de abstinência por cocaína tem três fases. sendo elas:

  • Crash;
  • Síndrome disfórica tardia;
  • Extinção.

Cada uma delas varia conforme o organismo sofre adaptações de retorno à atividade anterior ao consumo da droga.

Há evidências de que algumas alterações causadas pela cocaína no cérebro são de longa duração ou mesmo irreversíveis. Com base nisso, podem ser a grande causa das recaídas após tentativas malsucedidas de interrupção do consumo da droga.

Crash: primeira fase da abstinência por cocaína

O Crash é a primeira fase da síndrome de abstinência por cocaína. Seu início pode ser precoce, cerca de após 30 minutos da interrupção do uso. Por outro lado, a duração dessa fase pode levar de 8 horas a 4 dias.

Os sinais e sintomas dessa fase costumam ser de ansiedade intensa, depressão pela abstinência, paranoia e fissura pela droga.

Associado à eles, em sequência, tem-se uma hipersonia e nos despertares, uma hiperfagia.

Síndrome disfórica tardia: segunda fase da abstinência por cocaína

A segunda fase ou Síndrome de Abstinência propriamente dita costuma ter um início de 12 a 96 horas após o último uso, podendo durar de 2 a 12 semanas.

É justamente nessa fase que os riscos de recaída aumentam. Tem-se portanto sintomas como anedonia, irritabilidade, hipomnésia anterógrada.

Um outro episódio comum nessa fase é a ideação suicida.

Extinção: terceira e última fase da abstinência por cocaína

A terceira fase ou fase de extinção é marcada por fissuras cada vez mais episódicas e possui duração indefinida.

A evolução da síndrome de abstinência em fases não é observada em pacientes internados. Nesse grupo, os sintomas costumam desaparecer progressivamente e sem oscilações.

Esse é um fato interessante, já que sugere que o processo de abstinência é fortemente influenciado por fatores ambientais.

Tratamento: como conduzir?

É importante que seja investigada a gravidade da síndrome de abstinência e a intensidade da fissura. Essas informações são importantes indicadores de prognóstico. Somente

Investigar a gravidade da síndrome de abstinência e a intensidade da fissura, como indicadores importantes de prognóstico, e estabelecer intervenções específicas para tais aspectos, pois a aplicação de múltiplos recursos influencia o resultado do tratamento.

O tratamento ao dependente de cocaína deve estar acessível e ser iniciado
rapidamente. As taxas de abandono pré-tratamento podem chegar a 50%, quando o paciente não é atendido imediatamente e por até 2 dias. Uma das etapas da avaliação inicial do dependente consiste na investigação da disponibilidade e da prontidão do paciente para o tratamento.

Para tanto, é necessário definir o estágio motivacional no qual esse se encontra. Isso porque as estratégias e atividades são aplicadas de acordo com isso, do começo ao final do tratamento.

Para o tratamento do abuso, diversas terapias ambulatoriais, incluindo grupos de apoio e de auto- ajuda e linhas telefônicas de ajuda para cocaína, existem. Usa-se o tratamento com internação primariamente quando é necessário para comorbidades físicas ou mentais graves ou quando o tratamento ambulatorial foi repetidamente mal sucedido.

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Perguntas Frequentes:

  1. Quais os principais sintomas da Abstinência por Cocaína?
    Os principais sintomas do uso de cocaína são depressão, dificuldade de concentração e sonolência ( síndrome da abstinência de cocaína). O apetite aumenta.
  2. Como fazer o diagnóstico?
    O diagnóstico é realizado através da história clínica e exame físico.
  3. Qual o tratamento da Abstinência por Cocaína?
    O transtorno psicótico remite após tratamento com antipsicótico e / ou interrupção do consumo, sendo indicado injetável em quadros intensos.

Referências