Psiquiatria

Atenção no exame psiquiátrico: em quais patologias esse aspecto está alterado?

Atenção no exame psiquiátrico: em quais patologias esse aspecto está alterado?

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A atenção pode ser definida como o direcionamento da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto.

Ela se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis significativas. Ela envolve:

  1. Início da atividade consciente e focalização;
  2. Sustentada (manutenção) e nível de alerta (vigilance);
  3. Seletiva ou inibição de resposta a estímulos irrelevantes;
  4. Capacidade de mudar o foco (set-shifting), ou alternada.

Classificação

Quanto a natureza

• Voluntária: exprime a concentração ativa e intencional da consciência sobre em objeto (tenacidade).
• Espontânea: suscitada pelo interesse momentâneo/incidental, que desperta este ou aquele objeto (vigilância).

Quanto a direção

• Externa: voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos do sentido.
• Interna: voltada para os processos mentais do próprio indivíduo. Sendo, portanto, mais reflexiva, introspectiva e meditativa.

Quanto a amplitude atencional

• Focal: se mantém concentrada sobre um campo determinado e
relativamente delimitado e restrito da consciência.
• Dispersa: não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado.

No exame psíquico a atenção pode ser avaliada quanto a sua tenacidade e vigilância. A tenacidade consiste na capacidade de o indivíduo focar e manter sobre determinado estímulo. Em outras palavras, trata-se da capacidade de se manter concentrado em algo.

Em contrapartida, a vigilância está relacionada a mudança de foco, de um objeto para outro. Trata-se, por conseguinte, da capacidade do indivíduo se distrair/mudar de foco. Geralmente, tenacidade e vigilância são propriedades opostas.

Exemplos

  • Pacientes com mania, em geral, apresentam hipotenacidade e hipervigilância.
  • Pacientes com depressão grave, podem apresentar uma hipertenacidade em relação a interna (pensamentos de culpa, ruína etc.) e hipovigilância
DOENÇAS EM QUE O PACIENTE
NORMALMENTE SE APRESENTA
HIPOTENAZ E HIPERVIGIL:
Mania
Ansiedade
TDAH
Esquizofrenia em fase aguda (surto)
DOENÇAS EM QUE O PACIENTE
NORMALMENTE SE APRESENTA
HIPERTENAZ E HIPOVIGIL:
Depressão grave
Autismo
TOC
Esquizofrenia em fase crônica

Hábito e sensibilização

Quando um indivíduo ou animal é exposto a um estímulo novo, há um padrão de respostas motoras que indica que o organismo entrou em certo estado de alerta para assim captar o estímulo e a ele responder, o que é denominado resposta de orientação.

Entretanto, se tal estímulo ocorrer de forma contínua e repetitiva, ele deixa de desencadear a resposta de orientação e, portanto, deixa de responder a esse estímulo ao longo do tempo. Esse fenômeno é denominado hábito.

Em contrapartida, a depender da natureza do estímulo ou do contexto a ele associado, ao invés da sua repetição promover o processo de habituação, o oposto ocorrerá. Isto é, o organismo passará a se excitar mais e mais com a repetição do estímulo, aumentando a prontidão geral da resposta. Fenômeno conhecido como sensibilização.

Psicopatologia da atenção

Aprosexia

Refere-se à abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos.

Hipoprosexia

Diminuição global, de modo que se verifica uma perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, isto é, o indivíduo cansa com facilidade e, por essa razão, não consegue manter seu foco por muito tempo. Essa condição dificulta a percepção dos estímulos ambientais e a compreensão, bem como limita os processos relacionado à memória, tal que as lembranças se tornam mais difíceis
e imprecisas.

Hiperprosexia

Estado exacerbado, no qual há uma tendência em deter a atenção indefinidamente sobre certos objetos com surpreendente infatigabilidade.

Distração

Sinal de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou objetos, com a inibição de todo o resto.

Distrabilidade

Estado patológico caracterizado por instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção voluntária, com dificuldade ou incapacidade para focar ou manter a atenção em qualquer coisa que implique esforço positivo. Nesse contexto, a atenção do indivíduo é frequentemente desviada de um objeto para outro.

Distúrbios associados a alteração da atenção

Delirium

Está sempre ou quase sempre associado a um déficit de atenção, geralmente por conta de um rebaixamento no nível de consciência.

Transtorno Cognitivo Leve

Também conhecido como declínio cognitivo leve, é um transtorno comum em idosos no qual verificam-se alterações da atenção associado a déficits em funções executivas.

Nesse sentido, o indivíduo passa a demorar mais e/ou tem mais dificuldade em realizar tarefas do dia-a-dia (como preparar refeições, assinar documentos etc.). Além disso, pode apresentar dificuldades na atenção dividida, não conseguindo, portanto, direcionar a atenção para mais de uma função/tarefa por vez.

Demências

Nas demências as alterações de atenção costumam estar presentes desde as fases iniciais, geralmente atreladas a déficits nas funções executivas. Na demência de Alzheimer (DA) e na demência vascular (DV), os pacientes têm dificuldades em tarefas que requerem concentração e foco, assim como em atividades de controle executivo.

Além disso, o déficit atencional também se associa com a lentificação da velocidade de processamento das informações, impactando nos processos concernentes à memória e ao aprendizado.

Na demência frontotemporal, por sua vez, a atenção é consideravelmente prejudicada, podendo haver distraibilidade, impulsividade e dificuldades com estímulos distraidores.

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

Transtorno bastante importante na infância e na adolescência, mas também significativamente presente em adultos. Os processos atencionais prejudicados, inibição falha e impulsividade são aspectos importantes dessa condição.

Nesse sentido, além da dificuldade marcante de direcionar e manter a atenção (hipotenacidade) a estímulos internos e externos, o paciente tem capacidade prejudicada em organizar e completar tarefas, assim como em controlar seus comportamentos e impulsos.

Pessoas com TDAH têm prejuízo relacionado à filtragem de estímulos irrelevantes à tarefa (hipervigilância).

Transtornos de humor

Pacientes com transtornos de humor têm, geralmente, dificuldades de concentração e atenção sustentada. Nos quadros maníacos há diminuição marcante da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, o que confere ao indivíduo um estado de hipotenacidade e hipervigilância.

Nos quadros depressivos, comumente, há uma diminuição global da atenção (hipoprosexia). Em alguns casos graves, o indivíduo pode apresentar grande instrospecção com fixação da atenção em certos temas depressivos – como fracasso, culpa doença, ruína etc. – (hipertenacidade), associado a rigidez e diminuição da capacidade de mudar o foco da atenção (hipovigilância).

Esquizofrenia

Os pacientes com esse transtorno, em fase aguda, apresentam distraibilidade (não conseguem se manter focados – hipotenacidade), grandes dificuldades na atenção sustentada e inadequada filtragem de informações irrelevantes (hipervigilância).

São muito susceptíveis a distrair-se com estímulos visuais e auditivos externos. Já na fase crônica podem se encontrar com hipertenacidade para a atenção interna e hipovigilância.

Perguntas frequentes

  1. O que é Aprosexia?
    Refere-se à abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos.
  2. Como avaliar a atenção na psiquiatria?
    No exame psíquico a atenção pode ser avaliada quanto a sua tenacidade e vigilância.
  3. O que é tenacidade?
    A tenacidade consiste na capacidade de o indivíduo focar e manter sua atenção sobre determinado estímulo.