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A atenção pode ser definida como o direcionamento da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto.
Ela se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis significativas. Ela envolve:
- Início da atividade consciente e focalização;
- Sustentada (manutenção) e nível de alerta (vigilance);
- Seletiva ou inibição de resposta a estímulos irrelevantes;
- Capacidade de mudar o foco (set-shifting), ou alternada.
Classificação
Quanto a natureza
• Voluntária: exprime a concentração ativa e intencional da consciência sobre em objeto (tenacidade).
• Espontânea: suscitada pelo interesse momentâneo/incidental, que desperta este ou aquele objeto (vigilância).
Quanto a direção
• Externa: voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos do sentido.
• Interna: voltada para os processos mentais do próprio indivíduo. Sendo, portanto, mais reflexiva, introspectiva e meditativa.
Quanto a amplitude atencional
• Focal: se mantém concentrada sobre um campo determinado e
relativamente delimitado e restrito da consciência.
• Dispersa: não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado.
No exame psíquico a atenção pode ser avaliada quanto a sua tenacidade e vigilância. A tenacidade consiste na capacidade de o indivíduo focar e manter sobre determinado estímulo. Em outras palavras, trata-se da capacidade de se manter concentrado em algo.
Em contrapartida, a vigilância está relacionada a mudança de foco, de um objeto para outro. Trata-se, por conseguinte, da capacidade do indivíduo se distrair/mudar de foco. Geralmente, tenacidade e vigilância são propriedades opostas.
Exemplos
- Pacientes com mania, em geral, apresentam hipotenacidade e hipervigilância.
- Pacientes com depressão grave, podem apresentar uma hipertenacidade em relação a interna (pensamentos de culpa, ruína etc.) e hipovigilância
DOENÇAS EM QUE O PACIENTE NORMALMENTE SE APRESENTA HIPOTENAZ E HIPERVIGIL: |
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Mania |
Ansiedade |
TDAH |
Esquizofrenia em fase aguda (surto) |
DOENÇAS EM QUE O PACIENTE NORMALMENTE SE APRESENTA HIPERTENAZ E HIPOVIGIL: |
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Depressão grave |
Autismo |
TOC |
Esquizofrenia em fase crônica |
Hábito e sensibilização
Quando um indivíduo ou animal é exposto a um estímulo novo, há um padrão de respostas motoras que indica que o organismo entrou em certo estado de alerta para assim captar o estímulo e a ele responder, o que é denominado resposta de orientação.
Entretanto, se tal estímulo ocorrer de forma contínua e repetitiva, ele deixa de desencadear a resposta de orientação e, portanto, deixa de responder a esse estímulo ao longo do tempo. Esse fenômeno é denominado hábito.
Em contrapartida, a depender da natureza do estímulo ou do contexto a ele associado, ao invés da sua repetição promover o processo de habituação, o oposto ocorrerá. Isto é, o organismo passará a se excitar mais e mais com a repetição do estímulo, aumentando a prontidão geral da resposta. Fenômeno conhecido como sensibilização.
Psicopatologia da atenção
Aprosexia
Refere-se à abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos.
Hipoprosexia
Diminuição global, de modo que se verifica uma perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, isto é, o indivíduo cansa com facilidade e, por essa razão, não consegue manter seu foco por muito tempo. Essa condição dificulta a percepção dos estímulos ambientais e a compreensão, bem como limita os processos relacionado à memória, tal que as lembranças se tornam mais difíceis
e imprecisas.
Hiperprosexia
Estado exacerbado, no qual há uma tendência em deter a atenção indefinidamente sobre certos objetos com surpreendente infatigabilidade.
Distração
Sinal de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou objetos, com a inibição de todo o resto.
Distrabilidade
Estado patológico caracterizado por instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção voluntária, com dificuldade ou incapacidade para focar ou manter a atenção em qualquer coisa que implique esforço positivo. Nesse contexto, a atenção do indivíduo é frequentemente desviada de um objeto para outro.
Distúrbios associados a alteração da atenção
Delirium
Está sempre ou quase sempre associado a um déficit de atenção, geralmente por conta de um rebaixamento no nível de consciência.
Transtorno Cognitivo Leve
Também conhecido como declínio cognitivo leve, é um transtorno comum em idosos no qual verificam-se alterações da atenção associado a déficits em funções executivas.
Nesse sentido, o indivíduo passa a demorar mais e/ou tem mais dificuldade em realizar tarefas do dia-a-dia (como preparar refeições, assinar documentos etc.). Além disso, pode apresentar dificuldades na atenção dividida, não conseguindo, portanto, direcionar a atenção para mais de uma função/tarefa por vez.

Demências
Nas demências as alterações de atenção costumam estar presentes desde as fases iniciais, geralmente atreladas a déficits nas funções executivas. Na demência de Alzheimer (DA) e na demência vascular (DV), os pacientes têm dificuldades em tarefas que requerem concentração e foco, assim como em atividades de controle executivo.
Além disso, o déficit atencional também se associa com a lentificação da velocidade de processamento das informações, impactando nos processos concernentes à memória e ao aprendizado.
Na demência frontotemporal, por sua vez, a atenção é consideravelmente prejudicada, podendo haver distraibilidade, impulsividade e dificuldades com estímulos distraidores.
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
Transtorno bastante importante na infância e na adolescência, mas também significativamente presente em adultos. Os processos atencionais prejudicados, inibição falha e impulsividade são aspectos importantes dessa condição.
Nesse sentido, além da dificuldade marcante de direcionar e manter a atenção (hipotenacidade) a estímulos internos e externos, o paciente tem capacidade prejudicada em organizar e completar tarefas, assim como em controlar seus comportamentos e impulsos.
Pessoas com TDAH têm prejuízo relacionado à filtragem de estímulos irrelevantes à tarefa (hipervigilância).
Transtornos de humor
Pacientes com transtornos de humor têm, geralmente, dificuldades de concentração e atenção sustentada. Nos quadros maníacos há diminuição marcante da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, o que confere ao indivíduo um estado de hipotenacidade e hipervigilância.
Nos quadros depressivos, comumente, há uma diminuição global da atenção (hipoprosexia). Em alguns casos graves, o indivíduo pode apresentar grande instrospecção com fixação da atenção em certos temas depressivos – como fracasso, culpa doença, ruína etc. – (hipertenacidade), associado a rigidez e diminuição da capacidade de mudar o foco da atenção (hipovigilância).
Esquizofrenia
Os pacientes com esse transtorno, em fase aguda, apresentam distraibilidade (não conseguem se manter focados – hipotenacidade), grandes dificuldades na atenção sustentada e inadequada filtragem de informações irrelevantes (hipervigilância).
São muito susceptíveis a distrair-se com estímulos visuais e auditivos externos. Já na fase crônica podem se encontrar com hipertenacidade para a atenção interna e hipovigilância.
Perguntas frequentes
- O que é Aprosexia?
Refere-se à abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos. - Como avaliar a atenção na psiquiatria?
No exame psíquico a atenção pode ser avaliada quanto a sua tenacidade e vigilância. - O que é tenacidade?
A tenacidade consiste na capacidade de o indivíduo focar e manter sua atenção sobre determinado estímulo.