Índice
- 1 O que é o implante hormonal?
- 2 “Chip da beleza”: qual a finalidade do implante hormonal?
- 3 O que é possível encontrar no chip da beleza?
- 4 Quais os principais benefícios do implantes hormonais?
- 5 Quais os riscos da terapia hormonal com os “Chip da Beleza”?
- 6 Estudos recentes sobre o chip da beleza
- 7 Qual o valor desse procedimento?
- 8 Posicionamento ao ponderar os prós e contras do uso do implante hormonal subcutâneo
- 9 Referências bibliográficas
- 10 Sugestão de leitura complementar
O Dr. Alexandre Câmara, endocrinologista pela USP, vai abordar as polêmicas sobre o uso de dispositivos de implante hormonal, também conhecidos como chip da beleza.
Apesar de não ser autorizado pela Anvisa, e está contraindicado por várias entidades médicas, entre elas a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o Conselho Federal de Medicina (CFM), Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana), North American Menopause Society (Sociedade Americana de Menopausa – NAMS) e Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM), muitos médicos continuem prescrevendo esses implantes hormonais.
O que é o implante hormonal?
O “chip da beleza” trata-se de um implante subdérmico bioabsorvível (pallet) que pode pode conter um ou mais hormônios, e mede, em média, 3 cm a 5 cm (Figura 1). Apesar da denominação, estes implantes hormonais não têm nenhuma relação com aquele pequeno dispositivo microeletrônico codificado.

O “tubinho” feito de silástico/silicone (material também usado em próteses mamárias) é inserido no subcutâneo (geralmente do glúteo, mas também do abdômen, dorso ou braço).
A colocação do implante é realizada após uma anestesia local, como é possível visualizar na imagem abaixo.

“Chip da beleza”: qual a finalidade do implante hormonal?
A associação da gestrinona com outros esteroides androgênicos compõem maior parte dos famosos implantes hormonais, batizados de os famosos “chips da beleza”.
Esses chips são utilizados com a finalidade de promover:
- Aumento de massa muscular
- Libido
- Disposição física
- Perda de gordura
A escolha deste esteroide não é “ao acaso”, a gestrinona promove a redução da globulina de ligação de hormônios sexuais (SGBG). Com isso, há um aumento da forma livre de testosterona e potencialização da ação muscular dos anabolizantes (testosterona, oxandrolona).
A administração dos hormônios através de implantes, em comparação com o uso oral, também está relacionada a menor hepatotoxicidade e menor chance de trombose. Isso ocorre porque estes dispositivos hormônios não sofrem efeito de primeira passagem no fígado.
Nesse sentido, esta forma de tratamento pode favorecer a efetividade e otimizar os resultados. Após a implantação do pallet, ocorrerá liberação constante e linear durante os meses a anos (dependendo do tipo de implante).
Além disso, o intervalo prolongado entre as aplicações garante melhor adesão ao tratamento. Isso ocorre porque haverá menos falhas e esquecimento.
O que é possível encontrar no chip da beleza?
A sua apresentação é customizável e geralmente contém um ou mais hormônios, como:
- Gestrinona
- Nestorone (elcometrina)
- Testosterona
- Estradiol
- Nomegestrol
- Levonorgestrel, dentro outros
As paredes deste dispositivo têm poros que permitem a passagem dos hormônios de forma contínua durante um período preestabelecido (em geral de 5-6 meses a até 1-3 anos).
Quais os principais benefícios do implantes hormonais?
Este dispositivo foi desenvolvido inicialmente com a composição de gestrinona e com objetivo de auxiliar no tratamento da endometriose.
Este hormônio, é um esteroide progestágeno sintético, derivado da 19-nortestosterona. Dessa forma, possui propriedades:
- Androgênicas
- Antiestrogênicas
- Antiprogestogênica
Ele também inibe a liberação de gonadotrofinas da hipófise. O que leva a efeito contraceptivo e auxilia no tratamento da endometriose, uma vez que interrompe o ciclo menstrual.
Quais os riscos da terapia hormonal com os “Chip da Beleza”?
Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem ou de subdosagem. Isso ocorre pois a dose que o paciente necessita, na maior parte das situações, é subjetiva.
Além disso, a análise laboratorial não permite inferir diretamente a quantidade da reposição que deve ser realizada, ou seja, depende do “bom senso” do médico.
Apesar de parte dos hormônios utilizados nos implantes hormonais serem considerados “bioidenticos”, ou seja, isomoleculares , isto não é garantia de ausência de efeitos colaterais.
Efeitos colaterais
Podem haver efeitos colaterais pois os níveis suprafisiológicos de hormônios, independente da origem, estão relacionados a:
- Virilização: acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz, clitoromegalia
- Resistência insulínica
- Hiperglicemia
- Aumento do risco de trombose: embora menor do que outras formas de administração de hormônio.
Além disso, a gestrinona, um dos hormônios mais utilizados nos implantes, é um esteroide sintético. Não há evidências científicas de qualidade referentes à eficácia e segurança no longo prazo.
Estudos recentes sobre o chip da beleza
Um estudo recente nos USA mostrou que mulheres que utilizavam implantes hormonais tiveram uma incidência significativamente maior de efeitos colaterais em comparação com aquelas que utilizavam hormônios aprovados pela sua agencia reguladora – Food and Drug Administration (FDA).
No Brasil, não há nem uma bula completa destes implantes, já que não há medicamentos contendo o insumo farmacêutico ativo gestrinona com registro sanitário válido na ANVISA. Dessa forma, os pacientes não tem acesso as devidas informações.
Qual o valor desse procedimento?
O valor do procedimento é outro ponto que deve ser ponderado, já que não há garantia de eficácia deste protocolo.
Atualmente, pode custar entre R$ 3.000 e R$ 8.000, dependendo da quantidade e do tipo do hormônio utilizado.
Posicionamento ao ponderar os prós e contras do uso do implante hormonal subcutâneo
Por que a cirurgia plástica e procedimentos dermatológicos com fins estéticos são bem aceitos pelas sociedades médicas, mas a prescrição de hormônios, medicações e suplementos não?
Infelizmente, o uso e abuso de substâncias anabolizantes para fins estéticos e de aumento de desempenho físico tornou-se uma rotina perigosa em nosso dia-a-dia. No entanto, existe grande preconceito das sociedades médicas com o assunto, que simplesmente condenam esta prática justificando haver poucos dados de segurança.
Contudo, estes mesmos profissionais não se dedicam a estudar e pesquisar o assunto, tornando esta ciência nebulosa. A prática desses médicos ficam em mãos de pessoas muitas vezes despreparadas e que buscam o lucro acima de qualquer outro princípio.
No meu ponto de vista, existem vários efeitos benéficos destas medicações, mas os “contras” ainda suplantam os “prós”:
Tabela: prós e contra dos implantes hormonais (chip da beleza)
Prós | Contra |
Facilidade posológica: intervalo entre aplicações de no mínimo 5 meses e sem necessidade de retirada dos implantes | Grande dificuldade de retirar os implantes caso haja necessidade de suspender terapia devido a efeito colateral. |
A via subdérmica tem menor impacto na dislipidemia, risco de trombose e hepatotoxicidade. | Apesar de menor risco, independente do tipo de via, o uso destes esteroides pode aumentar risco de trombose e virilização – acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz, clitoromegalia. |
Doses individualizadas | Não tem aprovação das agencias regulatórias, por isso o controle de qualidade das manipulações é incerto. |
Auxilia na redução da gordura corporal e o aumento da massa magra. | Não há estudos de segurança e eficácia a longo prazo com uso de terapia hormonal através de implantes |
Além disso, considero que realmente ainda não há dados que respaldem o uso com segurança dos implantes hormonais. Contudo, isso não significa que devem ser “criminalizados”, mas deve haver incentivo para o estudo de forma séria e sem preconceitos dos protocolos que tem objetivo estético e promoção do bem-estar.
Veja nosso podcast sobre o assunto:
Referências bibliográficas
- Jiang X, Bossert A, Parthasarathy KN, Leaman K, Minassian SS, Schnatz PF, Woodland MB. Safety assessment of compounded non-FDA-approved hormonal therapy versus FDA-approved hormonal therapy in treating postmenopausal women. Menopause. 2021 May 10;28(8):867-874
- Santoro N, Braunstein GD, Butts CL, et al. Compounded Bioidentical Hormones in Endocrinology Practice: An Endocrine Society Scientific Statement. J Clin Endocrinol Metab 2016; 101:1318-1343.
- Registro ANVISA nº 1112402040010 – GESTRINONA. Disponível em: www.smerp.com.br/anvisa/ac=prodDetail&anvisaId=1112402040010
Fonte: Alexandre Câmara, médico formado pela UFRN. Residência em Clínica Médica e Endocrinologia pela USP-SP. Fellowship em pesquisa clínica Harvard T.H. CHAN ( Principles and Practice of Clinical Research). Cofundador do aplicativo InsulinAPP. Coordenador da pós-graduação de endocrinologia da Sanar.