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Tudo que você precisa saber sobre como identificar um infarto (IAM), uma das doenças coronarianas mais prevalentes do mundo.
O Infarto Agudo do Miocardio é uma das doenças cardiovasculares mais prevalentes do mundo. Ele é decorrente da morte de células do coração, cardiomiócitos, por isquemia prolongada. Essa isquemia pode acontecer de diversas formas, necessitando de investigação.
Para identificarmos o infarto na prática, é necessário conhecer os sintomas e reconhecê-los e ainda, é preciso saber laudar um eletrocardiograma (ECG).
Hoje vamos te ajudar a identificar no infarto no ECG. Mas você pode ler nossos textos sobre sintomas e armadilhas: Armadilha no IAM: 5 condutas que podem levar o paciente à morte e Sintomas do IAM: conheça os 6 principais e como reconhecê-los.
Como ocorre um infarto?
Imagine um paciente que vive com uma lesão que ocupa 30% da luz de uma artéria coronária epicárdica, por exemplo, a artéria descendente anterior. Distal a essa lesão, há uma outra de 70% da luz do vaso. Como esse paciente pode sofrer um infarto?
Ao contrário do que muitos pensam, são as lesões menores que 50% que mais frequentemente levam ao infarto agudo do miocárdio. Então, essa placa de 30% pode instabilizar e romper ou, mais comumente na era das estatinas, erodir.
E quando isso ocorre, o paciente está em risco de ter (mas não necessariamente terá) uma oclusão coronária aguda (OCA), quando o material solto pela placa rompida acaba ocluindo a lesão que estava mais distal.
Quando a oclusão coronária aguda acontece, e a cascata isquêmica se inicia (figura 01), o eletrocardiograma começa a se modificar.

Essa modificação não é fixa, mas dinâmica, o que significa que as alterações que você verá nos próximos parágrafos podem não estar presentes no paciente apenas porque estão fora do tempo de aparecimento.
Estas alterações também não são obrigatórias – veremos que alguns pacientes podem ter apenas algumas delas e não outras.
Como identificar um infarto: 1ª alteração
Confira a 1ª alteração do infarto:
A Onda T Hiper-Aguda
Quem já estudou pelo Manual de ECG já aprendeu que a procura e uma onda T negativa em casos de síndrome coronariana aguda (SCA) é pouco produtiva.
Isso porque porque, fisiopatologicamente, o primeiro achado eletrocardiográfico de isquemia é a onda T hiper aguda, que é o completo oposto da onda T negativa. Onda T negativa não significa isquemia aguda, mas edema miocárdico subagudo (após horas).
Em uma OCA, a progressão da isquemia vai do endocárdio para o epicárdio e não há razão para se pensar que o epicárdio estaria sofrendo isoladamente devido a este evento.
A busca por sinais eletrocardiográficos errados na hora errada pode ser danosa ao paciente porque, se um médico procura por um sinal, dificilmente ele encontrará outro sinal, especialmente se este outro for completamente oposto.
A onda T hiperaguda (figura 2), esta que é realmente importante neste momento em que o paciente está com dor aguda, possui base larga, é simétrica e um tanto apiculada.

Elas podem ser o único sinal eletrocardiográfico da OCA (visto que não é obrigatório que um paciente tenha supra desnivelamento do segmento ST), então o seu reconhecimento é crucial na análise eletrocardiográfica desta síndrome.
Como identificar um infarto: 2ª alteração
Confira a 2ª alteração do infarto:
O Supradesnivelamento do Segmento ST
A corrente de lesão transmural se instala a partir de 20 minutos de oclusão
coronária e representa o mais importante achado no ECG da síndrome coronariana aguda: é o famoso supradesnivelamento do segmento ST (figura 03).
De acordo com a Quarta Definição Universal de Infarto, o supradesnivelamento deve ser considerado se estiver presente em duas derivações contíguas (exceto aVR). E ainda se tiver ≥ 1 mm de amplitude em qualquer derivação, exceto V2 e V3, que variam com o sexo e idade:
- Homem < 40 anos: ≥ 2,5 mm
- Homem ≥ 40 anos: ≥ 2,0 mm
- Mulher: ≥ 1,5 mm (25)
O diagnóstico de supradesnivelamento do segmento ST nem sempre é fácil. A variabilidade inter-observador do achado do “supra de ST” chega a 15%. A própria definição de onde está o ponto J (ponto onde deve ser medido o supra) também foi motivo de erro em até 83% dos casos.

Paradigma de diagnóstico no infarto
O paradigma de diagnóstico do infarto (uma síndrome clínica) baseado mais no ECG do que na clínica do doente tem sido alvo recente de críticas. Isto porque esta estratégia possui armadilhas:
As paredes do infarto também sofreram modificação desde 2006. Foi proposta pelo professor Bayés de Luna a “nova terminologia de paredes de infarto” (ou seja, nem é tão nova assim).
De acordo com essa mesma terminologia, o termo “infarto de parede posterior” deve ser substituído pelo termo “infarto lateral”. V5 e V6 (antiga parede “lateral baixa”) deve ser substituído por apical. D1 e aVL (antiga parede lateral alta) deve ser somada a V2 para formar a parede anterior média.
Manual de ECG
Esse conteúdo teve como base o livro da Sanar Manual de ECG. O livro foi escrito pelo médico e professor Dr. José de Alencar com outros médicos especialistas no assunto. Ou seja, nele você encontra tudo que você precisa saber sobre eletrocardiograma.
Não perca tempo e aprenda tudo que você precisa saber sobre esse exame que é da rotina do médico.
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Referências
- American Heart Association. Boas práticas clínicas em Cardiologia. Infarto Agudo no Miocárdio. Hospital Do Coração.
- BORBA, L. P. et al. Infarto Agudo do Miocárdio.
- PESARO, A.E.P; SERRANO JR., C. V. S.; NICOLAU, J.C. Infarto Agudo do Miocárdio – Sindrome Coronariana Aguda Com Supradesnivelamento do segmento ST. Rev Assoc Med Bras 2004; 50(2): 214-20
- ROCHA, et. al. Panorama sobre a indentificação dos sinais e sintomas do infarto agudo do miocário pela população da cidade de Anápolis, Goiás. Trabalho de conclusão de curso de medicina UniEvangélica, Anápolis-GO, 2020.