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Como realizar a abordagem das intoxicações agudas.

Como realizar a abordagem das intoxicações agudas.

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Intoxicações: tudo o que você precisa saber para sua prática clínica!

A Intoxicação é definida quando há uma exposição a um determinado tipo de produto e/ou substância química que resulta em aparecimento de alterações bioquímicas e funcionais prejudiciais.

Essas intoxicações são um grave problema de saúde pública, visto que causam um grande impacto na saúde individual e coletiva, seja pelo importante custo econômico e social, ou pelos riscos que oferece ao meio ambiente.

É necessário que o médico saiba como manejar da melhor forma o paciente nesses casos.

Fatores de risco para intoxicação

De acordo com estudos, os principais causadores das intoxicações são de natureza química, sendo apontados mais frequentemente os:

  • Fármacos psicotrópicos: tranquilizantes, antidepressivos, barbitúricos, hipnóticos, neurolépticos e anticonvulsivantes
  • Fármacos de venda livre: dipirona, paracetamol, salicilatos, digitálicos
  • Produtos relacionados a questões ocupacionais: cumarínicos, organofosforados, piretróides e carbamatos

Além disso, fatores comportamentais também estão relacionados à ocorrência de intoxicação, são eles:

  • Suicídios
  • Automedicação
  • Abuso de medicamentos

Quais os sintomas de uma intoxicação?

A intoxicação pode ser classificada em leve, moderada ou grave. Os principais sintomas são:

  • Leve: cefaleia, irritação cutâneo mucosa, náusea e discreta tontura;
  • Moderada: cefaleia intensa, náusea, vômitos, cólicas abdominais, tontura mais intensa, fraqueza generalizada, parestesia, dispneia, salivação e sudorese aumentadas
  • Grave: miose, hipotensão, arritmias cardíacas, insuficiência, respiratória, problemas pulmonares, convulsões, alterações da consciência, coma e óbito.

Qual a abordagem inicial em uma intoxicação?

No geral, o paciente intoxicado representa uma emergência de início agudo. O atendimento deve ser feito de forma ágil, pois esses pacientes podem evoluir com comprometimento de múltiplos órgãos, se assemelhando frequentemente a pacientes politraumatizados.

Além de ser necessário realizar o tradicional ABC de reanimação, no paciente intoxicado são necessárias outras medidas gerais de desintoxicação, como:

  • Descontaminação
  • Administração de antídotos

É necessário que o médico sempre busque tentar identificar o agente tóxico, mas essa busca não deve atrasar o início das medidas terapêuticas vitais para o paciente.

Quais as principais síndromes tóxicas?

Dentre as principais síndromes tóxicas é possível citar:

SíndromeSintomatologiaAgentes
ColinérgicaMuscarínicos: bradicardia, sialorreia, náuseas e vômitos, broncoespasmo. Nicotínicos: fasciculaões, fraqueza e paralisiaOrganofosforados, carbamatos e nicotina
AnticolinérgicaHipertermia, taquicardia, hipertensão, taquipneia, midríase, mucosas secas, retenção urinária, agitação psicomotora, mioclonia, convulsões, alucinações e delírios.Atropínico, anti-histamínicos, antidepressivos tricíclicos, plantas da família Solanaceae
Hipnótica-sedativaHipotermia, bradicardia, hipotensão, bradipneia, miose, depressão neurológica e respiratória, hiporreflexia, edema pulmonarOpioides, benzodiazepínicos e barbitúricos
SimpaticomiméticaHipertermia, hipotensão, taquicardia, midríase, alucinações, convulsões.Cocaína, anfetamina, teofilina, efedrina
ExtrapiramidalMidríase, sonolência, crise oculógira, tremores, hipertonia muscular, trismoMetoclopramida, haloperidol, fenotiazídicos, bromoprida, lítio

Quais os principais antídotos utilizados na intoxicação?

Em casos de intoxicação, os principais agentes utilizados nos pacientes são:

Fonte: T. F. Galvão, M. G. Pereira e M. T. 

Como deve ser realizada a prescrição de antídotos?

O médico deve estar habilitado para prescrever de forma ágil um antídoto em caso de intoxicação. Na lista abaixo, é possível entender a prescrição dos principais antídotos.

  • Atropina: Dose inicial: 1-4 mg em bolus (crianças 0,05 a 0,1mg/kg), repetidos a cada 2-15 minutos até atropinização plena
  • Flumazenil: Dose inicial: 0,3mg IV em 15 a 30 segundos. Repetir de acordo com necessidade até o máximo de 3 mg.
  • Glucagon: 3 a 5mg IV em 1-2 minutos. A dose pode ser repetida até atingir total de 10mg. Crianças: 50mcg/kg. Seguir com infusão contínua de 2-10mg/h
  • Gluconato de cálcio: Adultos: 20mL de GC a 10% diluídos em 100ml de SF 0,9% 100ml IV em 5 minutos. Pode-se repetir até 3-4 vezes. Crianças: 0,2-0,3ml/kg de GC a 10% em 30 ml de SF 0,9% IV em 5 minutos. Repetir, se necessário, até total de 6 ml em 1 hora.
  • Vitamina B12: Adultos: 5g IV durante 15 minutos. Em caso de PCR ou instabilidade cardíaca, pode-se infundir uma segunda dose de 5g durante 15 minutos a 2 horas. Não exceder um total de 10g, incluindo a dose pré-hospitalar; Crianças: 70mg/kg IV durante 15 minutos. Em caso de PCR ou instabilidade cardíaca, pode-se infundir uma segunda dose de 70mg/kg durante 15 minutos a 2 horas. Não exceder um total de 10g, incluindo a dose pré-hospitalar.
  • Vitamina K: Administrar a cada 8-12 horas até normalizar TP; Adultos: 10-20mg/dose IM ou IV lentamente (1mg/min). Crianças: 0,3 a 0,6mg/kg/dose IM ou IV lentamente.
  • Anticorpo antidigoxina: Administração: Diluir cada ampola em 4 mL de água destilada; Dose variável conforme a quantidade ingerida; 1 ampola (38 mg) neutraliza 0,5 mg de digoxina ou digitoxina; Dose média: 4 – 6 ampolas para casos crônicos e 10 a 20 ampolas para casos agudos. Infusão IV lenta em 30 minutos.

Outros antídotos

  • Etanol: Dose de ataque: 0,8g/kg de etanol diluído à 10% IV em 1 hora. Diluir em SG 5% (solução a 10%). Manutenção: 130 mg/kg/hora IV
  • Biperideno: Para reversão dos sintomas extrapiramidais: Adultos: 3 a 5 mg(6/6h S/N); Crianças : 0,06 a 0,1mg/kg/dose de 6/6h
  • Piroxidina: 1g de piridoxina para cada grama de isoniazida IV até o máximo de 5g. Vel. de infusão: 0,5g/min
  • Naloxona: 0,4 – 2 mg IV, pode ser repetido em 2-3 minutos até o máximo de 10mg.
  • Pralidoxima: Dose inicial: 1g IV. Pode ser repetida 1 hor
  • N-acetil-cisteína: Dose de ataque: 140 mg/kg VO, Manutenção: 70mg/kg, 4/4 horas ( total de 17 doses)
  • Terra de Fuller: 60 g em 200 ml de Soro Glicosado a 5% por sonda nasogástrica de 4/4 horas

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Referência bibliográfica

  • Rang, H.P; Dale, M.M. Editora Elsevier, 8edição, 2016. 
  • T. F. Galvão, M. G. Pereira e M. T. Antídotos e medicamentos utilizados para tratar intoxicações no Brasil: necessidades, disponibilidade e oportunidades. Disponível aqui. Acesso em 24 de Fevereiro de 2023.

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