A partir da transição epidemiológica, em meados do século XX,
observou-se a redução das doenças infectocontagiosas e o aumento das doenças
crônicas não transmissíveis. Tendo isso em mente, ao considerar o panorama de
saúde da população brasileira, constata-se a elevada prevalência das doenças
crônicas, por exemplo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, artrite,
depressão, asma, entre outras.
A respeito da diabetes mellitus no cenário mundial, em 2017, a
Federação Internacional de Diabetes estimou que 8,8% da população entre 20 e 79
anos de idade vive com diabetes.
Além da transição epidemiológica supracitada, fatores como rápida
urbanização, mudança nos hábitos alimentares, estilo de vida sedentário,
envelhecimento populacional e aumento da sobrevida dos indivíduos com diabetes
contribuíram para o incremento da prevalência da diabetes.
Sabendo das informações expostas até então, você já pode perceber
a relevância dessa doença para população e, inclusive, é muito provável que
você conheça alguém com diabetes! Nesse sentido, é de suma importância
compreender essa condição clínica e seus critérios diagnósticos, tópicos que
serão abordados adiante neste texto.
Conceito de
diabetes mellitus
O diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico causado pela
deficiência na produção de insulina e/ou na sua ação, resultando em
hiperglicemia persistente.
Classificações
de diabetes mellitus
De acordo com a sua etiologia, o diabetes pode ser classificado em
DM tipo 1, DM tipo 2, DM gestacional e outros tipos de DM.
Diabetes mellitus tipo 1 (DM 1)
O DM tipo 1 consiste em uma doença autoimune provocada pela
destruição das células beta pancreáticas, levando à deficiência completa na
produção do hormônio insulina.
A prevalência de DM 1 é de 5 a 10% dentre os casos de diabetes
mellitus, ressaltando-se que é diagnosticado
mais frequentemente em crianças e adolescentes.
Ademais, o DM tipo 1 pode ser subdividido em tipo A e tipo B.
Diabetes mellitus tipo 1A
É caracterizado pela deficiência de insulina decorrente à
destruição autoimune do pâncreas devido à presença de autoanticorpos (ICA, IAA,
anti-GAD65, IA-2, IA-2B e Znt8), os quais são detectados por exames
laboratoriais.
Diabetes mellitus tipo 1B
É caracterizado pela deficiência de insulina sem que os
autoanticorpos sejam detectáveis.
Diabetes mellitus tipo 2 (DM 2)
O DM tipo 2 consiste em uma doença multifatorial caracterizada
pela perda progressiva da secreção de insulina associada à resistência
periférica a esse hormônio. Salienta-se a existência tanto de componentes
genéticos, quanto de componentes ambientais, os quais incluem hábitos de vida,
alimentação inadequada, falta de exercícios físicos, obesidade, dislipidemia.
A prevalência de DM 2 é de 90 a 95% dentre os casos de diabetes
mellitus, ressaltando-se que ele é diagnosticado em indivíduos acima de 40
anos, geralmente.
Diabetes mellitus gestacional (DMG)
O diabetes mellitus gestacional consiste em níveis variados de
hiperglicemia durante a gestação, sem que haja o diagnóstico prévio de DM. Essa
condição pode ser justificada pela produção placentária de hormônios
hiperglicemiantes e enzimas que degradam a insulina, resultando no aumento da
produção de insulina, bem como na resistência a ela.
Outros tipos de diabetes mellitus
Nesta classificação, estão englobados os outros tipos de DM, tais
quais defeitos genéticos (por exemplo, MODY), diabetes mellitus secundários a
endocrinopatias, medicamentos, infecções ou doenças do pâncreas exócrino.
Diagnóstico
de diabetes mellitus
Como explicitado acima, o quadro clínico do diabetes mellitus é
caracterizado por hiperglicemia, a qual está intimamente relacionada às
complicações crônicas micro e macrovasculares da doença, como retinopatia,
nefropatia, neuropatia, doença coronariana, doença cerebrovascular e doença
arterial periférica.
Sendo assim, é imprescindível conhecer os critérios diagnósticos
do diabetes mellitus no intuito de identificar os pacientes acometidos e
tratá-los adequadamente.
Critérios diagnósticos de diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2
Os critérios diagnósticos de diabetes mellitus incluem glicemia em
jejum (coletada em sangue periférico após 8 horas, no mínimo, de jejum), teste
oral de tolerância à glicose ou TOTG (ingestão de 75g de glicose dissolvida em
água e coleta de uma amostra de sangue após 2 horas), hemoglobina glicada ou
HbA1c (medida indireta dos níveis glicêmicos) e quadro clínico clássico, o qual
é composto por poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento.
Dessa maneira, tem-se o diagnóstico de diabetes mellitus nas
seguintes situações:
- Glicemia em jejum ≥ 126mg/dL, em dois exames
alterados, ou - Teste oral de tolerância à glicose ≥ 200mg/dL,
em dois exames alterados, ou - Hemoglobina glicada ≥ 6,5%, em dois exames
alterados, ou - Glicemia ao acaso ≥ 200mg/dL associada ao
quadro clínico clássico.
Vale
ressaltar que os exames de glicemia em jejum, TOTG e hemoglobina glicada devem
apresentar duas amostras alteradas para configurar o diagnóstico de DM, ao
passo que os pacientes sintomáticos com glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dL não
necessitam repetir os exames.
Por sua vez, a pré-diabetes indica uma situação de risco aumentado
para desenvolvimento de diabetes mellitus e seu diagnóstico é dado nas
seguintes situações:
- Glicemia em jejum ≥ 100mg/dL e < 126mg/dL
ou - Teste oral de tolerância à glicose ≥ 140mg/dL
e < 200mg/dL ou - Hemoglobina glicada ≥ 5,7% e <6,5%.
Na tabela a seguir estão sintetizados os critérios diagnósticos
para diabetes mellitus pela Sociedade Brasileira de Diabetes:
Critérios diagnósticos de diabetes mellitus gestacional
É essencial orientar as gestantes a realizarem as consultas de
pré-natal a fim de realizarem os exames preconizados para diagnosticar algumas
patologias, por exemplo, diabetes mellitus.
Vale evidenciar que os valores de corte para as gestantes são
diferentes das não-gestantes.
Os critérios diagnósticos de diabetes mellitus gestacional incluem
glicemia em jejum e teste oral de tolerância à glicose.
Nesse sentido, recomenda-se que toda mulher, entre 24 e 28 semanas
de gestação, e com glicemia em jejum < 92mg/dL deve ser submetida ao teste
oral de tolerância à glicose. Nesse teste, faz-se a coleta do sangue após 8
horas de jejum e 1 e 2 horas após a sobrecarga com 75g de glicose.
Dessa maneira, tem-se o diagnóstico de diabetes mellitus
gestacional nas seguintes situações:
- Glicemia de jejum ≥ 92mg/dL ou
- Teste oral de tolerância à glicose na 1ª hora
≥ 180mg/dL ou - Teste oral de tolerância à glicose na 2ª hora
≥ 153mg/dL
Na tabela a seguir estão sintetizados os critérios diagnósticos
para diabetes mellitus gestacional pela Sociedade Brasileira de Diabetes:
Confira o vídeo:
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