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Dez práticas para o atendimento de pacientes na emergência | Colunistas

Dez práticas para o atendimento de pacientes na emergência | Colunistas

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Conheça a estratégia que as escolas médicas adotaram para homogeneizar as boas práticas também no atendimento da emergência.

Se você parou neste texto, de um site voltado para profissionais de medicina ou saúde em geral, ouso dizer que você está em alguma sala de emergência pelo nosso país e, cheio de dúvidas e inseguranças sobre a prática clínica, fez uma busca sobre atendimento na emergência.

Por isso, hoje estou aqui para conversar contigo sobre a estratégia que, nos últimos anos, as escolas médicas adotaram para respaldar suas atividades práticas com a finalidade de homogeneizar as boas práticas também no atendimento da emergência.

Claro que grande parte do atendimento ao paciente, em qualquer cenário, advém do arcabouço de relacionamento experienciado durante a vida de ambos os lados do binômio médico-paciente.

Entretanto, estou aqui para falar de boas práticas, de procedimentos a serem adotados como rotina para buscar uma melhor qualidade no atendimento já que apenas você foi treinado os seis anos da graduação para manter seu julgamento o mais técnico possível, mesmo em situações adversas

Claro que isso não é uma chancela para você aceitar qualquer condição que vilipendie a sua integridade ou sua decisão médica – isso outros colunistas aqui do site já abordaram e ainda abordarão, com muito mais propriedade que eu.

No entanto, vamos ser honestos: o único lado que podemos conseguir treinar para que a relação seja a mais sadia possível é o do profissional.

Por conta disso, busquei elencar pontos chaves que julgo serem essenciais para, ao mesmo tempo, remar na direção da excelência do atendimento, bem como respaldar-nos em situações em que, mesmo tendo seguido estes passos e oferecido o mais primoroso atendimento, este seja questionado e/ou mal recebido pelo outro componente do binômio.

Confira a seguir, cada um desses dez itens:

Entender não é aceitar!

Como lidar com um paciente que esteja sendo impolido?

A empatia é o exercício mais difícil das últimas décadas. Ela é, em poucas palavras, a capacidade de se colocar no lugar do outro, tentando imaginar como seria passar por aquela situação, caso fosse conosco.

Essa simples e rápida forma de pensar já nos inclinará para a demanda do próximo, tornando-nos mais tolerantes e resolutivos.

Lembre-se que, na Psicologia Médica, durante a faculdade, você também foi confrontado sobre a importância da empatia para a construção de um laço de confiança, o que diminui possíveis chances de litígios e resguarda o profissional, até mesmo de desgastes de ações judiciais.

Fora isso, ao ser empático – invariavelmente – você causa um desconforto naquele que possa estar com os ânimos alterados (testa e depois me conta).

Anamnese e exame físico

Numa era em que as relações se virtualizam, não seria muito incomum nos deixarmos tender pela tecnologia também no âmbito da medicina.

Há um crescente movimento – embora incorreto – a relegar aos exames complementares a função da primazia médica: a história clínica e o exame físico.

Neles você terá base diagnóstica na grande maioria dos casos, mesmo os executando de forma direcionada.

Agora cuidado: o direcionamento para o sistema em questão não pode fazer com que você deixe de lado os outros sistemas que possam estar imbrincados com a queixa.

Aqui, vale se utilizar da prevalência, buscando primeiro o que é mais comum.

Ainda neste tema, lembrei que assisti, no meu primeiro ano de faculdade, um vídeo de Abraham Verghese, médico e professor na Universidade de Stanford, da segunda temporada TED Talks (Clique aqui para ver) que se chamava “Um toque de médico”.

Nele, o professor destaca, dentre outras histórias, a de uma mulher atendida na emergência de um pronto-socorro que poderia ter tido sua história completamente alterada pelo simples exercício da anamnese.

Afinal, “a clínica é soberana”, não é? (não vou dar mais spoilers! Pausa aqui e vai assistir!)

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Qual o tratamento ideal para aquele paciente?

De nada adianta você ser um médico empático, se não tiver conteúdo. Lembre-se que, principalmente ali, sua mão amiga é importante, mas exercitar a tentativa da cura vem antes do conforto até na máxima atribuída à Hipócrates:

“Curar quando possível; confortar quando necessário; consolar sempre”.

Sendo assim, estar atualizado com as condutas e protocolos das emergências são essenciais para uma boa prática. 

Busque se atualizar, afinal, o médico é uma construção paulatina; temos várias opções de atualização, desde os cursos do SanarFlix, do Sanar Residência Médica, os livros textos e – o meu preferido – YellowBook! (Não, mesmo parecendo, não é uma propaganda…

Eu realmente sou aluno Sanar Residência Médica!). Muitas outras instituições de ensino superior, consensos e associações liberam atualizações progressivas. Então, não tem desculpa para não estar atualizado.

Esse é o melhor atendimento que eu posso oferecer, nas condições que eu tenho?

Há uma grande diferença entre aquilo que está na literatura como o melhor, que seria ótimo se pudesse ser feito, para aquilo que muitas vezes temos na prática.

Não adianta solicitar uma pesquisa para Dengue do NS1 no primeiro dia de sintomas, se você está no SUS que só faz Sorologia IgM a partir do 6 dia de doença.

A capacidade de adaptação ao meio quase que “camaleônica” do médico é uma das características mais importantes nos profissionais em um país com tantas variações diastráticas, também entre as instituições de saúde.

Seria uma maravilha poder solicitar – e ter o resultado de – todos os nossos anseios médicos, pelo bem do nosso paciente. Mas não se frustre: aos poucos você encarará as dificuldades com mais tranquilidade.

Quais as melhores opções para aquele paciente?

De nada adianta você saber as melhores semiotécnicas, ter a melhor propedêutica armada, mas ser um profissional que não se inclina àquele que está sob seus cuidados.

Colegiar a decisão do tratamento, mesmo na emergência, com o seu paciente, não lhe faz menos capaz, não demonstra fraqueza ou, muito menos, é motivo de demérito.

Obviamente, caso seja uma situação que ponha em risco iminente a vida do seu paciente, a conduta Paternalista é mais que um direito, é uma obrigação, visto que inebriados pela emoção da situação, podem não saber discernir o melhor – isto é, se tiverem capacidade cortical para isso no momento do atendimento. 

Registro no prontuário

Muitas vezes, o cenário de caos pode se instalar dentro do ambiente que você está. Prescrições verbais podem ser necessárias em momentos enérgicos que não poderiam aguardar o bordar de letras no prontuário.

Logo que der, anote horário, via de administração, dose e, caso você ainda seja interno, faça isso sob supervisão solicitando ao seu preceptor que cheque se você cumpriu as expectativas dele ao lhe conferir a responsabilidade de ajudar no momento do atendimento da emergência.

Assim, você criará o hábito do registro, que fará com que na sua vida prática isso seja parte do seu protocolo operacional padrão.

Aqui vai uma dica: um artifício bom que eu uso é utilizar o dorso da luva para elencar ordens dos preceptores ou medicações feitas.

Além dos dados habituais, anote nele todo o seu atendimento, deixando claras as dificuldades encontradas – caso haja – de qualquer natureza, desde a ausência de algum material que não permitiu um tratamento mais direcionado, como até fatos conflituosos que ocorreram.

Lembre-se, ele é sua maior defesa, mas pode ser seu maior algoz. Você que decidirá qual papel ele desempenhará na sua carreira.

Como eu posso melhorar?

A capacidade de aprender com os erros nos difere como dotados de racionalidade.

Por certo, situações que lhe trouxeram dissabor lhe conferiram um aprendizado mais vívido do que aquela matéria que você apenas leu por madrugadas afins.

Não desejo que você erre, até porque a emergência é um ambiente onde desfrutamos de pouca margem de segurança para tal.

Mas, como os erros serão inevitáveis, desejo que você tenha a resiliência de aprender com eles e, assim, encorpar-se experiente com o passar do tempo.

Cuide-se!

Não é possível cuidar sem se cuidar! A emergência, por mais prazerosa que seja, é um ambiente que consome muito nossas forças, capacidades mental e física.

Portanto, se exercite, pratique esportes, estude o que gosta, saia, interaja… Nem só de plantão vive o interno/médico!

Você vai ver que, com a prática regular, seu rendimento melhorará na vida pessoal e no plantão, bem como todos os outros fatores que já descrevi acima!

Dialogue

A imensa maioria dos problemas se resolvem na base do diálogo, em qualquer âmbito. Busque saber o que o paciente ou acompanhante sabe sobre o agravo, as expectativas ou condições de base.

É normal que as pessoas estejam agressivas com o medo da perda em um primeiro contato.

Busque incluir, sempre que possível, uma equipe multiprofissional no diálogo com os pacientes – sim, também na emergência!

Se não fosse para ser assim, não existiriam assistentes sociais e corpo de enfermagem junto com você nos departamentos de emergência, Unidades de Pronto Atendimento e congêneres.

Você vai ver que tudo vai ser bem mais tranquilo e fluirá melhor, a partir das diferentes habilidades de cada profissão na condução do diálogo.

Busque pelo melhor momento. Nem sempre o momento inicial de estabilização do paciente é o melhor momento para o diálogo completo, mas isso não o faz menos importante ou passível de ser ignorado.

Além do efeito terapêutico atrelado ao ato de falar, temos o efeito terapêutico de ouvir.

Procure ouvir e se munir de estratégias que possibilitem um melhor entendimento, afinal, você pode estar certo do que falou, mas nunca vai estar certo do que o outro compreendeu.

E se tudo falhar?

Se tudo falhar, busque apoio no seu staff/preceptor/ chefe de plantão. Nada melhor do que a experiência de quem já foi submetido a situações do mesmo padrão para lhe aconselhar qual o melhor caminho a seguir.

Aos poucos você verá que as situações tendem a ter um padrão, bem como os conflitos, como quase tudo na vida.

Como ia dizendo, não sei de que lado se encontra – atendendo ou sendo atendido –, mas, depois do tempo desta nossa “conversa”, acredito que você estará mais aberto a dialogar de forma mais racional e empática na situação que possa passar ou estar passando.

Como sempre, em caso de dúvida ou querendo alongar mais a discussão, manda uma mensagem para mim (@malconlins).

Autor: Malcon Lins.

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