Carreira em Medicina

Para ser um bom médico é preciso perder a empatia pelo próximo?

Para ser um bom médico é preciso perder a empatia pelo próximo?

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Imagem de perfil de Karol Barreto

O que faz um profissional de medicina ser considerado um bom médico? É ter muita empatia pelo paciente? É não ter empatia? Continue a leitura deste post para saber mais sobre essa temática.

A profissão médica está sujeita a um dos processos mais perigosos para o ser humano: a erosão da empatia. E o que acontece se uma profissão, inserida entre as profissões que mais lidam com a vida humana, perde sua capacidade de empatizar com o próximo?

Neste post iremos explorar o fenômeno que leva à perda da empatia no médico, quais as suas causas e consequências, e como podemos minimizar este processo erosivo. 

O que é empatia?

O primeiro problema que devemos enfrentar ao falar de um assunto tão delicado é a definição dos termos. Há muitas definições diferentes de empatia. É preciso que você e eu estejamos com o mesmo conceito em mente para que haja algum benefício neste texto. 

Ao falar de empatia aqui, usarei a definição utilizada no clássico estudo denominado “The Devil is in the Third Year: A Longitudinal Study of Erosion of Empathy in Medical School”, publicado na revista Association of American Medical Colleges. 

De acordo com os autores do estudo, no contexto médico, a empatia é melhor definida como um atributo cognitivo, ou seja, consiste na compreensão por parte dos médicos, dos problemas dos pacientes, associada a uma intenção de ajudar, aliviando a dor e o sofrimento. 

Bom médico: empatia x simpatia

Agora que já definimos o conceito de empatia, é importante diferenciá-la da simpatia. A simpatia é melhor definida como um atributo emocional. Ao ser simpático com um paciente, o médico experimenta sentimentos intensos diante da dor e sofrimento que presencia. 

Tá, mas e por que é tão importante falar destes conceitos? Porque ambos podem produzir resultados muito diferentes na prática clínica. Poderíamos dizer que ter empatia nunca é demais. O esforço em compreender e tentar aliviar o sofrimento humano sempre levará o médico numa boa direção, de crescimento profissional e benefício para os pacientes.

Já a simpatia em excesso pode ser muito prejudicial. Por exemplo, o excesso de simpatia, ou seja, apresentar sentimentos intensos diante dos problemas de um paciente, pode prejudicar a neutralidade e raciocínio necessários para a tomada da melhor decisão médica. 

A simpatia demasiada também poderá predispor o médico ao Burnout e à exaustão psicológica.

Perceba que estou sempre usando a palavra “excesso” de simpatia. Os autores do estudo comparam o benefício da simpatia como uma curva de “U” invertida, ou seja, ela será benéfica até determinado ponto, a partir do qual começará a criar efeitos deletérios, sobre os quais falaremos no próximo tópico. 

A erosão da empatia durante a faculdade de medicina

No início da faculdade de medicina, os corações estão cheios de boas intenções. Há na maioria dos estudantes de medicina um desejo genuíno de exercer a sua profissão de forma humana, e é normal que haja nesse momento muita idealização. 

Porém, como apontou o estudo em questão, conforme os estudantes começam a progredir na faculdade, parece haver uma “desumanização traumática” por parte dos estudantes. Há um declínio progressivo da empatia nestes estudantes.

É óbvio que não existe uma única resposta para a pergunta do porquê isto acontece. Poderíamos citar como exemplos a extenuante carga horária de estudos e estágios, a pressão excessiva sentida pelos estudantes, e até mesmo o foco demasiado em tecnologias e distanciamento emocional dos médicos. 

Há ainda outros fatores como a falta de modelos, a privação de sono, o presenciar frequentemente o sofrimento humano. Diante de todos estes fatores ocorre, por assim dizer, uma erosão na empatia dos estudantes de medicina. É como se os estudantes desenvolvessem a capacidade de não empatizar como mecanismo de autodefesa. 

Proteja-se contra a perda da empatia

Nós poderíamos falar de inúmeras estratégias que as faculdades poderiam (e deveriam) adotar para evitar este fenômeno. Mas estas estratégias não estariam ao seu alcance. Por isso, eu gostaria de te dar algumas dicas que podem te ajudar a minimizar esse processo erosivo. 

A primeira delas é reconhecer o problema, buscando sempre se lembrar da sua essência. Veja, você não é um médico ou estudante anti-empático. Você pode estar desenvolvendo a antipatia como mecanismo de defesa. 

Para alguns problemas na vida, a solução consiste apenas em “lembrar” que o problema existe. Por exemplo, quando você toma consciência que este processo pode estar se dando contigo, lembre-se disso e tente prestar atenção em si, e em como lida com as dores do outro. 

Outra dica é buscar bons exemplos. Eles sempre existem, ainda que sejam raros. Se espelhe em professores em quem você enxerga como alguém que tem bom sucesso na relação médico-paciente, que mostra se importar e empatizar com aqueles sob seu cuidado. 

Por fim, lembre-se sempre que a empatia é um atributivo cognitivo, e como tal, pode ser adquirido, treinado e melhorado.

Quer ser um bom médico?

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