Índice
- 1 O que é a poliomielite?
- 2 Epidemiologia da poliomielite: como se distribui?
- 3 Tipos de poliovírus: entendendo a patogênese da poliomielite
- 4 Transmissão da poliomielite: quais as medidas de prevenção da doença?
- 5 Quadro clínico da poliomielite
- 6 Diagnóstico de poliomielite e o papel dos médicos nessa identificação
- 7 Manejo clínico da poliomielite: tratando os sintomas e sequelas
- 8 Campanhas de vacinação contra a poliomielite: prevenção pela cobertura vacinal e impacto na redução de casos
- 9 Síndrome pós-poliomielite (SPP)
- 10 Perguntas frequentes
- 11 Referências
Entenda o que é a poliomielite, as causas dessa doença e as manifestações clínicas, ainda, conhecendo as prevenções adequadas. Bons estudos!
A poliomielite, também conhecido como pólio ou paralisia infantil, é uma doença de grande repercussão no território brasileiro. Por isso, embora os existentes métodos de prevenção disponíveis, entender os processos envolvidos nessa doença são fundamentais para os médicos recém-formados.
O que é a poliomielite?
A poliomielite, comumente chamada de paralisia infantil, é uma doença causada pelo poliovírus da família Piconarvirus.
Trata-se de uma doença de causa infecciosa, que afeta o sistema nervoso central, com consequência paralisia em alguns infectados. A infecção pelo vírus pode ocorrer através do contato com fezes ou secreções de pessoas infectadas, ou através de alimentos e água contaminados.
O vírus tem neurotropismo e manifesta-se como síndrome gripal, gastroenterite, meningite e plegias. Embora poliomielite não represente mais a ameaça mundial à saúde pública após o controle com a vacinação, pequenas áreas de poliovírus selvagem endêmico ainda existem.
Essas áreas são em partes da Ásia e surtos com poucos casos de poliomielite, associada à falhas na cobertura vacinal, continuam a ocorrer, inclusive no Brasil.
Epidemiologia da poliomielite: como se distribui?
No cenário mundial, após a instauração do Programa Global de Erradicação da Pólio, houve erradicação mundial abrangente da poliomielite selvagem.
Menos de 200 casos de poliomielite são relatados anualmente nos dois países que ainda não erradicaram a poliomielite: Paquistão e Afeganistão. Atualmente, a poliomielite é uma doença rara em todo o mundo, graças aos esforços de programas de vacinação em massa.
Tipos de poliovírus: entendendo a patogênese da poliomielite
O poliovírus, que é um vírus RNA fita simples, da família Picornavírus, que existe em três sorotipos, tipos 1, 2 e 3. O poliovírus é transmitido principalmente por contaminação fecal-mão-oral. Durante as epidemias, também pode ser transmitido por disseminação faríngea.
A entrada por via oral é seguida pela replicação primária nos tecidos linfáticos dos tratos orofaríngeo e gastrointestinal. O período de incubação ocorre em média entre 7 a 12 dias.
Ocorre uma viremia primária assintomática, com disseminação do vírus para o tecido reticuloendotelial sistêmico. Durante esse tempo, o vírus dissemina-se por via hematogênica. A partir disso, ocorre o acometimento de:
- Linfonodos cervicais;
- Tonsilas palatinas Folículos linfáticos do intestino;
- Órgãos, como meninges, miocárdio e tecido nervoso.
Há um neurotropismo viral, mas o mecanismo de disseminação do poliovírus para o SNC não é bem compreendido. Pode ocorrer por passagem viral do sangue ao cruzar a barreira hematoencefálica ou por transporte axonal retrógrado do músculo para a medula espinhal/cérebro.
Depois de se disseminar para o SNC, ocorre replicação viral nos neurônios motores espinhais resultando em morte celular e paralisia das fibras musculares inervadas pelo neurônio motor afetado. As lesões ocorrem preferencialmente na substância cinzenta dos cornos anteriores da medula.
A partir disso, ocorre degeneração dos corpos neuronais, desmielinização e degeneração dos axônios. O envolvimento dos nervos cranianos e músculos torácicos pode causar dificuldade para engolir e insuficiência respiratória.
Transmissão da poliomielite: quais as medidas de prevenção da doença?
Como comentamos, a transmissão principal da pólio é oral-fecal. Ou seja, alimentos contaminados com fezes de pessoas infectadas pelo vírus são potenciais transmissores. Assim, é fundamental que eles sejam higienizados corretamente, a fim de evitar essa contaminação.
Segundo o Ministério da Saúde, os alimentos como frutas, verduras e legumes devem ser higienizados com 2 colheres de água sanitária para cada 1L de água. A água sanitária não deve contar alvejante e perfume.
Além da oral-fecal, a contaminação pela pólio pode ocorrer por contato direto com secreções respiratórias, ou objetos contaminados (fômites). Ou seja, até mesmo sem o contato com um pessoa contaminada, a pólio ainda pode ser transmitida.
Quadro clínico da poliomielite
A fase virêmica ocorre de maneira assintomática em 95% das crianças ou apresenta-se com sintomas leves, como síndrome gripal ou gastroenterite.
Após a fase de viremia, cerca de 5-10% dos pacientes pode progredir para o acometimento neurológico, também chamado doença maior. A marca registrada da doença maior na poliomielite é a paralisia flácida aguda devido à lesão das células do corno anterior.
Na paralisia flácida, os músculos afetados se tornam flácidos e podem apresentar atrofia (diminuição do tamanho) devido à falta de uso. Os pacientes podem ter dificuldade para se mover ou realizar atividades cotidianas e podem apresentar alterações na postura, no equilíbrio e na marcha.

O inicio infeccioso pode ser acompanhada de sintomas de meníngeos, como rigidez do pescoço, dor de cabeça, febre e vômitos. O líquido cefalorraquidiano (LCR) é característico de meningite viral, com pleocitose leve e predominância linfocítica.
A fraqueza geralmente piora em dois a três dias, embora às vezes a piora possa progredir por até uma semana. Os músculos proximais geralmente são afetados mais que distais, e as pernas mais comumente do que os braços.
O tônus está reduzido, quase sempre de forma assimétrica, e há diminuição ou dos reflexos tendinosos. O envolvimento bulbar ocorre em 5-35% dos pacientes, produzindo disfagia, disartria e dificuldade de manipulação de secreções.
Diagnóstico de poliomielite e o papel dos médicos nessa identificação
O diagnóstico de poliomielite é suspeitado com base na apresentação clínica de paralisia flácida aguda. Ainda, associada a sinais meníngeos, juntamente com base na epidemiologia e histórico de exposição.
O diagnóstico laboratorial específico se dá através do isolamento viral. Ele é feito pela técnica de reação de cadeia de polimerase (RT-PCR), sequenciamento nucleotídico e cultura, a partir das fezes.
Deve ser realizado a partir de duas ou mais amostras de fezes. Elas que devem ser coletadas na fase aguda da doença, ou seja até o 14° dia do início dos sintomas. Por outro lado, o isolamento viral a partir do LCR tem baixa sensibilidade, mas sua coleta pode ser útil para descartar meningite de outras etiologias.
Quando disponível, a ressonância magnética da coluna é útil para descartar uma mielopatia aguda. Entretanto, a apresentação clínica deve ser suficiente para diagnosticar uma síndrome do neurônio motor inferior puro.
Todo caso de paralisia flácida aguda deve ser notificado imediatamente à Secretaria Municipal de Saúde com o registro da notificação no SINAN. A notificação é através do preenchimento e envio da Ficha de Investigação de Paralisia Flácida Aguda/Poliomielite.
Manejo clínico da poliomielite: tratando os sintomas e sequelas
Não há tratamento específico para poliomielite, apenas de suporte, mas todo o caso de paralisia flácida aguda deve ser internado.
No estado agudo da doença, a administração de sintomáticos pode ser feita, devido à dor, febre e desconforto muscular.
Se ocorrer insuficiência respiratória, importante garantir via aérea e avaliar ventilação mecânica. Pacientes com envolvimento bulbar requerem monitoramento rigoroso do estado cardiovascular devido à associação com flutuações da pressão arterial, colapso circulatório e disfunção autonômica.
Campanhas de vacinação contra a poliomielite: prevenção pela cobertura vacinal e impacto na redução de casos
As campanhas de vacinação contra a pólio iniciaram-se no Brasil em 1960, sendo realizadas 2 vezes ao ano, conhecida como “gotinha“. Essa vacina propicia imunidade individual e aumenta a imunidade de grupo na população em geral.

No Brasil, o último caso de poliomielite ocorreu em 1989, na cidade de Souza/PB. A estratégia adotada para a eliminação do vírus no país foi centrada na realização de campanhas de vacinação em massa com a vacina oral contra a pólio (VOP).
A VOP é administrada
Trata-se de uma vacina oferecida gratuitamente pelo SUS. É altamente recomendada para todas as crianças e adultos. Ainda, especialmente para aqueles que viajam para áreas onde a doença ainda é endêmica.
Síndrome pós-poliomielite (SPP)
Até metade dos sobreviventes da poliomielite desenvolvem incapacidade consistente na síndrome pós-poliomielite (SPP) nas décadas seguintes à doença inicial.
Os sintomas da SPP incluem:
- Fraqueza progressiva;
- Fadiga;
- Dor nos músculos ou articulações;
- Atrofia muscular;
- Dificuldades respiratória;
- Deglutição.
A causa da deterioração neurológica progressiva em pacientes com SPP é desconhecida.
A gestão de SPP é principalmente sintomática e de suporte. Pode ser recomendado a fisioterapia, ajudando a manter a força muscular e flexibilidade, prevenindo complicações, como deformidades musculares e contraturas.

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Perguntas frequentes
- O que é a poliomielite?
A poliomielite é uma doença viral altamente contagiosa que afeta o sistema nervoso, podendo causar paralisia e até mesmo a morte. - Como a poliomielite é transmitida?
A poliomielite é transmitida principalmente por via fecal-oral, através da ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes de uma pessoa infectada. - Existe uma vacina contra a poliomielite?
Sim, existem vacinas eficazes contra a poliomielite, incluindo a vacina oral e a vacina injetável. A vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a doença.
Referências
- Poliomyelitis and post-polio syndrome. Laura Simionescu, MD. UpToDate
- Poliomielite (paralisia infantil). Biblioteca Virtual em Saúde. Ministério da Saúde.