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Infecção intestinal: o que é e como manejar o paciente

Infecção intestinal: o que é e como manejar o paciente

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Resumo sobre infecção intestinal (completo): da definição ao tratamento, passando pela fisopatologia, epidemiologia, quadro clínico e diagnóstico. Confira!

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS),  as infecções intestinais associadas a quadros diarreicos são a segunda causa de morte de origem infecciosa em todo o mundo. Cerca de 3 a 5 bilhões de quadros infecciosos gastrointestinais ocorrem por ano. Nos países em desenvolvimento estima-se a ocorrência média de 4 a 10 episódios em cada indivíduo por ano. 

Na população pediátrica, principalmente na faixa etária de lactentes e pré-escolares, a doença sempre foi causa importante de mortalidade. No entanto, segundo a OMS, nas últimas décadas houve redução significativa da mortalidade, sendo registrado 3,5 milhões de mortes em 1982 e 1,5 milhões em 2011. 

O que é a infecção intestinal?

A infecção intestinal é a causa mais comum de diarreia aguda nos adultos e de transmissão fecal-oral. Geralmente ela surge após o consumo de alimentos ou água contaminados, às vezes resultando em surtos com indivíduos afetados.

As doenças infecciosas gastrointestinais ainda é responsável por mortes de lactentes e pré-escolares, mesmo que globalmente tenha ocorrido expressiva redução na mortalidade na últimas décadas.

A diarreia pode vir acompanhada de vômitos e febre e, na maioria dos casos, a doença tem um curso autolimitado. No entanto, alguns casos são mais graves, com diarreia persistente e presença de sangue nas fezes. A etiologia das infecções intestinais é principalmente viral, mas pode ser de origem bacteriana ou parasitária. 

Etiologia da infecção intestinal

As causas da diarreia infecciosa variam de região para região, de ambientes rurais a urbanos e dependendo de comorbidades, como HIV ou outras condições de comprometimento imunológico. Em geral, entretanto, a maioria dos casos de diarreia infecciosa aguda é causada por vírus. Os seguintes agentes infecciosos são causadores de infecção gastrointestinal:

  • Vírus – rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em especial o norovírus) e astrovírus. 
  • BactériasE. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia 
  • ParasitosEntamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora 
  • Fungos – Candida albicans

Em pacientes deficiência imunitária ou em antibioticoterapia prolongada, algumas bactérias particularmente agressivas e resistentes são comuns. São elas as Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C. difficile, Cryptosporidium, Isosopora, e outros agentes.

As bactérias são patógenos mais prováveis ​​em casos de diarreia grave ou com sangue em comparação com diarreia aquosa mais branda.  Frequentemente, nos quadros infecciosos, estão envolvidos microrganismos não invasivos, que são especialmente ativos no intestino, causando diarreia aquosa. Esses microrganismos levam à diarreia através de interações variadas com a mucosa intestinal.

Por exemplo, a E. coli enterotóxica e o Vibrio cholerae não se disseminam além da mucosa intestinal. Dessa forma, causam o quadro sem qualquer invasão do epitélio intestinal. Isso ocorre através da produção de enterotoxinas, que induzem à secreção de fluidos. 

Quais os fatores de risco para o desenvolvimento da infecção intestinal?

Algumas condições e comportamentos são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de doença infecciosa intestinal:

  • Condições higiênico-sanitárias deficientes
  • Ingestão de alimentos crus mal higienizadas (saladas e frutas)
  • Consumo de água não potável e de alimentos sem conhecimento da procedência. 

O contexto sociocultural de um país, bem como a sua capacidade econômica, tem grande impacto na ocorrência/ausência de surtos de diarreia aguda. Isso ocorre porque o seu surgimento está intimamente ligado a questões de higiene e condições sanitárias precárias. 

Quadro clínico da infecção intestinal 

O sintoma mais frequente na infecção intestinal é a diarreia. Um quadro diarréico agudo caracteriza-se pela presença de 3 ou mais episódios de fezes com consistência diminuída ou aquosa num período de 24h.

O início da infecção intestinal geralmente é abrupto e o curso é potencialmente autolimitado. Distingue-se da disenteria, que é uma diarreia mucosanguinolenta. Apesar da presença de algumas pistas clínicas, não é possível determinar o agente etiológico definitivo da diarreia apenas pela via clínica.

Dentre os sintomas que podem acompanhar a diarreia estão:

  • Dor abdominal
  • Febre
  • Fezes sanguinolentas ou heme-positivas
  • Vômitos ou náuseas

Estes sinais clínicos que evidenciam a presença de determinados agentes patogénicos no organismo do indivíduo. Por exemplo, fezes mucosanguinolentas são mais comuns quando o agente etiológico é bactéria ou Entamoeba histolytica

O início súbito de náuseas e vômitos é provavelmente devido à ingestão de uma toxina pré-formada, como a enterotoxina de Staphylococcus aureus, ou um irritante químico. A gastroenterite viral também costuma se manifestar com vômitos como o sintoma predominante.

Como fazer o diagnóstico de infecção intestinal?

Na abordagem do paciente com quadro de infecção intestinal a coleta de uma anamnese eficaz e direcionada é essencial. Isso evita a necessidade de exames complementares na maioria dos casos.

Além disso, a solicitação de exames laboratoriais não é custo-efetiva, por isso a maioria dos pacientes não necessita dos mesmos. No entanto, a presença de pelo menos um dos “sinais de alarme” expostos a seguir justifica a solicitação de exames laboratoriais: 

  • Desidratação grave 
  • Taquicardia, hipotensão ortostática, redução da diurese, letargia
  • Idade maior ou igual a 70 anos. 
  • Diarreia por mais de três ou sete dias (apesar de adequadamente tratada). 
  • Presença de sangue nas fezes
  • Imunossupressão
  • Dor abdominal em paciente com mais de 50 anos
  • Febre elevada 
  • Mais de seis a 10 evacuações/dia
  • Diarreias nosocomiais e/ou institucionais

Se algum desses sinais estiverem presentes, deve ser priorizadas as pesquisas de:

  • Coprocultura
  • Parasitológico de fezes
  • Pesquisa de leucócitos fecais
  • Testes imunológicos (ELISA)
  • Pesquisa de sangue oculto nas fezes 

Como tratar infecção intestinal?

O principal tratamento em todos os quadros de doença infecciosa intestinal é a reidratação e cuidados de suporte. Esses cuidados serão independente do agente etiológico. Deve sempre priorizar a reidratação oral, mas em casos de vômitos e náuseas persistentes pode realizar por via endovenosa. 

Apenas 1 a 5 % dos casos necessitarão de antibioticoterapia. A imensa maioria dos pacientes responde à terapia de reposição hidro-eletrolítica adequada em três a sete dias. Esses pacientes evoluem com melhora evidente nas primeiras 48 horas. A antibioticoterapia está indicada em casos que possuam sinais de alarme ou condições patológicas basais. 

  • Ciprofloxacino – 500mg, de 12/12h, por três a cinco dias. 
  • Azitromicina – 500mg, de 24/24h, por três a cinco dias. 
  • Sulfametoxazol 800mg-trimetoprima-160mg a cada 12h 

Vale ressaltar que nos últimos anos o padrão de resistência às fluoroquinolonas e as sulfas vem aumentando. Por conta disso, é importante observar o padrão local antes de decidir a medicação a ser prescrita.

Como infecção intestinal cai na prova?

Questão 1

Paciente apresenta diarreia aguda após viagem internacional. Quais são os principais agentes infecciosos que devem ser considerados no diagnóstico diferencial e quais seriam os exames indicados?

Resposta

Os principais agentes infecciosos a serem considerados incluem bactérias como Escherichia coli enteropatogênica (EPEC), Shigella, Salmonella, Campylobacter e Yersinia, além de vírus como norovírus e rotavírus. Os exames indicados podem incluir cultura de fezes, PCR para detecção viral e análise de antígenos.

Questão 2

Um paciente é diagnosticado com infecção por Clostridium difficile. Quais são as opções de tratamento disponíveis e quais fatores devem ser considerados ao escolher a terapia?

Resposta

O tratamento da infecção por Clostridium difficile envolve a interrupção do antibiótico causador, se possível, e o uso de metronidazol ou vancomicina. Em casos mais graves, pode ser necessário transplante fecal. A escolha do tratamento dependerá da gravidade da infecção.

Referência bibliográfica

  • GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 25a ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2018.
  • Clínica Médica, volume 4: doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais. 2 ed. Barueri, SP; Manole, 2016.

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