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Síndrome de Tourette: o que é, sintomas e como fazer o diagnóstico

Síndrome de Tourette: o que é, sintomas e como fazer o diagnóstico

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Síndrome de Tourette: tudo o que você precisa saber para sua prática clínica!

A Síndrome de Tourette (ST) foi descrita na literatura pela primeira vez em 1825 e consiste em uma patologia neuropsiquátrica. Essa síndrome tem, no geral, início na infância. 

Além disso, a síndrome de Tourette tende a causar um notável comprometimento psicológico e social ao indivíduo, causando impacto na vida dos familiares.Dessa forma, é importante que o médico esteja apto para identificar e tratar esses pacientes de forma adequada. 

O que é a síndrome de Tourette?

A Síndrome de Tourette é definida como um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, que podem ser motores ou vocais. No geral, esses sintomas persistem por mais de um ano. Os tiques podem ser definidos como movimentos anormais, clônicos, breves, rápidos, súbitos, sem propósitos e irresistíveis.

Em grande parte dos casos, os tiques têm formatos diferentes e variam na forma no decorrer de uma semana ou de um mês para outro.O paciente geralmente não é acometido durante todo o dia, é comum que esses tiques ocorrem em ondas, com frequência e intensidade variáveis. 

Etiologia  

Alguns fatores cursam desencadeando a síndrome de Tourette. São eles: 

  • Estresse
  • Sintomas obsessivo-compulsivos (TOC)
  • Distúrbio de atenção com hiperatividade (TDAH) 
  • Transtornos de aprendizagem

Além desses, é possível que existam fatores hereditários que causem o surgimento dessa doença. Contudo, a causa do transtorno ainda é desconhecida.

Epidemiologia da síndrome de Tourette

Nos anos anteriores, essa patologia era considerada uma condição rara, que tinha baixa incidência na população mundial (0,5/1000, em 1984). Contudo, acredita-se que esse fato se devia provavelmente aos casos subdiagnosticados,visto que alguns pacientes têm uma doença com baixa intensidade, não procurando atendimento.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a síndrome de tourette afeta 1% da população mundial. Já no Brasil, de acordo com Ana Hounie, psiquiatra e colaboradora do PROTOC do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC FMUSP), a síndrome de Tourette afeta de 1% a 2% da população. 

Fisiopatologia

Nos últimos anos, importantes avanços têm ocorrido para a investigação dessa síndrome. Esses avanços são graças às informações provenientes de pesquisas envolvendo neuroanatomia, neurobiologia e estudos funcionais in vivo através de ressonância nuclear magnética. 

Para alguns estudiosos, cogita-se que os pacientes com ST tenham uma deficiência na inibição de circuitos neuronais paralelos, que a nível motor se expressa como tiques e compulsões. Já a nível límbico e frontal, essas alterações se apresentam como parte da sintomatologia obsessiva e déficit de atenção. 

Sinais e sintomas

Em 80% dos casos, o primeiro sintoma da síndrome de tourette são os tiques motores. Eles incluem:

  • Piscar
  • Franzir a testa
  • Contrair os músculos da face
  • Balançar a cabeça
  • Contrair em trancos os músculos abdominais ou outros grupos musculares,
  • Movimentos mais complexos que parecem propositais, como tocar ou bater em objetos próximos.

Além dos sintomas já citados há também tiques que envolvem o uso involuntário de palavras (coprolalia) e gestos (copropraxia) obscenos, a formulação de insultos ou a repetição de um som, palavra ou frase dita por outra pessoa (ecolalia). 

Esses sintomas são os que provocam alto nível de estresse aos pacientes, além de sofrimento e frustração.

Como diagnosticar a síndrome de Tourette?

Para que seja realizado o diagnóstico da síndrome de Tourette é necessário uma boa avaliação clínica, visto que esse diagnóstico é essencialmente clínico

O médico que realiza esse diagnóstico deve ser um especialista em neuropediatra ou psiquiatra especializado. Não existe atualmente nenhum teste laboratorial específico que confirme esta patologia. Porém, para facilitar o diagnóstico, a Associação Americana de Psiquiatria criou os seguintes critérios:  

  • Tiques motores múltiplos e um ou mais tiques vocais devem estar presentes durante algum tempo;
  • É necessário que os tiques ocorram em salvas (diversas vezes por dia), quase todos os dias ou intermitentemente por um período de pelo menos três meses consecutivos; 
  • O quadro geralmente é iniciado antes dos 18 anos de idade.

Diagnóstico diferencial

Algumas doenças podem causar tiques nos pacientes. Dessa forma, é necessário que profissional esteja atento e exclua doenças como:

  • Doença de Huntington
  • Acidente cérebro-vascular
  • Síndrome de Lesch Nyhan
  • Doença de Wilson
  • Coreia de Sydenham
  • Esclerose múltipla
  • Encefalite pós-viral
  • Traumatismo craniano 

Tratamento da síndrome de tourette

Para que o profissional escolha o tipo de tratamento, é necessário que seja avaliada a situação de cada portador da síndrome. O tratamento pode incluir abordagens farmacológicas e psicológicas. 

Através do tratamento psicoterápico do paciente, há uma orientação dos pais, familiares e pessoas próximas ao paciente. Com isso, é possível saber mais sobre as características da doença e o melhor modo de lidar com o indivíduo afetado. 

É necessário ter consciência de que essa síndrome não tem cura. Dessa forma, o tratamento farmacológico é utilizado apenas para o alívio e controle dos sintomas apresentados. Como há um considerável número de efeitos colaterais, a abordagem farmacológica deve ser considerada somente quando os benefícios da intervenção forem superiores aos efeitos adversos.

Referência bibliográfica

  • Ramalho J, Mateus F, Souto M, Monteiro M. Intervenção educativa na perturbação Gilles De La Tourette. Rev Bras Educ Espec. 2008, 14(3):337-346. Disponível em: . Acesso em 6 de Fevereiro de 2023.
  • Mattos JPD, Mattos VMDBC. Doença dos tiques: aspectos genéticos e neuroquímicos atuais. Arq. Neuro-Psiquiatr. 1999, 57(2B): 528-530. Disponível em: . Acesso em 6 de Fevereiro de 2023.
  • Robertson MM. Diagnosing Tourette syndrome: is it a common disorder? J Psychosom Res. 2003, 55(1):3-6.

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