Psiquiatria

Transtorno de excitação genital persistente: como conduzir casos na prática médica?

Transtorno de excitação genital persistente: como conduzir casos na prática médica?

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Entenda o que é o transtorno de excitação genital persistente, como identificá-lo e a melhor abordagem para o paciente com a condição. Bons estudos!

O Transtorno de Excitação Genital Persistente (TEGP) é uma condição rara e pouco compreendida que afeta a resposta sexual feminina. Neste contexto, é crucial explorar a natureza do transtorno, suas causas, sintomas e opções de tratamento disponíveis.

Definição e características clínicas do transtorno de excitação genital persistente

O transtorno de excitação genital persistente pode ser descrito por episódios de excitação sexual com orgasmos espontâneos. Ou seja, mesmo na ausência de estímulo externo.

As características dos orgasmo nessa condição envolvem a imprevisibilidade e incongruência de desejo sexual. Ainda, pode ter uma duração prolongada, de até horas. Pensando nisso, a vida cotidiana do paciente que sofre com essa condição é muito afetada.

As mulheres que convivem com essa doença relatam muita vergonha, culpa e ansiedade. Os sentimentos negativos associados à TEGP são descritos como angustiantes e limitantes.

Estatísticas sobre o transtorno de excitação genital persistente

As estatísticas sobre essa condição são escassas devido à subnotificação da doença. Poucos são os pacientes que procuram ajuda médica ou tem coragem de conversar sobre a patologia, levando à subdiagnosticação.

O TEGP pode ocorrer em mulheres de todas as faixas etárias, desde a adolescência até a idade adulta. Apesar disso, o impacto na qualidade de vida da mulher é muito negativo, podendo interferir nas atividades diárias.

Pensando na escassez de informações, são necessários mais estudos na área. Conforme o tema for mais abordado e discutido, estudos mais robustos serão produzidos.

Causas e fatores de risco para o transtorno de excitação genital persistente

Devido a falta de relatos e documentação sobre a doença, as causas do TEGP ainda são pouco conhecidas. No entanto, existem teorias que tentam contribui na explicação da síndrome.

Antes de vermos as teorias por trás do transtorno de excitação genial persistente, é importante lembrar que essa condição é multifatorial e complexa. Alguns possíveis fatores são:

  • Desequilíbrios neuroquímicos ou hormonais levando à descontrole de respostas à fisiologia corporal, incluindo a excitação sexual.
  • Fatores psicológicos: traumas sexuais passados, problemas de imagem corporal ou experiências negativas relacionadas à sexualidade. Os níveis de estresse podem alterar a resposta sexual.
  • Uso de medicamentos, como antidepressivos, podem ter efeitos colaterais que afetam a resposta sexual;
  • Lesões ou danos neurológicos, afetando a regulação da excitação sexual.

Mais uma vez, reforçamos que as teorias são especulações acerca do tema. Os especialistas na área destacam a importância de qualificar a classe da saúde para lidar com a condição, e incentivar a realização de pesquisas sobre o tema.

Diagnóstico do transtorno de excitação genital persistente

Para o diagnóstico da síndrome, são necessárias avaliações muito completas médica e psicológica. Com base nos critérios clínicos o diagnóstico pode ser dado.

Uma limitação para isso é a ausência da condição no DSM-5, por onde os profissionais de saúde seguem as diretrizes clínicas.

Geralmente, o médico ginecologista e um psicólogo ou psiquiatra farão entrevistas com a paciente. Essa conversa deve envolver questionários estruturados e escalas de avaliação que conduzam o raciocínio.

Esses critérios podem incluir excitação genital persistente e espontânea, desconexão entre a excitação genital e o desejo sexual consciente, duração prolongada dos sintomas e interferência significativa na vida da pessoa.

Uma vez que o diagnóstico seja estabelecido, o tratamento apropriado pode ser planejado com base nas necessidades individuais da paciente.

Diagnósticos diferenciais do transtorno de excitação genital persistente

Um dos diagnósticos da TEGP é a hipersexualidade. Nesse distúrbio, tem-se o aumento anormal do desejo sexual e atividade sexual. A diferença dela para o transtorno em questão é que o desejo sexual está aumentado, diferente da TEGP que não é simultâneo.

A Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) também é um diagnóstico diferencial. Embora não esteja diretamente relacionada à excitação sexual, as sensações incômodas sentidas pela pessoa com a condição pode ser interpretada erroneamente como excitação sexual.

Alguns medicamentos, como antidepressivos, antipsicóticos e estimulantes, podem causar alterações na resposta sexual, incluindo excitação genital persistente. Por isso, é importante revisar a lista de medicações tomadas pelo paciente. Alguns deles são:

  • Antidepressivos: inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como fluoxetina e sertralina;
  • Antipsicóticos: como a risperidona e olanzapina;
  • Estimulantes: metilfenidato, usado no tratamento de TDAH.

A associação do TEGP como efeito colateral de medicamentos é rara, e por isso deve ser muito bem identificada e diagnosticada.

Avaliação clínica e psicológica do paciente com transtorno de excitação genital persistente

A história clínica da paciente merece ser muito bem investigada. Deixá-la a vontade faz parte do processo e será fundamental para que ela consiga informar com qualidade sobre sua condição.

Na anamnese da paciente, busque por informações como:

  • Início do transtorno;
  • Duração dos episódios;
  • Gravidade do TEGP;
  • Impacto na vida diária;
  • Fatores desencadeantes.

Sobre sua história sexual e relacionamentos interpessoais, pergunte sobre seu passado e a atualidade. É importante entender se ela teve experiências traumáticas, problemas de intimidade ou disfunção sexual prévia.

No exame físico, o objetivo será descartar condições médicas que possam estar causando o problema. Dentre elas, neuropatias, infecções genitais ou urinárias, distúrbios hormonais e lesões neurológicas.

Na avaliação psicológica ou psiquiatra, é válido investigar sobre sintomas de ansiedade e depressão. Gatilhos emocionais e sentimentos de repressão também podem estar associados ao TEGP. Conhecer a qualidade da autoestima e autoimagem do paciente é importante nesse quadro.

Abordagens disponíveis para o tratamento do TEGP

A abordagem ao TEGP é individualizado. Assim, pode envolver uma combinação de diferentes medidas.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é eficaz e pode ajudar pacientes nesses casos. Ela pode se concentrar na regulação da excitação sexual, na redução da angústia associada ao transtorno e no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento saudáveis.

O gerenciamento do estresse e relaxamento também apresenta eficácia para a TEGP. A proposta é que com exercícios de respiração e relaxamento muscular a ansiedade e excitação física possam ser mais controladas.

O suporte psicossocial é fundamental, podendo fornecer um ambiente de compartilhamento de experiências. Sendo assim, fóruns onlines podem contribuir para o alívio da culpa e sensação de solidão. Ainda, podem ser compartilhadas estratégias de enfrentamento úteis e eficazes.

Os medicamentos a serem usados costumam ajudar a controlar os sintomas da TEGP. Nenhuma medida citada acima foi capaz de resolver completamente o problema. No entanto, são capazes de oferecer uma melhor qualidade de vida à paciente com a condição.

Estudo de caso: Amanda Gryce e TEGP

Amanda Gryce é uma norte-americana que sofre com o TEGP.

Os orgasmos espontâneos se iniciaram quando a jovem tinha 6 anos de idade. Tendo crescido em família católica, conviver com a síndrome representou um grande desafio, sendo considerado um “pesadelo”. Aos 24 anos, Amanda convivia com cerca de 50 orgasmos por dia.

Durante muitos anos, Amanda teve vergonha de contar seu problema para amigos e familiares. Os episódios são imprevisíveis, podendo ocorrer em qualquer ambiente, seja no trabalho ou na igreja que frequenta. Segundo ela, durante o orgasmo em locais públicos, as pessoas chegavam a pensar se tratar de um mal-estar da jovem.

Cansada de lidar sozinha com a síndrome, Amanda buscou ajuda médica. Hoje, toma medicações para anestesiar as áreas genitais, além de realizar fisioterapia pélvica e meditação.

Embora consiga controlar os episódios de orgasmos espontâneos, Amanda foi orientada a se abster de relações sexuais.

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Amanda Gryce e seu namorado, Stuart.

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Perguntas frequentes

  1. O que é o TEGP?
    O TEGP é o Transtorno de Excitação Genital Persistente, uma condição caracterizada por excitação genital contínua e espontânea sem estímulo sexual.
  2. Quais são os principais sintomas do TEGP?
    Os sintomas do TEGP incluem sensações persistentes de excitação genital, não relacionadas ao desejo sexual consciente, e podem ser acompanhados por angústia emocional e desconforto físico.
  3. Quais são as abordagens de tratamento para o TEGP?
    As abordagens de tratamento para o TEGP podem incluir terapia cognitivo-comportamental, terapia de casal ou sexual, técnicas de relaxamento, medicamentos específicos e suporte psicossocial. O tratamento é individualizado e depende das necessidades de cada pessoa afetada.

Referências

  1. Transtorno da excitação genital persistente: uma revisão da literatura. Valeska Martinho Pereira.
  2. IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR NO CONTROLE DA SINTOMATOLOGIA DA PGAD: RELATO DE CASO.