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Confira o artigo do Dr. Saulo Ciasca, psiquiatra, sobre transtorno do espectro autista no adulto (sinais, diagnóstico e manejo!
O transtorno do espectro autista é uma alteração do neurodesenvolvimento caracterizada por déficits na comunicação e interação social, linguagem e comportamentos restritos e repetitivos que aparecem na infância. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento.
Segundo o DSM-5, devem ocorrer déficits persistentes na comunicação e interação social em diversos contextos, como:
- dificuldade de estabelecimento de uma conversa,
- compartilhamento reduzido de interesses emoções ou afetos,
- déficits no comportamento não verbal (como pouco contato visual e dificuldade de compreensão de gestos e expressões faciais)
- e dificuldades de desenvolver, manter ou compreender relacionamentos.
Deve haver prejuízo sócio-ocupacional e/ou sofrimento. Dentre os padrões repetitivos e restritos de comportamento, podemos encontrar:
- movimentos motores,
- uso de objetos ou de fala estereotipados ou repetitivos,
- adesão inflexível a rotinas,
- interesses fixos e altamente restritos,
- hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais (por exemplo, indiferença a temperatura ou dor, aversão a barulhos ou fascinação por luzes e movimentos).
Epidemiologia e fatores de risco do transtorno do espectro autista no adulto
A prevalência de TEA na população é de 1/68 em crianças de 8 anos e aproximadamente 1% dos adultos. Há um importante componente genético para a condição, com uma herdabilidade de 50%.
Alguns fatores de risco conhecidos para TEA são:
- uso de ácido valpróico na gestação
- obesidade materna
- diabetes gestacional
- complicações neonatais
- idade materna e/ou paterna avançadas
- exposição a organofosforados e hidrocarbonetos
Transtorno do espectro autista no adulto: como é o diagnóstico?
O diagnóstico no adulto deve tentar resgatar a presença dos sintomas na primeira infância, cuja sintomatologia e prejuízo não foram muito evidentes na época, ou a pessoa não teve demandas ou desafios sociais que excedessem sua capacidade até então.
Deve-se fazer diagnóstico diferencial com transtorno de personalidade (esquizóide, esquizotípica, evitativa e obsessivo-compulsiva), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno obsessivo-compulsivo e deficiência intelectual.
Alguns adultos, principalmente mulheres, podem ter comportamentos denominados como camuflagem. Caracterizam-se por tentativas ativas de contato visual apesar do desconforto, uso de frases ou piadas fora de contexto, alteração no volume da fala, imitação de gestos de outras pessoas ou posicionar-se muito perto de outros indivíduos.
Sinais de TEA
Alguns sinais de TEA no adulto que podem ajudar na caracterização do quadro:
- Alterações no contato visual
- Dificuldade de lidar com quebra de rotina e imprevisibilidade
- Pessoas que preferem ficar isoladas
- Fixidez ou inflexibilidade cognitivas
- Pessoas que são sinceras demais, com dificuldade de metarepresentação ou de se comunicar de forma mais diplomática
- Fala monotemática
- Dificuldade de se manter no trabalho por muito tempo
- Pessoas com pouco asseio ou vaidade, com prejuízos no autocuidado
- Dificuldade de expressar emoções e ideias
- Alterações sensoriais
- Memória excelente para detalhes
- Dificuldade de compreender ironia, sarcasmo, abstrações, falas de duplo sentido e formas não literais de linguagem e expressão
- Ingenuidade, podem ser mais vítimas de golpe, acreditam mais facilmente em mentiras
- Dificuldades em funções executivas, como organização e planejamento
Como é o manejo do transtorno do espectro autista no adulto?
A linha de cuidado com essas pessoas consiste na detecção o mais precoce possível para garantir abordagens que visem maior autonomia e funcionalidade.
Algumas delas são:
- a terapia cognitivo-comportamental,
- treino de habilidades sociais e de cognição social,
- os treinos sistematizados com vídeos para orientar as pessoas de como agir ou se portar diante de uma situação específica,
- treinamento de familiares,
- educação sexual e
- suporte no emprego e autocuidado.
Podem ser necessárias abordagens farmacológicas para redução dos sintomas-alvo (agressividade, irritabilidade, alterações do sono) como haloperidol, risperidona, aripiprazol e melatonina.

Sugestão de conteúdo complementar
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- Folie à deux: como funciona o compartilhamento de sintomas psicóticos?
Veja também:
Referências
1 – Miguel EC, LAFER B, ELKIS H, FORLENZA OV, BRUNONI AR, SERAFIM AD, BARROS DM, HUMES ED, LOTUFO NETO F, POLANCZYK GV, CASTELLANA GB. Clínica psiquiátrica: os fundamentos da psiquiatria [ampl. e atual.].
2 – Howlin P, Moss P. Adults with autism spectrum disorders. The Canadian Journal of Psychiatry. 2012 May;57(5):275-83.