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A data de vinte e nove de agosto é considerada, em território brasileiro, o Dia Nacional de Combate ao Fumo. O objetivo desse texto é orientar a abordagem desse combate na atenção primária à saúde.
Antes de mencionar a apresentação clínica do tabagismo, devemos compreender que, durante a combustão do cigarro, há produção de monóxido de carbono e nicotina, o que deprime o sistema nervoso central. Durante o primeiro contato, os sintomas mais comuns são cefaleia, tontura, insônia, tosse e náuseas, sendo diminuídos após a tolerância à droga.
Durante o atendimento, é imprescindível realizar a entrevista emocional, definir o grau de dependência de nicotina, estimular a cessação do tabagismo e prevenir as recaídas.
Entrevista emocional
Nessa etapa, deve-se definir o estágio de motivação do paciente para abandonar o hábito do tabagismo. A entrevista está dividida em:
- Pré-contemplação: ocorre quando o paciente não identifica que está com problema. É importante fornecer informações sobre os riscos associados, além de garantir o vínculo com o paciente;
- Contemplação: o paciente identifica que está com problema, no entanto, não há identificação do anseio em alterá-lo, uma vez que não consegue estabelecer grau de vantagens e desvantagens em resolver. Diante disso, é importante auxiliar o paciente em comentar quais as vantagens e desvantagens do comportamento e considerar o peso de cada um;
Preparação: o paciente nesse estágio já pensa em mudar e planeja essa mudança. Como o passo mais difícil, que é o desejo do paciente em mudar, já foi alcançado, este deve ser o momento de desenvolver em conjunto um plano para isso.
- Ação: o paciente está motivado a efetuar a mudança. É o momento para ser colocado em prática o que foi planejado, valorizando pequenos sucessos atingidos. Caso seja necessário, pode ser considerada a introdução do tratamento farmacológico nessa fase;
- Manutenção: nesse estágio, o paciente deve ser encorajado a manter as mudanças e deve ser dado apoio a estratégias para evitar recaídas.
Teste de Fagerström
Para avaliar o grau de dependência do paciente, considera-se os critérios abaixo.
- Avaliação do tempo entre o acordar e o consumo do primeiro cigarro do dia:
- Menos de 5 minutos: 3 pontos;
- Entre 5 e 30 minutos: 2 pontos;
- Entre 31 e 60 minutos: 1 ponto;
- Depois de 60 minutos: 0 pontos.
- Avaliação da dificuldade em deixar de fumar em locais que são proibidos:
- Sim: 1 ponto;
- Não: 0 pontos.
- Avaliação do sofrimento em deixar o hábito de tabagismo:
- Primeiro cigarro da manhã sendo considerado como o mais difícil de ser abandonado: 1 ponto.
- Qualquer um: 0 pontos.
- Avaliação da quantidade de cigarros fumados por dia:
- 31 ou mais: 3 pontos.
- 21 a 30: 2 pontos.
- 11 a 20: 1 ponto.
- Menos de 11: 0 pontos.
- Avaliação do período do dia onde há mais consumo do tabaco:
- Nas primeiras horas após acordar: 1 ponto.
- Durante o resto do dia: 0 pontos.
- Avaliação se o paciente fuma mesmo estando tão doente que precise ficar de cama quase todo o dia:
- Sim: 1 ponto.
- Não: 0 pontos.
Interpretação:
0 a 2 pontos: dependência muito baixa;
3 a 4 pontos: dependência baixa;
5 pontos: dependência média;
6-7 pontos: dependência elevada;
8-10 pontos: dependência muito elevada.
Fumante Passivo
Consiste na inalação da fumaça dos derivados do tabaco por indivíduos não fumantes com convivem com fumantes. Importante salientar que a fumaça expelida contém em média três vezes mais nicotina e monóxido de carbono e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a inalada pelo fumante.
Pode se relacionar a diversas doenças respiratórias, além do aumento do risco cardiovascular do indivíduo. Por esse motivo, dá-se a importância de investigar o fumo passivo nas unidades de saúde, e não apenas o ativo.
Doenças relacionadas ao tabaco
O tabaco, através da fumaça do cigarro, causa diversos efeitos nocivos à saúde, em especial, doenças cardíacas, respiratórias e câncer. A aterosclerose é favorecida através do efeito trombogênico e capacidade de transporte de gases é diminuída pela inalação do monóxido de carbono. Com isso, há alteração da capacidade aeróbica e ocorre aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca.
O uso de tabaco favorece aterosclerose através de seu efeito trombogênico e por estimulação neural simpática promovida pela nicotina. O monóxido de carbono, quando inalado pelos pulmões, é transferido para a corrente sanguínea, onde diminui a capacidade de transporte de oxigênio. A capacidade aeróbica do fumante é, então, prejudicada e ocorre um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, predispondo o desencadeamento de arritmias. Alguns estudos apontam para uma significativa redução da prevalência de doenças coronarianas após a cessação do tabagismo, igualando-se à situação de um não fumante após cinco a quinze anos de abstinência.
O tabaco também pode promover o desenvolvimento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pneumonias, tuberculose, asma e rinossinusite, uma vez que esses estão mais suscetíveis a infecções, sendo elas mais graves e prolongadas. Além disso, tabagistas apresentam um declínio anual mais acentuado do volume expirado forçado no primeiro segundo (VEF1), melhorando com a cessação do tabagismo.
Ademais, pode favorecer, também, o desenvolvimento de diversos tipos de câncer: cavidade oral, nasofaringe, pulmão, esôfago, estômago, pâncreas, rim. A cessação do uso do tabaco leva à redução do risco de segundo tumor, redução da progressão do câncer e melhora da resposta o tratamento.
Síndrome de abstinência
Uma das barreiras para a cessação do tabagismo é a abstinência, ocorrendo em até 75% dos pacientes, quando os níveis de nicotina caem e o cérebro reage a sua ausência. O paciente pode apresentar-se com irritabilidade, tonturas, cefaleia, bradicardia, agressividade. Esses sintomas são proporcionais aos níveis de dependência à nicotina. Esses sintomas podem se iniciar cerca de 8 horas após a interrupção do uso, com pico nos três a quatro primeiros dias e se resolvendo em torno de uma a duas semanas.
Recidiva
A prevenção de recaída deve ser trabalhada durante todo o processo de tratamento. Nesse caso, ressaltam-se algumas técnicas utilizadas para controle da abstinência e da compulsão, que são: cuidar do estresse e da ansiedade, evitar contato com outros fumantes, evitar bebida alcoólica.
Os principais fatores de risco relacionados à recaída de uso do tabaco são: fracassos em tentativas anteriores, contato com outros fumantes, baixo nível socioeconômico, estresse, baixa motivação e comorbidades psiquiátricas.

Prevenção primária
Deve-se realizar a educação da população a respeito dos malefícios do tabagismo em unidades de saúde e escolas. Leis/Portarias que proíbem a venda de cigarros para menores de 18 anos são interessantes, porém, por si só, não conseguem evitar o tabagismo, devido ao tráfico.