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ALARA: o que é e como devemos praticá-lo? | Colunistas

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O princípio ALARA (“As Low As Reasonably Achievable”, em tradução livre, “tão baixo quanto razoavelmente exequível”) é um conceito de segurança em procedimentos com emissão de radiação, com o objetivo de minimizar as doses de exposição de pacientes e de trabalhadores, empregando, para tal, todos os métodos razoáveis existentes. Esse fundamento já está bem difundido e aplicado nos países desenvolvidos, mas ainda há pouca evidência de experiências nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

            Apesar das melhoras nas condições de diagnóstico e de tratamento dos pacientes pediátricos devido aos métodos de imagem, a exposição à radiação desses indivíduos ainda é preocupante, principalmente com a tomografia computadorizada (TC), pois são mais vulneráveis, considerando a possibilidade do desenvolvimento de neoplasias. Já foi demonstrado que o seguimento dos princípios ALARA está associado a uma redução significativa na exposição à radiação e no volume médio de contraste utilizado.

            Para balancear riscos e benefícios do uso de radiação nos diagnósticos, a Comissão Internacional de Proteção contra a Radiação (ICRP) apresentou o princípio ALARA em 1977. Sua criação foi inspirada no Comitê Internacional de Raio X e de Proteção contra a Radiação (IXRPC), fundado em 1928, que pregava que os rastreios deveriam ser conduzidos o mais rápido possível e com a menor intensidade, e que deveria haver regras de segurança e equipamentos de proteção. Em resumo, o princípio indica que a exposição deve ser justificada, otimizada e inferior aos limites permitidos.

            Os objetivos desse princípio podem ser atingidos com três métodos:

  • Tempo: Como a dose de radiação depende do tempo de exposição, o tempo deve ser limitado. Isso pode ser atingido tornando mais prático o manuseio dos materiais radioativos com testes ou posicionando unidades de uso menos frequente próximo das áreas de potencial exposição.
  • Distância: radiação perde intensidade à medida que aumenta a distância, numa proporção inversa ao quadrado. Dobrar a distância da fonte diminui em quatro vezes a dose. Relacionando ao método anterior, essa distância deve ser suficientemente grande de modo a diminuir a influência no público e na equipe, porém não a ponto de dificultar o acesso, aumentando o tempo de preparo para os procedimentos.
  • Proteção: com a proteção adequada, há a atenuação da radiação. Colocando uma proteção no caminho da radiação, a exposição atrás da proteção será diminuída, dependendo da espessura da barreira e do tipo de radiação. Essa proteção deve ter um bom custo benefício (concreto é melhor que melhor que metal) e reduzir a exposição a índices insignificantes além da barreira.

            Protocolos baseados na relevância dos estudos devem ser implementados. Em cada estudo envolvendo crianças, a dose total de radiação deve ser reduzida e um novo protocolo deve ser desenvolvido, como forma de superar a perspectiva histórica de que, na TC, quanto mais radiação, melhor, por gerar uma imagem com mais qualidade, mas aumentando os riscos do procedimento. Além disso, os neonatos prematuros representam uma preocupação a mais.

            Devem ser considerados métodos sem radiação, como a ultrassonografia (USG) e a ressonância nuclear magnética (RNM). A segurança desses métodos deve ser considerada em comparação à sua viabilidade, além da experiência e da habilidade do técnico e do radiologista, pois são procedimentos operador-dependentes. O tempo também deve ser um aspecto observado, dada a urgência ou não do diagnóstico.

            Uma proteção específica deve ser utilizada. Estão sendo utilizados novos protetores de tireoide e de tórax durante a TC, sem impactar a qualidade do exame.

            Além disso, é recomendado que seja desencorajada a repetição de tomografias, por exemplo, com e sem contraste, que se mostra em muitos casos desnecessária. Na maioria dos casos, as patologias podem ser identificadas com uma análise muito semelhante, considerando os estágios anterior e posterior à disseminação do contraste.

            Como a TC fornece informações sobre o estado de todo o corpo, esse método vem sendo utilizado não só para diagnósticos, mas também para rastreio de doenças. A ilimitada disponibilidade de exames de imagem, em muitos casos, diminui o olhar clínico e os médicos solicitam cada vez mais métodos diagnósticos desnecessários.

            Apendicite é a principal patologia em que a tomografia é utilizada para cirurgia em crianças. A ultrassonografia pode reduzir esse uso de TC, porém se trata de um método operador-dependente, o que dificulta principalmente em horários não comerciais. Como a apendicite é um procedimento de urgência, muitos métodos são utilizados por conveniência.

            Dados os atuais métodos de manejo de riscos, surgiu no Reino Unido uma visão holística das exposições, não limitada a radiação. Essa visão usou a base do acrônimo ALARA, alterando apenas a última palavra (e, consequentemente, a última letra), substituindo “exequível” (“achievable”) por “praticável” (“practicable”), criando o princípio ALARP. Mesmo sendo palavras quase sinônimas, a alteração representou a criação de um conceito mais amplo de biossegurança, não só nos procedimentos radiológicos, mas para toda a prática médica.

Autoria: Antonio Batista de Freitas

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