Coronavírus

Marcadores de gravidade e alvos terapêuticos de pacientes com COVID-19

Marcadores de gravidade e alvos terapêuticos de pacientes com COVID-19

Compartilhar
Imagem de perfil de Notícias

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram sete proteínas no plasma sanguíneo de pacientes com COVID-19 que podem servir como indicadores de gravidade e até indicar alvos terapêuticos.

As moléculas estão associadas a resposta imunológica, proteção do pulmão, complicações vasculares e descontrole inflamatório. Em entrevista à Agência FAPESP, a pesquisadora Marília Rabelo Buzalaf explicou que alterações nos níveis de proteínas do plasma sanguíneo são bons indicadores de como ocorre o desenvolvimento das doenças, inclusive infecções virais.

“[A COVID-19] trata-se de uma enfermidade com grande variação de sintomas e de gravidade, e proteínas relacionadas a diferentes complicações e estágios da infecção podem abrir caminho para a identificação de alvos terapêuticos e biomarcadores que auxiliem a tomada de decisão por parte dos profissionais de saúde”, disse.

As pistas encontradas no sangue de pacientes com covid-19

Entre maio e julho, o estudo avaliou 163 pacientes internados no Hospital Estadual de Bauru com diagnóstico confirmado de COVID-19. Eles foram divididos em casos leves, casos severos e críticos.

Amostras de sangue foram coletadas assim que os doentes deram entrada no hospital. Também foram coletadas amostras semanais para acompanhar a evolução de cada paciente, mas esses dados ainda serão analisados nas próximas etapas da pesquisa.

Ao comparar as variações de expressões proteicas (proteoma) dos três grupos, os pesquisadores encontraram, apenas em casos leves, altos níveis das proteínas IREB2, GELS, POLR3D, PON1, SFTPD e ULBP6.

Já em pacientes que precisaram de tratamento intensivo, os pesquisadores encontraram a proteína Gal-10 no plasma sanguíneo, que é um conhecido marcador de morte de morte de células de defesa (eosinófilos), o que sugere comprometimento do sistema imune.

“Quando os eosinófilos morrem, liberam moléculas de Gal-10, que se ligam formando cristais altamente imunogênicos, que têm efeito pró-inflamatório importante justamente no pulmão, levando a um influxo de outras células de defesa, como neutrófilos e monócitos. O aumento de Gal-10 nos pacientes críticos e severos pode estar associada à tempestade de citocinas que leva ao descontrole da inflamação”, explicou Buzalaf.

Alvos terapêuticos

A identificação das proteínas específicas em pacientes de COVID-19 pode ajudar os especialistas a desenvolverem medicamentos que controlem os efeitos da infecção. A proteína IRB2, por exemplo, foi encontrada apenas em pacientes com casos leves. No organismo, ela tem o papel de impedir a formação de ferritina e, assim, controlar o efeito cascata que leva à inflamação desregulada.

A proteína ULBP6, também encontrada em casos leves, liga-se ao receptor NKG2D, localizado na superfície das células imunes, e ajuda no controle imunológico. A pesquisadora explica que o receptor medeia a toxidade das células imunes do tipo natural killer, linfócito que mata células infectadas.

“Além disso, essas proteínas têm influência no resultado clínico de uma variedade de patologias ligadas ao sistema imune, como nefropatia diabética e alopecia areata. Mas o que mais nos interessou foi seu polimorfismo [forma alternativa da molécula]. É possível que os pacientes críticos tenham esse polimorfismo, o que poderia acarretar uma resposta imunológica prejudicada”, explicou Buzalaf à Agência FAPESP, enfatizando a necessidade de mais estudos.

Outra proteína encontrada em pacientes de COVID-19 com bom prognóstico, a POLR3D, tem como função militar a infecção por bactérias e vírus intracelulares. “Talvez uma possível terapia seja aumentar a expressão dessa enzima nos estágios iniciais da doença”, disse a pesquisadora. Os dados preliminares do estudo foram publicados na plataforma medRxiv, ainda sem revisão de pares.

Posts relacionados: