Medicina da Família e Comunidade

Dengue: apresentação clínica e tratamento atual

Dengue: apresentação clínica e tratamento atual

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A dengue é uma doença febril aguda, datada no Brasil desde o século XIX.

Desde então, os episódios de dengue no país são frequentes. Assim sendo, seus surtos se intercalam em intervalos de epidemias devido a introdução de novos sorotipos ou alteração dos anteriores.

Pensando nisso, considerando a relevância dessa doença no território brasileiro, fica claro que revisar sua apresentação clínica e o seu tratamento são vitais para a sua prática.

Definição

A dengue é causada pela infecção causada por um dos 4 vírus da dengue (DENV 1-4), pertencente à família Flaviviridae, do gênero Flavovírus.

Com isso, o vírus DENV é transmitido, principalmente, pela picada do mosquito Aedes aegypti fêmea, também podendo ocorrer pelo Aedes albopictus. No Brasil, considerando o ciclo urbano humano-vetor-humano e, assim, o reservatório da doença é o ser o humano.

Contando com fatores como chuvas e a água parada, o período de maior transmissão no ano ocorre nos meses de novembro a maio – mais chuvosos.

Pensando na população alvo da doença, é importante saber que não existe uma predisposição de faixa etária. No entanto, pessoas com doenças crônicas são mais propensas a evoluir para casos mais graves. Com isso, pacientes com doenças como diabetes e hipertensão merecem uma atenção especial quando contaminadas.

Manifestações clínicas da dengue

As manifestações clínicas da infecção por dengue podem ser tanto assintomáticas quanto ter uma evolução grave, podendo levar à morte.

Forma clássica da dengue

De maneira geral, a primeira manifestação da forma clássica da doença é a febre alta, podendo chegar a 40ºC .

Na sequência da doença, é comum a manifestação de cefaleia ou dos retro-orbitais , além de cansaço e dores musculares – e os ossos. Outras manifestações comuns da dengue clássica são:

  • Falta de apetite;
  • Náuseas;
  • Tonturas;
  • Vômitos;
  • Erupções de pele, que lembram a rubéola.
Figura 1: Manchas na pele na dengue. Disponível em: https://bit.ly/3yPlPdU.

É importante ressaltar que algumas manifestações clínicas dependem da idade do paciente. Assim, por exemplo, a dor abdominal tem sido mais observada em crianças do que em adultos.

Febre hemorrágica da dengue

A forma da dengue hemorrágica, ao contrário do que alguns pensam, não tem a ver com a baixa imunidade do paciente infectado. Na verdade, estudos tem mostrado que pode ser exatamente o contrário: uma resposta imunológica excessiva do organismo ao vírus!

Pensando na sua forma hemorrágica, sua característica principal é o extravasamento de plasma devido ao aumento da permeabilidade vascular. Isso fica evidente pela hemoconcentração, com ≥20% de aumento do hematócrito acima da linha de base, derrame pleural ou ascite. Esse evento pode ter como repercussão o choque , que é a característica mais específica da dengue grave.

Além da febre, a característica dessa forma da doença é trombocitopenia e manifestações hemorrágicas.

Seguindo o curso da doença, próximo ao ou dia da doença, tem-se o aparecimento da hemorragia e do recolhimento circulatório.

Prova do laço

A prova do laço deve ser realizada durante o exame físico em todos os pacientes com suspeita de dengue. Seu objetivo é triar o paciente com essa suspeita, visto que a fragilidade capilar é uma manifestação da febre hemorrágica do grau 1.

Mas como ela pode ser realizada?

Figura 2: Prova do laço. Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde.

Sinais de alarme

Os sinais de alarme da dengue são caracterizados por abdominal intensa, que pode ser referido à palpação, e contínuo. Além disso, pode apresentar vômitos persistentes .

Considerando os efeitos hemodinâmicos, o acúmulo de líquidos se manifestando por ascite, derrame pleural ou pericárdico além da hipotensão postural podem ser observados.

Figura 3: Sinais de alarme e choque na dengue. Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde.

Tratamento da dengue

O tratamento principal da dengue é baseado na reposição volêmica adequada, considerando o estadiamento da doença (grupos A, B, C e D) e os sinais e sintomas.

Pensando nos casos leves da doença é recomendado o repouso relativo, enquanto houver febre, além do estímulo à ingestão de líquidos.

Caso haja dor ou febre, indica-se a administração de paracetamol, e evitar a administração de ácido acetilsalicílico.

Apesar disso, a maioria dos casos leves de dengue regridem espontaneamente em 10 dias.

Grupo A

Pacientes com febre até 7 dias e com pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos, como cefaleia e mialgias. Além disso, esse paciente tem história epidemiológica compatível, com prova do laço negativa e sem sinais de alarme.

Hidratação oral

Em adultos:

  • 1º dia: 80 mL/kg/dia, sendo:
    Manhã 1L de SRO e 2L de líquidos caseiros;
    À tarde: 0,5L de SRO, 1,5L de líquidos caseiros;
    À noite: 0,5L de SRO e 0,5L de líquidos caseiros.
  • 2º dia: 60 mL/kg/dia com 4L distribuídos de forma semelhante ao longo do dia.

Em crianças:

  • Orientar hidratação oral no domicílio, de forma precoce e abundante, com líquidos e soros de reidratação oral. Deve ser ofertado de acordo com a aceitação da criança.

Sintomáticos

Deve ser administrados antitérmicos e analgésicos. Para isso, são indicadas medicações como dipirona, paracetamol e antiinflamatórios não hormonais.

Grupo B

São os pacientes com febre até 7 dias, acompanhada por pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos. No entanto, esses pacientes têm a prova do laço positiva ou manifestações hemorrágicas, mas sem sinais de alarme.

Hidratação oral

Deve ser feita conforme o grupo A.

Sintomáticos

Também conforme recomendado para o grupo A.

Grupo C e D

Pacientes com febre até 7 dias, com pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficas. Além disso, há presença de sinal de alarme que caracteriza grupo C. O paciente do grupo D está em choque e pode ou não ter manifestações hemorrágicas.

Hidratação oral

Em pacientes do grupo C:

Hidratação IV imediata: 25ml/kg em quatro horas, com soro
fisiológico ou ringer lactato, de preferência em bomba de infusão
contínua. Repetir esta fase até três vezes se não houver melhora do
hematócrito ou dos sinais hemodinâmicos.

Em pacientes do grupo D:

  • Iniciar a hidratação parenteral com solução salina isotônica (20ml/Kg em até 20 minutos, tanto adultos como crianças) imediatamente, independente do local de atendimento. Se necessário, repetir por até três vezes.
  • Leito de observação em unidade, com capacidade para realizar hidratação venosa sob supervisão médica, por um período mínimo de 24h.
Figura 4: Orientações no manejo do paciente com dengue.

Perguntas frequentes

  1. Quanto tempo dura o quadro de dengue?
    A maioria dos quadros de dengue duram até 10 dias.
  2. Porque a dengue pode levar à morte?
    Considerando a hemorragia e perda de plasma, os trombos podem ser uma repercussão direta. Além disso, considerando um paciente em choque pode prejudicar a oxigenação e o funcionamento dos órgãos.
  3. A água parada pode estimular a animação do Aedes ai . Quais são as medidas para evitar que isso aconteça?
    Colocar areia nos pratos das plantas, fechar caixas d’água e caixas, deixar baldes e garrafas virados para baixo.

Referências

  1. Dengue . Ministério da Saúde. Disponível em: https://bit.ly/388rZe8;
  2. Stephen J Thomas, MD. Infecção pelo vírus da dengue: manifestações clínicas e diagnóstico . Atualizado
  3. Dengue: sintomas, causas, tratamento e prevenção. Prefeitura Municipal de Potim, São Paulo. Disponível em: https://bit.ly/383Io3j.
  4. Dengue . Guia de Vigilância Epidemiológica. Disponível em: https://bit.ly/3ySUsiT.
  5. Stephen J Thomas, MD. Infecção pelo vírus da dengue: prevenção e tratamento . Atualizado
  6. Dengue: diagnóstico e manejo clínico para o adulto e a criança. Ministério da Saúde.