Reumatologia

Fator antinuclear (FAN): Dicas para a interpretação dos resultados | Colunistas

Fator antinuclear (FAN): Dicas para a interpretação dos resultados | Colunistas

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Confira um resumo sobre o que você precisa para saber interpretar os resultados do fator antinuclear (FAN)!

O fator antinuclear (FAN) é um teste laboratorial usado para detectar a presença de anticorpos antinucleares no sangue. Esses anticorpos são frequentemente associados a doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico.

A interpretação dos resultados do FAN requer uma abordagem cuidadosa, levando em consideração vários aspectos.

Exame de fator antinuclear (FAN): como é o teste?

A pesquisa de auto anticorpos contra proteínas do núcleo e citoplasma celulares (FAN) pode auxiliar expressivamente o diagnóstico de doenças reumatológicas de caráter autoimune, que são difíceis de diagnosticar.

Essas doenças se apresentam com quadros clínicos sobrepostos. Isso dificulta um diagnóstico preciso e, consecutivamente, o direcionamento da investigação laboratorial complementar. Ele é essencial para o especialista referendar a hipótese diagnostica.

A investigação dos auto anticorpos é realizada com o soro dos pacientes que será colocado em contato com células de tumor de laringe denominadas HEP 2 (substrato da reação) na técnica de imunofluorescência indireta (IFI).

O que devemos nos atentar no exame do FAN?

A interpretação dos resultados do teste FAN deve ser feita por um profissional de saúde, como um médico reumatologista, pois requer conhecimentos especializados. No entanto, aqui estão algumas dicas gerais para entender os resultados do teste FAN:

Titulação

O resultado do FAN é relatado como uma diluição, como 1:40, 1:80, 1:160, etc. Essa diluição indica a última diluição do soro do paciente em que ainda são detectados anticorpos.

Quanto maior a diluição, maior a quantidade de anticorpos presentes.

Padrão de fluorescência

O teste FAN utiliza células do tecido humano que são coradas com um corante fluorescente. O padrão de fluorescência observado sob um microscópio indica os alvos dos anticorpos presentes no soro.

Os padrões de fluorescência podem ser homogêneos, pontilhados, nucleares, citoplasmáticos, entre outros. Cada padrão pode estar associado a diferentes doenças autoimunes.

Títulos significativos

Os títulos de FAN considerados clinicamente significativos variam dependendo da doença em questão.

Por exemplo, um título de 1:320 ou superior pode ser relevante para o lúpus eritematoso sistêmico, enquanto um título de 1:40 pode ser considerado insignificante.

Correlação clínica

A interpretação dos resultados do FAN deve sempre ser feita em conjunto com os sintomas clínicos e outros exames complementares.

O FAN não é diagnóstico por si só, mas ajuda a direcionar a investigação e a confirmar o diagnóstico quando combinado com informações clínicas.

Variações individuais

É importante reconhecer que os resultados do FAN podem variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas saudáveis podem ter resultados positivos em baixos títulos sem ter uma doença autoimune. Portanto, a interpretação deve levar em consideração o contexto clínico e outros exames relevantes.

Fator antinuclear (FAN): investigação de anticorpos

A escolha na utilização destas células foi devidoao fato que às mesmas se replicarem rapidamente. Isso permite, inclusive , a investigação de anticorpos contra proteínas  expressas no aparelho mitótico e no núcleo nas diferentes fases do ciclo celular, tais como:

  • Proteínas do centrômero, as que se expressam durante a proliferação celular/antígeno nuclear de células em proliferação (PCNA, antígeno nuclear de células em proliferação),
  • CENP-F (proteína F do centrômero) e
  • Inúmeras outras presentes no processo de divisão celular como fuso mitótico, centríolo e outras.

Vale ressaltar que esta técnica é de utilização mundial. O que favorece a troca de informações entre os grandes centros de investigação.

Titulação do FAN

A técnica exige que no teste de triagem qualitativo (positivo ou negativo) para presença de auto anticorpos o soro seja diluído 80 vezes. Isso porque abaixo desta diluição muitos resultados de indivíduos normais podem apresenta-se positivos.

Isto deve-se a todos os seres humanos possuírem auto anticorpos, em condições não patológicas. É inegável a necessidade de uma constante reflexão sobre as características intrínsecas do teste, como sensibilidade, especificidade e valores preditivos na prática clínica. Porém isto muitas vezes é difícil de ser compreendido.

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Aspectos importantes na interpretação de FAN

Os resultados devem seguir uma padronização descrita em documentos formatados a partir das reuniões de especialistas na área denominadas “Consensos Brasileiros de Fator Anti-Nuclear em células HEP 2″*.

Nestes documentos, foram estabelecidas ações objetivando a padronização de critérios para leitura e interpretação dos diversos padrões de auto anticorpos em células HEp-2 (Consensos I e II).

Foram apresentados algoritmos de classificação, fundamentados no critério morfológico e estabelecendo cinco grupos principais de padrões de fluorescência:

  • Nucleares,
  • Nucleolares,
  • Citoplasmáticos,
  • Aparelho mitótico e
  • Mistos com suas correlações clinicas.

Interpretação pelo método de IFI

A partir disso, segue o que podemos inicialmente ressaltar neste contexto complexo que é a interpretação da investigação de auto anticorpos pelo método de IFI utilizando células HEP 2:

Teste IFI com células HEP2

O teste de IFI com células HEP 2 é mais sensível e menos específico do que a investigação de células LE utilizada anteriormente para auxiliar o diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).

Isto resultará em uma maior quantidade de ensaios falso positivos. Dados de Watanabe, et all (2004) indicaram que uma investigação de FAN em 597 indivíduos hígidos, cerca de 20% apresentaram resultados positivos;

Quando se utiliza a célula Hep-2 como substrato, títulos menores ou iguais a 1:80 usualmente tem pouco significado caso o paciente apresente sinais clínicos compatíveis;

Pacientes autoimunes e sadios

Os pacientes autoimunes normalmente tendem a apresentar títulos moderados (1/160 e 1/320) a altos (1/640 a mais). Já os indivíduos sadios, na maioria das vezes, tendem a apresentar títulos baixos (inferior a 1/80).

Porém as exceções de ambos os lados são bem frequentes. Isto nos faz concluir que devemos sempre levar em consideração o ASPECTO CLINICO DO INDIVÍDUO.

Pode-se suspeitar de eclosão clínica em pacientes que apresentarem altos títulos de FAN sem nenhuma sintomatologia. Dados na literatura citam que em até 80% dos casos, portadores de LES apresentaram positividade de FAN antes do aparecimento da doença.

FAN positivo transitoriamente

O FAN pode estar positivo transitoriamente. Nesses casos, suspeita-se de infecções virias como:

  • Citomegalovirose
  • Parvovirose
  • Mononucleose Infecciosa
  • Hepatite.

Uso de drogas e FAN positivo

Vários medicamentos podem induzir a uma condição lupóide e títulos de FAN elevados que, usualmente decrescem após a retirada do medicamento. Drogas que geralmente estão associadas com FAN positivo incluem:

  • Hidralazina
  • Carbamazepina
  • Hidantoína
  • Procainamida
  • lsoniazida
  • Metildopa
  • AAS.

Uso de corticoide ou outra terapia imunossupressora também pode levar a resultados de FAN negativos. Nestes casos o exame deve ser repetido 3 meses após a retirada do medicamento.

O soro de pacientes com qualquer doença reumática pode conter muitos auto anticorpos para diferentes constituintes nucleares;

O que fazer após o FAN positivo?

Após o teste de triagem positivo deverá ser feita a dosagem dos auto anticorpos separadamente.

Alguns destes testes são mercadores diagnóstico, enquanto outros são encontrados em várias doenças, mas com prevalências diferentes.

Padrões nucleares de FAN mais frequentes e suas correlações clínicas

Quanto aos padrões mais comumente encontrados com as possíveis correlações clinicas, confira abaixo:

Anti-DNA de cadeia dupla (ds-DNA, DNA Nativo) Padrão: Homogêneo

  • Encontrados primariamente no LES numa frequência de 70 a 80% dos casos;
  • Concentração de antígenos (título) correlaciona-se bem com a atividade da doença;
  • Presença de anticorpos anti-DNA correlaciona-se particularmente com a atividade da nefrite lúpica.

Anti-Histona Padrão: Homogêneo

  • Estão presentes em 96% dos pacientes com lupus induzido por medicamentos e em 30% do LES.
  • Hidralazina, Procainamida e anticonvulsivantes;
  • Ocorre em 15 a 20% dos pacientes com AR.

Anti-snRNP Padrão: Pontilhado (grosso)

Altos títulos de RNP, na ausência de anti-Sm, são fortemente sugestivos de doença mista do tecido conjuntivo (DMTC).

As DMTC se manifestam clinicamente por acometimento cutâneo do tipo esclerodérmico, miosite e sinovite tipo reumatóide, onde aparece em 100% dos casos.

Aparece em baixos títulos no:

  • LES
  • Lupus discóide
  • Artrite reumatóide
  • Síndrome de Sjogren
  • Lupus induzido por medicamentos

Anti-Sm (Smith, nome do primeiro paciente em que foi reconhecido) Padrão Pontilhado  (grosso)

Possui alta especificidade para o LES, porém sua sensibilidade nestes pacientes é de apenas 25 a 30 %, geralmente durante a fase aguda da doença. Raramente aparece em outras desordens.

Alguns estudos associam a sua presença com nefrite branda de surto benigno, outros o associam com envolvimento do SNC, quando manifestação única do LES.

Anti-SSa/Ro Padrão pontilhado (fino)

Ro é uma proteína citoplasmática pequena ligada ao RNA, cuja função é desconhecida. Este anticorpo está presente em cerca de 70% dos pacientes com síndrome de Sjogren primária.

Já na Sj associada a artrite reumatóide está presente em 40% dos casos.

Também ocorrem em 30% dos pacientes com LES, onde marca as formas de lupus neonatal, lupus subagudo cutâneo e na síndrome do anticorpo antifosfolípide.

Anti-SSb/La Padrão pontilhado (fino)

  • São contra partículas protêicas do RNA que parecem participar como um co-fator para a RNA polimerase;
  • O anti-La geralmente acompanha o anti-Ro;
  • A presença de ambos no LES é geralmente associada a uma doença mais leve do que quando o Ro está presente isoladamente;
  • O SSb/La ocorre em mais da metade dos pacientes com Sj e no LES em 15%.

Anti- centrômero Padrão pontilhado centromérico

Esclerose sistêmica forma CREST:

  • C/calcinose
  • R/Raynaud
  • E/dismotilidade esofagiana
  • S/esclerodermia
  • T/telangectasia.

Anti-Scl-70 Padrão nucleolar

Proteína 7OKDa que foi recentemente identificada como uma Topoisomerase encontrado em 75% de pacientes com esclerose sistêmica difusa.

Anti PCNA Padrão pontilhado pleomórfico PCNA

Específico para LES (5 a 10% dos casos) não sendo encontrado em outras patologias.

Geralmente pacientes com PCNA positivo apresentam maior incidência de glomerulonefrite difusa.

Observações

OBS: alguns padrões de IFI não guardam associação específica com doenças reumáticas autoimunes, podendo mesmo ser detectados em indivíduos sadios.

Entre esses, se destacam o padrão pontilhado fino com título baixo (1/80 a 1/160) e pontilhado fino denso (em qualquer título), pois representam mais de 50% dos testes positivos na rotina de um laboratório clínico geral.

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