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A disfunção temporomandibular é um problema comum na prática médica. Saiba mais sobre suas etiologias, sintomas, diagnóstico e tratamento!
Recentemente a influenciadora Virgínia Fonseca apresentou muitas dores de cabeça e, após uma investigação descobriu que estava com disfunção temporomandibular (DTM). Essa é uma das causas comuns de cefaleia e de bruxismo, principalmente quando estão associadas à casos de ansiedade ou estresse.
Chamamos DTM a disfunção da articulação temporomandibular (ATM), dos músculos mastigatórios e estruturas adjacentes. Constantemente, essas estruturas sofrem algumas disfunções que impactam diretamente na qualidade de vida dos indivíduos, principalmente nas atividades de trabalho, escola, sono, apetite e alimentação.
É uma patologia mais prevalente em adultos do que em crianças. A prevalência é 1,5 vezes maior em mulheres do em homens. A idade de maior risco de desenvolver a ATM é entre 18 a 44 anos. Dentre os grupos mais acometido por essa patologia estão as pessoas que tem artrite reumatoide, outras condições de dores, má qualidade de sono e quem é tabagista.
Anatomia
Para entender melhor a patologia, é importante compreender a sua anatomia. Como já falamos, a disfunção temporomandibular acontece na região da face, próxima a região do ouvido. Faz parte do distúrbio problemas nos músculos, articulação e outras estruturas.
As articulações funcionam como uma estrutura responsável por unir dois ossos ou um osso a uma cartilagem. Elas têm a função de permitir estabilização e movimento dessas estruturas.
No caso da ATM, ela é responsável por unir a mandíbula ao osso temporal. Fica localizada entre o côndilo do primeiro osso e a fossa glenóide do osso temporal (fugura1).

Os músculos que estão envolvidos na disfunção temporomandibular são os músculos da mastigação. Os principais são o masseter, o temporal e os músculos pterigoideos medial e lateral. Além deles, músculos do ouvido e do palato também podem ser afetados e provocar sintomas.
Nessa região temos também nervos. O principal dele é o nervo trigêmeo que inerva tanto os músculos mastigatórios, como também os da orelha média.
Etiologia
As causas da disfunção temporomandibular são diversas. Tanto de origem psicológica, biológica, comportamentais, ambientais, fatores neuromusculares, anatômicos.
Algumas dessas causas mais comuns são:
- Trauma articular;
- Má postura da cabeça e cervical;
- Percepção aumentada da dor;
- Artrite;
- Estresse;
- Aperto da mandíbula;
- Ranger de dentes;
- Ansiedade;
- Depressão
Sinais e sintomas da disfunção temporomandibular
As manifestações clínicas são caracterizada por uma dor aguda ou crônica, de característica pré-articular, com irradiação temporal, frontal ou occipital. Ou seja, podem ser dores na região da ATM, na cabeça e no ouvido.
Alguns sinais e sintomas relatados e encontradas na avaliação de pacientes com disfunção temporomandibular são:
- Cefaleia;
- Otalgia;
- Sensação de plenitude auricular;
- Sensação de diminuição da acuidade auditiva;
- Zumbido, tonturas, vertigens;
- Dor orbital;
- Dor no pescoço;
- Limitação dos movimentos mandibulares, como abertura de boca;
- Oclusão estática e dinâmica anormais;
- Ruídos articulares (estalidos e/ou crepitação);
- Dor na face.

Diagnóstico
O diagnóstico da disfunção temporomandibular é predominantemente clínico. Porém existem alguns exames complementares que podem ajudar no diagnóstico.
Anamnese
O profissional deve focar as perguntas nos sintomas do paciente que já foram abordados acima, de cabeça, ouvido, pescoço, face. Além disso, é importante fazer questionamentos sobre alguns hábitos, como morder lápis, mascar chicletes, apertar ou ranger dentes.
É importante questionar sobre a ocupação e hobbies. Pessoas que mergulham, tocam instrumentos, cantam, trabalham com algum tipo de máquina, etc. Esses fatores ajudam a direcionar o raciocínio clínico, guiando a investigação de outras patologias.
Deve-se questionar ainda sobre qualidade de sono, saúde psíquica, história de cirurgias, traumas e doenças prévias.
Exame físico na investigação da disfunção temporomandibular
O foco deve ser na região da cabeça e do pescoço. Coloque as duas mãos no sobre a articulação e peça ao paciente que abra e feche a boca. Assim é possível avaliar a movimentos de desvios, protrusões, desnivelamentos, diminuição da amplitude.
Deve-se fazer a palpação dos músculos da mastigação avaliando a sensibilidade muscular, tensão, perda da força muscular.
É possível também pedir para que o paciente morda algum rolo de algodão ou lâmina de língua entre os dentes caninos superiores e inferiores de cada lado. Isso ajuda avaliar dor, carga dinâmica.
É importante fazer avaliação dos dentes. Observe sinais de desgastes, de desníveis, sintomas de bruxismo. Avaliem a sensibilidade do nervo trigêmeo, facial. Avaliem se existe a simetria postural.
Exames complementares
Para pacientes que tem sintomas mais graves ou que são persistentes mesmo com tratamento, é importante realizar uns exames de imagem para descartar algumas patologias mais graves. Os exames escolhidos são:
- Radiografia panorâmica;
- Tomografia computadorizada (TC).
Diagnóstico diferencial da disfunção temporomandibular
A disfunção temporomandibular possui alguns diagnósticos diferencias, o que dificulta, muitas vezes o diagnóstico correto da patologia.
Pacientes costumam a procurar cirurgiões bucomaxilofacial, otorrinolaringologistas e neurologista para solucionar as dores. Assim, é preciso diferenciar a DTM de:
- Neuralgias dos nervosos trigêmeo e do glossofaríngeo;
- Síndrome da ardência bucal;
- Processos inflamatórios: artrite reumatoide, artrite reumatoide juvenil, artrite psoriática e espondilite anquilosante;
- Cefaleias;
- Otalgia;
- Zumbido;
- Distúrbios dentários;
- Câncer de cabeça e pescoço;
- Processos não-inflamatórios: aplasias, agenesias, hiperplasias e neoplasmas.
Como manejar a disfunção temporomandibular?
Devido as causas multifatoriais, o tratamento inicial costuma a ser conservador, não invasivo. É indicado:
- Orientações de autocuidado;
- Intervenções psicológicas;
- Terapia farmacológica: antiinflamatórios não esteróides (AINEs), antidepressivos tricíclicos (TCAs) e relaxantes musculares;
- Fisioterapia;
- Acupuntura;
- Laserterapia de baixa intensidade;
- Placas de oclusão;
- Exercícios musculares;
- Terapias manuais.
Terapias com fonoaudiólogos são bastante indicadas a fim de reabilitar as funções miofuncionais orofaciais. São realizados exercícios miofuncionais, orofaciais a fim de melhorar a mastigação, reduzir a sobrecarga de compensações, etc.

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Referências
- DONNARUMMA, M. D. C. et al. Disfunções Temporomandibulares: Sinais, sintomas e abordagens multidisciplinar. Rev. CEFAC. 2010.
- Enxaqueca: Virgínia Fonseca fez ‘bloqueio’ para tratar ‘cefaleia refratária à analgesia convencional’; entenda. O Globo. Disponível: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2022/05/influencer-virginia-fonseca-fez-bloqueio-para-tratar-cefaleia-refretaria-a-analgesia-convencional-entenda.ghtml. Acesso em: 14 Fev 2023.
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- MOREIRA, C.M.; VELOSO, D. T.; SARAIVA, A. Etiologia da Disfunção Temporomandibular. IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba.
- PORTINHO, C. P. et al. Perfil dos pacientes com disfunção temporomandibular. Arquivos Catarinenses de Medicina, Vol. 41, Suplemento 01, 2022.
- SASSI, F. C. et al. Tratamento para disfunções temporomandibulares: uma revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2018.