Índice
- 1 O que é a doença inflamatória pélvica?
- 2 Etiologia da DIP: quais são suas causas?
- 3 Fisiopatologia da doença inflamatória pélvica:
- 4 Fatores de risco da doença inflamatória pélvica
- 5 Manifestações Clínicas da Doença Inflamatória Pélvica
- 6 Critérios avaliação da Doença Inflamatória Pélvica
- 7 Diagnóstico da doença inflamatória pélvica
- 8 Tratamento para Doença Inflamatória Pélvica
- 9 Possíveis complicações da DIP
- 10 Perguntas frequentes
- 11 Referências
Entenda o que é a doença inflamatória pélvica, sua etiologia, diagnóstico e o melhor manejo para a sua paciente! Bons estudos!
A doença inflamatória pélvica (DIP) é um quadro infeccioso do trato genital feminino. Considerando os fatores de risco do desenvolvimento de DIP, é fundamental que o médico esteja familiarizado com seu manejo.
O que é a doença inflamatória pélvica?
A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma inflamação da região pélvica, mais especificamente, acima do orifício interno do colo do útero. Assim, é considerada uma inflamação de trato genital superior.
Pensando nisso, a DIP pode envolver não apenas o útero em si, mas também as tubas uterinas e ovários. Em casos mais graves, ainda, pode acometer a cavidade pélvica.

A doença inflamatória pélvica pode se apresentar de duas maneiras:
- Aguda: sintomas súbitos, porém severos.
- Crônica: sintomas mais leves, porém graduais. Ao longo do tempo, pode agudizar.
Com base nisso, entendemos que a DIP aguda representa uma grande preocupação para a saúde pública brasileira. Ainda, é considerada a complicação mais importante das IST’s entre as mulheres jovens.
Etiologia da DIP: quais são suas causas?
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a DIP é o resultado de um processo polimicrobiano. Ou seja, muitos podem ser os microrganismos envolvidos no processo infeccioso, muitos deles também provindos de IST’s (60% dos casos).
Em vista disso, os agentes sabidamente mais importantes são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. No entanto, muitos são outros patógenos capazes de causarem a DIP. Eles podem ser bactérias Gram (+) e Gram (-) aeróbias e anaeróbias.
Dentre os agentes anaeróbios, destacamos a Gardnerella vaginalis, que representou um aumento relevante em casos de DIP nos últimos anos. Além dela, também observa-se:
- Haemophilus influenzae;
- Streptococcus agalactiae;
- Mycoplasma hominis;
- Escherichia coli;
- Ureaplasma urealyticum.
Já nas pacientes que fazem uso do Dispositivo Intrauterino (DIU), a Actinomyces israelii possui relevância nos casos.
Com base nisso, os agentes infecciosos causadores do quadro podem ser agrupados em:
- Organismos exógenos: levando à salpingite, como a Chlamydia trachomatis (mais comum) e Neisseria gonorrhoeae.
- Infecções endógenas: em que os agentes tem relações comensais no trato genital. No entanto, ao sofrer manipulação como um trauma, ou mesmo o uso do DIU, leva à interrupção da barreira cervical. Como consequência, instala-se o quadro infeccioso.
- Actinomicose: causada pelo uso prolongado de DIU.
Fisiopatologia da doença inflamatória pélvica:
A DIP é geralmente um quadro de ascensão dos micro-organismos pelo trato genital. Pensando nessa dinâmica, os microrganismos ascendem pela endocérvice (endocervicite), endométrio (endometrite), tubas (salpingite).
Esse processo é facilitado no período perimenstrual e pós menstrual imediato. Isso é explicado pela maior abertura do colo, fluidez do muco e contratilidade uterina e mudança do pH da região. Todos esses fatores favorecem a dinâmica ascendente dos microrganismos.
Ao alçarem as tubas, a infecção pode seguir dois cursos:
- Restrita àquela região, caso as fímbrias estejam ocluídas como mecanismo protetor. Sendo esse o caso, tem-se a PIOSSALPINGE no quadro agudo e HIDROSSALPINGE como consequência futura por destruição do epitélio endotubário.
- Atingir a cavidade pélvica, quando as fímbrias não tiveram tempo para ocluírem. Assim, as possibilidades são a PELVEPERITONITE, com abcesso no fundo de saco de Douglas ou no tubo ovariano.
Fatores de risco da doença inflamatória pélvica
A maioria das pacientes são nulíparas, entre 15 e 25 anos e com vida sexual ativa. A DIP tem baixa taxa de mortalidade e alta taxa de morbidade (infertilidade, gravidez ectópica, dispareunia, dor pélvica crônica).
Os fatores de risco mais importantes são:
- Idade < 25 anos;
- Início precoce da atividade sexual;
- Situação socioeconômica de fragilidade;
- Tabagismo, alcoolismo e uso de drogas ilícitas;
- Múltiplos parceiros;
- Parceiro portador de uretrite;
- História prévia de IST ou DIP;
- Uso de DIU.
Outro fator de risco de grande importância é o não uso de preservativos nas relações sexuais.
Manifestações Clínicas da Doença Inflamatória Pélvica
Algumas pacientes podem não apresentar sintomas, enquanto outras podem variar de sintomas leves a muito graves. Como comentamos, isso ocorre devido ao estágio e alcance da infecção.
O diagnóstico clínico da DIP permanece sendo um desafio médico. Isso se justifica pelos sinais e sintomas serem, muitas vezes, inespecíficos e correlacionarem-se com a extensão da inflamação.
A avaliação no exame físico deve ser detalhada, em busca de sinais que sugiram infecção. Com isso, o médico deve se atentar para:
- A temperatura corpórea para avaliar presença de febre.
- Abdômen: dor à pressão, dor na descompressão súbita, defesa muscular e localização das dores.
- Exame especular: secreção purulenta do colo do útero.
- Toque vaginal: dor à palpação/mobilização do colo do útero, região anexial dolorosa ou abaulada.
Critérios avaliação da Doença Inflamatória Pélvica
Alguns estudos recentes defendem, ainda, a subdivisão dos critérios de DIP em maiores, menores e elaborados. Com base nisso, são necessários
3 CRITÉRIOS MAIORES + 1 CRITÉRIO MENOR / 1 CRITÉRIO ELABORADO.
Critérios maiores
Os critérios maiores preconizam que a paciente apresente dor em uma das seguintes situações:
- Palpação anexial;
- Mobilização do colo uterino;
- Dor pélvica infrapúbica.
Critérios menores
Febre: temperatura oral acima de 38,3 °C ou temperatura
axilar maior que 37,5 °C;
- Secreção vaginal e/ou endocervical purulenta;
- Massa pélvica;
- Leucocitose ao hemograma;
- Proteína C reativa elevada;
- Mais de cinco leucócitos por campo de aumento em secreção
de endocérvice avaliada à microscopia; - Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo,
Chlamydia ou Mycoplasma.
Critérios elaborados
- Evidência histopatológica de endometrite;
- Presença de abscesso túbulo-ovariano ou no fundo de saco de
Douglas aos exames de imagem; - Laparoscopia evidenciando doença inflamatória pélvica.
Diagnóstico da doença inflamatória pélvica
Um diagnóstico definitivo é difícil, pois a coleta de amostras de rotina por meio de cotonete cervical tem limitações na avaliação dos organismos.
O diagnóstico é incorreto em até 1/3 das mulheres que o recebem.
- Cotonete cervical para coloração de Gram e cultura,
- PCR (N. gonorrhoeae);
- Cotonete cervical e técnicas especiais (por exemplo, PCR para C. trachomatis).
A avaliação laparoscópica é considerada padrão-ouro. Embora não recomendada de rotina, devido ao alto custo e morbidade associados.
Outro fato a ser considerado é que, nos estádios iniciais, quando o processo inflamatório restringe-se à luz tubária, a visão laparoscópica poderá resultar em diagnóstico falso-negativo.
Tratamento para Doença Inflamatória Pélvica
Para definir o tratamento da mulher com DIP, usaremos a Classificação de Monif e do estágio em que o paciente se encontra.
Estágio 1
Endometrite e salpingite sem peritonite. Tratamento ambulatorial:
- Ceftriaxone 500 mg IM + Doxiciclina 100 mg 12/12h por 14 dias + Metronidazol 500 mg VO, por 14 dias
Estágio 2
Salpingite aguda com peritonite. Tratamento hospitalar:
- Clindamicina IV + Gentamicina IV
Estágio 3
Presença de oclusão da tromba e abcesso tubo-ovariano
Estágio 4
Abcesso grande (> 10 cm) ou roto
*Estágios 2, 3 e 4 + gestantes, imunocomprometidos e ausência de melhora do quadro após 72h de tratamento (para o estágio 1) recebem tratamento hospitalar.
Todos os parceiros recentes, incluindo os dos últimos dois meses, devem ser convocados para avaliação clínica e propedêutica do esfregaço uretral, independentemente da sintomatologia. Parceiros dos últimos seis meses também devem ser investigados de acordo com a história clínica.
Deve ser considerado tratamento empírico para C. trachomatis e N. gonorrhoeae, independentemente da etiologia aparente da DIP. Recomenda-se azitromicina 1 g, VO associado à ceftriaxone 250 mg, IM, ambas em dose única (ou ciprofloxacina 500 mg, VO, dose única).
Possíveis complicações da DIP
O processo de infecção e inflamação são considerados respostas orgânicas à eventos ameaçadores. No caso da doença inflamatória pélvica, por ser capaz de acometer grandes extensões do trato genital feminino, algumas complicações precisam ser consideradas e investigadas. Dentre elas, temos:
- Abcessos;
- Adesões, formando faixas de tecido cicatricial;
- Bloqueio das trompas, devido ao edema;
- Peritonite;
- Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis.
A peritonite se torna uma preocupação considerável caso haja a disseminação da infecção para a cavidade pélvica, inflamando o peritônio. Nesse caso, a paciente seguirá com dor intensa súbita e difusa.
A síndrome de Fitz-Hugh-Curtis trata-se de uma peri-hepatite, sendo uma inflamação da cápsula hepática, geralmente causada por Neisseria gonorrhoese ou Chlamydia trachomatis. Considerando isso, a dor da paciente é semelhante à referida na colecistite.
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Perguntas frequentes
- O que é a DIP?
A doença inflamatória pélvica (DIP) é um quadro infeccioso causado pela ascensão de microrganismos pelo trato genital feminino, geralmente advinda de uma IST. - Quais são principais fatores de risco para a DIP?
Os dois principais fatores de risco para a doença é o não uso de preservativos e mulheres em idade fértil. - Quais são os sintomas da DIP?
Como um sinal de infecção, muitas pacientes apresentam dor à manipulação genital e febre.
Referências
- Murtagh J. Murtagh J Ed. John Murtagh.eds. Murtagh’s General Practice, 6e New York, NY: McGraw-Hill.
- Romanelli, R. M. de C., Lima, S. S. S., Viotti, L. V., Clemente, W. T., Aguiar, R. A. L. P. de, & Silva Filho, A. L. (2013). Abordagem atual da doença inflamatória pélvica. Revista Médica de Minas Gerais, 23(3), 347–355. https://doi.org/10.5935/2238-3182.20130055
- O’Connor V, Kovacs G. Obstetrics, Gynaecology and Women’s Health. Cambridge: Cambridge University Press, 2003: 476–97.
- Dekker JH, Veehof LJG, Hinloopen RJ, Van Kessel T, B. F. traduzido. (2014). Doença inflamatória pélvica. Programa de Diretrizes Da Associação Holandesa de Clínica Geral (NHG), 50.