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A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou na última quarta-feira (31/03), uma nota na qual afirma que o antiparasitário ivermectina não funciona contra COVID-19 nem deve ser usada em pacientes com o novo coronavírus. O apelo está relacionado às evidências “inconclusivas” e, por isso, a entidade recomenda que o remédio deve ser usado apenas em estudos clínicos.
A recomendação agora faz parte das diretrizes da OMS sobre tratamentos para a COVID-19 e se aplica para pacientes infectados em qualquer grau de severidade da doença.
“Nossa recomendação é não usar ivermectina para pacientes com COVID-19, independentemente do nível de gravidade ou duração dos sintomas”, disse Janet Díaz, chefe da equipe de resposta clínica à COVID-19 da agência da OMS, em uma entrevista coletiva.
Segundo a entidade, um painel internacional independente de especialistas foi designado para desenvolver diretrizes sobre o remédio em resposta ao “aumento da atenção internacional sobre a ivermectina como tratamento potencial para a COVID-19”.
Um levantamento do G1 mostrou que o antiparasitário foi um dos medicamentos que teve maior aumento de vendas desde o início da pandemia: 557% vendas a mais do que em 2019.
Estudos com limitações metodológicas mostram que ivermectina não funciona
A nota da OMS informa que o grupo de cientistas revisou dados de 16 ensaios clínicos randomizados, totalizando 2.407 pacientes com COVID-19 internados ou em cuidados ambulatoriais.
A conclusão é que as evidências sobre os benefícios da ivermectina são de “certeza muito baixa” porque os estudos são pequenos e há limitações metodológicas dos dados de ensaios disponíveis.
O painel não analisou o uso de ivermectina como forma de prevenção à COVID-19, mas a OMS informou que esse uso não está listado em suas diretrizes de combate ao coronavírus. Portanto, a organização reafirma que ivermectina não funciona no combate à COVID-19.
Em fevereiro de 2021, a farmacêutica alemã Merck, responsável pelo medicamento, divulgou parecer descartando o uso para COVID-19. Em comunicado oficial, a empresa disse que estava estudando as evidências científicas com cuidado e que até o momento elas não indicavam benefícios contra o SARS-CoV-2.
Os perigos do ‘Kit Covid’
A nota da OMS reforça também que há “forte recomendação” contra o uso de hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento da COVID-19. Assim como a ivermectina, esses medicamentos fazem parte do que vem sendo chamado de ‘kit Covid’, que chegou a ser defendido como “tratamento precoce” para a COVID-19.
A recomendação da OMS integra agora a longa lista de entidades que descartam o uso de medicamentos para tratamento e prevenção da doença. Recentemente, a Associação de Médicos do Brasil (AMB) soltou um comunicado assinado por mais de 80 entidades médicas do país no qual desaconselha o uso do ‘kit covid’.
“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz o comunidade.
Segundo médicos do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e do hospital da Universidade de Campinas (Unicamp), o uso indiscriminado de medicamentos do chamado “kit Covid”, como a ivermectina, levou ao menos quatro pacientes a desenvolverem graves de lesões no fígado, que demandam até necessidade de transplante.
Além disso, três pacientes morreram depois de receberam nebulização com hidroxicloroquina no Rio Grande do Sul, o que fez com que a Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT) divulgasse nota desaconselhando a medida.