Farmacologia

Amitriptilina: ação, farmacocinética, indicações e mais

Amitriptilina: ação, farmacocinética, indicações e mais

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O cloridrato de amitriptilina faz parte de um grupo de fármacos conhecido como antidepressivos tricíclicos (ADT). Esse grupo foi considerado o tratamento de primeira linha para a depressão durante muitos anos, mas perdeu esse posto após a introdução dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina, que possui efeitos adversos mais amenos.

Mecanismos de ação

A amitriptilina atua através da inibição do mecanismo de bomba da membrana responsável pela captação da serotonina e da norepinefrina, bloqueando a recaptação desses neurotransmissores e potencializando e prolongando sua atividade neural. Associado a essa ação, possui alta afinidade com os receptores de histamina H1 e M1 muscarínicos, o que justifica alguns dos seus efeitos adversos. 

Sugere-se que a melhora dos sintomas emocionais reflita principalmente aumento na transmissão mediada por serotonina, enquanto o alívio dos sintomas biológicos resulta da facilitação da transmissão noradrenérgica.

Farmacocinética e farmacodinâmica da Amitriptilina

Os tricíclicos são administrados por via oral e absorvidos rapidamente no intestino delgado. Ao entrar na circulação portal e sofre metabolismo de primeira passagem no fígado. Esse metabolismo ocorre por duas vias, a N-desmetilação e a hidroxilação de anel. O metabólito desmetilado da amitriptilina é a nortriptilina, que também possui ação terapêutica. 

A meia-vida de eliminação para os tricíclicos de forma geral é longa, de média de 24 horas, o que garante sua tomada única diária. Pelo efeito adverso de sedação, sugere-se que a administração seja realizada à noite. Sua eliminação é feita por via urinária, através da conjugação dos metabólitos hidroxilados com glicuronídeo. 

Indicações da Amitriptilina

A amitriptilina tem diversas indicações terapêuticas, dentre elas:

  • Depressão
  • Ataques de pânico,
  • Transtorno de ansiedade generalizada
  • Transtorno de estresse pós-traumático, 
  • Bulimia nervosa 
  • Tratamento profilático da migrânea. 
  • Dores crônicas, como neuropatias
  • Cessação do tabagismo

Contraindicações

O uso dessa medicação é contraindicado em pacientes com:

  • Hipersensibilidade a essa substância
  • Em uso de Inibidores  da monoaminoxidase (IMAO)
  • Paciente vítima de Infarto Agudo do Miocárdio há menos de 30 dias

Dose

A dose terapêutica da amitriptilina varia de acordo com a finalidade terapêutica. No caso de dor neuropática e de controle de quadro enxaquecoso, a dose de 25 mg por dia pode apresentar resultado. Entretanto, com finalidade antidepressiva, a dose terapêutica é mais elevada e varia entre 75 a 300 mg por dia. 

Sugere-se que a introdução desse fármaco seja feita de forma gradual, iniciando com dose de 25 mg ao deitar. Alguns pacientes sensíveis aos efeitos colaterais e idosos podem iniciar, inclusive, com uma dose de 10 mg/dia. O ajuste da dose deve ser realizado de 25 a 50 mg a cada poucos dias ou a cada semana, dependendo da resposta do paciente, até atingir a faixa necessária. 

Efeitos adversos

Os efeitos adversos mais comuns são os efeitos anticolinérgicos, como visão turva, constipação, boca seca e retenção urinária. Entretanto, os mais preocupantes são os efeitos adversos cardíacos, uma vez que todo antidepressivo tricíclico é potencialmente cardiotóxico.  Podem causar hipotensão ortostática e a principal preocupação é o prolongamento do intervalo QT, que pode causar arritmias e, em caso de overdose, pode ser fatal.

Os antidepressivos tricíclicos também podem diminuir o limiar convulsivo, aumentando a chance de convulsões. Entretanto, estão diretamente associados a dose, sendo mais frequente em altas dosagens. Esses fármacos também possuem efeito anti-histamínicos, causando sedação, aumento do apetite (e consequente ganho de peso), confusão e delírio.

Interações medicamentosas da Amitriptilina

A amitriptilina depende do metabolismo hepático para sua eliminação, e por isso interage com mecanismos que também utilizam essa via, como os antipsicóticos e alguns esteróides. O uso associado ao Topiramato resulta no aumento da concentração de amitriptilina. 

Além disso, potencializam os efeitos do álcool e dos anestésicos. Há, também, o relato de delírio no uso associado ao Dissulfiram. Não deve ser utilizado em associação com os IMAOs pois aumentam a ação das aminas simpatomiméticas, e foram registrados casos de crises hiperpiréticas, convulsões graves e mortes. A substituição de um IMAO por amitriptilina, inclusive, deve aguardar um período de 14 dias após a finalização do tratamento. 

A amitriptilina interage com diversos anti-hipertensivos, e associado a seus efeitos adversos, deve ser utilizado com cautela e intenso monitoramento em pacientes hipertensos. 

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Referências:

Brunton, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012.

HIRSCH, Michael; BIRNBAUM, Robert. Tricyclic and tetracyclic drugs: Pharmacology, administration, and side effects. UpToDate, Inc., 2020. Acesso em: 18 maio 2021.

Rang, H.P; Dale, M.M. Farmacologia. Editora Elsevier, 8 ed., 2016