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Resumo de teníase: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento

Resumo de teníase: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento

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A teníase é uma infecção causada pela Taenia, que faz parte do Filo Platelminthes, Classe cestoda (parasita com formato de fita), Genero: Taenia. Pode ter duas espécies: Taenia solium e T. saginatta. É um parasita hemarfrodita que causa uma doença cosmopolita e negligenciada com grandes prejuízos à economia.

O homem pode entrar em contato com esse platelminto em duas formas evolutivas diferentes, podendo desenvolver dois tipos de patologias distintas: teníase e cisticercose.

Epidemiologia da teníase

O homem é o hospedeiro definitivo deste parasita conhecido como solitária. O hospedeiro intermediário é o porco para o embrião da T. solium, e o gado bovino doméstico para o embrião da T. saginata. As tênias adultas podem viver por cerca de 3 a 25 anos no intestino delgado do homem.

A maior prevalência ocorre em adultos jovens nas zonas rurais da América Latina, África e Ásia, devido principalmente aos hábitos culturais de consumo de carnes cruas ou malcozidas, além do destino inadequado das fezes humanas.

Falando em números, a OMS estimou a existência de 70 milhões de pessoas contaminadas, com 50 mil mortes anuais, geralmente pelas complicações da neurocisticercose induzida pela T. solium.

Fisiopatologia

Morfologia da Taenia sp

As tênias são achatadas dorsoventralmente e chegam ao comprimento de 3 a 10 metros, sendo a T. saginata mais longa que a T. solium. O escólex possui ventosas, e com estas o verme se fixa à mucosa do duodeno ou jejuno. Ela é hermafrodita e vive geralmente solitária no intestino do homem.

Cada parte do corpo é denominada de proglotes, sendo que os distais são mais maduros e amarrotados com 30 a 80 mil ovos. Quando se desprendem, esses ovos são eliminados passivamente com as fezes e podem acabar contaminando pastagens.  

Formas Evolutivas

Adulto: Tem uma cor branco leitosa com superfícies lisa e brilhante repleta de microvilosidades que são responsáveis pela nutrição e excreção desse parasita no intestino. A cabeça é o escoléx, depois dele temos um colo e depois o estróbilo que é o corpo constituído por várias proglótides.

Tanto na sollium quanto na saginata temos no escolex  4 ventosas, mas apenas na sollium temos um rostro (coroa de acúleos) ajudando assim na distinção entre as duas espécies. No colo temos a estrobilização progressiva, ou seja, é lá que ocorre a produção das proglotes resultando em crescimento do parasita.

Proglotes Maduras: Nelas podemos enxergar os órgãos reprodutores.

Proglotes gravídicas: Não conseguimos ver com clareza as estruturas internas porque o útero está lotado de ovos com inúmeras ramificações do útero.

  • Na saginata: Temos um maior numero de ramificações, com aspecto dicotômico, ou seja, temos ramificações em ambos os lados como em paralelo. Outra coisa interessante é que ela tem uma musculatura que permite que ela se movimente, podendo até ser eliminada nas fezes.
  • Na sollium: O número de ramificações diminui e tem um aspecto dendrítico onde uma ramificação gera várias outras, como uma arvore.

Ovos: Tem uma casca espessa com aspecto radiado, contendo no interior um embrião hexacanto com 3 pares de acúleos e dupla membrana. Já é liberado na forma infectante, por esse motivo existe possibilidade de reinfecção.

Obs.: nos ovos, tanto a sollium quanto a saginata tem acúleos, mas nos adultos somente a sollium.

Ovos de Taenia spp - Teníase
Ovos de Taenia sp.
FONTE: Atlas de Parasitologia Clínica

Cisticerco: É uma vesícula translucida com liquido claro. Já possui escolex e 4 ventosas, colo, rostelo. Fica em uma conformação invaginada, formando uma espécie de vesícula que só se desinvagina no intestino.

Ciclo Biológico – Teníase

O humano tem uma tenia adulta no intestino com a proglóte repleta de ovos que vão ser liberados junto com as fezes.  Se essas fezes não tiverem o destino adequado, elas caem no meio ambiente infectando os pastos podendo infectar os bois ou porcos. Lembrar que somente a Taenia saginata infecta o bovino e somente a Taenia sollium infecta o suíno!

No momento que o ovo é ingerido, o embrião hexacanto é liberada e se dirige para a musculatura desses animais onde vai se desenvolver para cisticerco. Quando o humano ingere a carne bovina ou suína infectada vai ingerir esta forma, o cisticerco, que no intestino vai se desenvagina sob a ação da bile, usando as ventosas e o rostro para se fixar, até crescer e virar adulto.

Neste ciclo então, temo o hospedeiro definitivo: homem com forma adulta; Hospedeiro intermediário: bois e porcos.

Ciclo Biológico – Cisticercose

É uma forma acidental do ciclo, onde o homem entra no lugar do animal. Ou seja, ingerimos o ovo diretamente! Esses ovos vão para intestino onde liberam suas larvas que penetram na parede intestinal, se disseminando para tecidos onde vão se desenvolver até a forma de cisticerco. Esse cisticerco então, vai se desenvolver em qualquer órgão, principalmente em cérebro, num quadro conhecido como cisticercose. Mas devemos lembrar que somente a T.solium desenvolve a cisticercose.

Ciclo da Taenia sp e do seu Cisticerco  - Teníase
Ciclo da Taenia e do seu Cisticerco.
FONTE: Centers for Disease Control and Prevention

Vias de Transmissão

A Teniase se dá pela ingestão de carnes crua ou mal cozida de suínos ou bovinos, contendo cisticercos; ao passo que a cisticercose se dá pela ingestão de alimentos e/ou água contaminados com ovos. 

Quadro clínico da teníase

 Teníase

Também chamada de solitária porque, apesar de poder ter mais de uma, somente um parasita já é suficiente para gerar a doença.

Frquentemente é assintomático, mas podem causar fenômenos tóxicos alérgicos por substancias excretadas; hemorragias pela fixação na mucosa e destruição do epitélio além de inflamação com hipo ou hipersecreção de muco.

Dentre os sintomas podemos ter tontura, astenia, apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento e dores abdominais, constipação intestinal ou diarreia, perda de peso e etc. Porém, geralmente, desencadeiam um quadro mais brando.

Cisticercose

É uma doença pleomórfica pois esses patógenos podem se localizar em vários sítios no organismo, sendo que a maior parte se aloja no SNC.

Cisticercose muscular ou subcutânea disseminada: Em geral é assintomática, mas quando em grandes números podem provocar dor, fadiga e câimbras. Após a morte do parasita teremos calcificação do granuloma nos músculos e outros tecidos.

Cisticercose cardíaca: Podemos observar palpitações e ruídos anormais associadas a dispneia.

Cisticercose ocular: Instala-se na retina causando descolamento ou perfuração, alcançando o humor vítreo com consequente reações inflamatórias, que podem levar a catarata com perda parcial ou total da visão.

Neurocisticercose: É a apresentação mais grave! As manifestações clinicas dependem do número, localização no SNC, fase de desenvolvimento, a reação imunológica e fatores decorrentes do hospedeiro e do parasita.

Forma convulsiva (70 – 90% dos casos): Tem quadros de convulsão generalizadas ou localizadas (epilepsia);

Forma hipertensiva ou pseudotumoral: Podemos observar hipertensão intracraniana com cefaleia intensa e constante, vômitos, rigidez de nuca e etc.

Forma psíquica: Perturbações mentais como a demência.

Diagnóstico

Teniase

Precisamos de métodos coproparasitologicas, procurando ovos nas fezes do hospedeiro por meio de métodos direto ou à fresco, métodos de sedimentação e método de centrifugo-sedimentação.

Além disso temos um exame específico para tenia onde a gente faz uma peneiração das fezes para identificação de proglotes. A parti dai da pra determinar as fezes utilizando por exemplo a tinta da china injetada no poro genital da proglote.

Cisticrcose

Elisa, IFI, WB e PCR visto que não tem ovos saindo nas fezes, já que estes estão alojados nos tecidos. Além disso, podemos lançar mão de exames de imagem como raio-x e tomografia, além de exame de fundo de olho no caso de cisticercose ocular para identificar o cisticerco.

Tratamento

Teníase: Podemos utilizar o Niclosamida, Praziquantel, Mebendazol ou Albendazol. Praziquantel é mais utilizado para teníase ativa.

Cisticercose: O Praziquantel deve ser utilizado como precaução. Além disso, podemos associar anticonvulsionantes e corticoesteroides dependendo do quadro. No caso específico de cisticercose ocular podemos partir para a remoção cirúrgica da larva.

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Referências:

  • Neves, DP. Parasitologia Humana, 11ª ed, São Paulo, Atheneu, 2005.
  • Vallada, EP. Manual de Exames de Fezes: Coprologia e Parasitologia, São Paulo, Atheneu, 1998.