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As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos com atividade contra uma ampla variedade de bactérias aeróbicas gram-positivas e gram-negativas e espécies atípicas. Constituem uma classe de antibióticos formados por hidrocarbonetos aromáticos polinucleares, dos quais três são obtidos naturalmente, por fermentação de determinados fungos, e os demais por processo semi-sintético.
A clortetraciclina, a primeira tetraciclina, foi descoberta em 1948. Desde então, várias tetraciclinas adicionais foram isoladas ou derivadas. Dentre os inúmeros derivados obtidos, encontram-se, em uso clínico no Brasil, a minociclina e a doxiciclina. Os agentes mais novos aprovados em 2018 incluem eravaciclina, sareciclina e omadaciclina.
Pesquisas subsequentes para encontrar análogos da tetraciclina levaram ao desenvolvimento das glicilciclinas. A tigeciclina foi a primeira dessa nova classe de agentes e exibe atividade antibacteriana de amplo espectro semelhante às tetraciclinas.
Devido ao seu amplo espectro de ação e à facilidade de sua administração por via oral, as tetraciclinas foram amplamente utilizadas em todos os países, o que conduziu ao desenvolvimento de resistência pelos microrganismos, sobretudo por mecanismo de efluxo e de modificação no ribossomo.
Apresentação da tetraciclina
Em relação às principais tetraciclinas comercializadas no Brasil, temos a apresentação de medicamento genérico (Cloridrato de Doxiciclina®) e na especialidade farmacêutica de referência Vibramicina® (Pfizer), em comprimidos e drágeas com 100 mg. A minocliclina é comercializada em apresentação genérica (Cloridrato de Minociclina®) e na especialidade farmacêutica de referência Minomax® (Wyeth), em comprimidos com 100 mg. A tetraciclina, sob a forma de cloridrato e fosfato, é comercializada em vários medicamentos similares em apresentações orais. Existe uma apresentação genérica de associação de tetraciclina com anfotericina B em creme para uso vaginal.
Mecanismos de ação
As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos nas concentrações terapêuticas usuais. Seu mecanismo de ação se deve à inibição da síntese proteica, por ligarem-se à fração 30S do ribossomo bacteriano, impedindo a fixação do ARN de transporte. Com isso, interferem no aporte e na ligação dos aminoácidos formadores das proteínas.
As tetraciclinas entram nos microrganismos suscetíveis por difusão passiva e também por um mecanismo proteico de transporte dependente de energia próprio da membrana citoplasmática interna da bactéria.
Farmacocinética e farmacodinâmica da tetraciclina
É na farmacologia clínica que se encontram as diferenças entre as diversas tetraciclinas. As existentes no Brasil são absorvidas por via oral, em quantidades variáveis com a droga, com o indivíduo e com o fato de a administração se dar ou não junto a alimentos.
A tetraciclina e a oxitetraciclina tem biodisponibilidade por via oral entre 60% e 70%, e é maior quando as drogas são administradas fora das refeições. Ao contrário, a absorção oral da doxiciclina e da minociclina não é afetada pela alimentação, e é, mesmo, maior, quando as drogas são dadas com alimentos.
A distribuição das tetraciclinas nos tecidos e líquidos orgânicos é semelhante, sendo atingidos níveis no fígado, pulmão, pele, rim, músculos, saliva, leite, humor vítreo.
Atravessam a placenta, alcançando boa concentração fetal e no líquido amniótico.Não atravessam adequadamente a barreira hematoencefálica, e são baixos os teores liquóricos, mesmo em pacientes com meningoencefalites.
As tetraciclinas são parcialmente metabolizadas no fígado, sofrendo conjugação com o ácido acético e o ácido glicurônico. Parte dessas drogas é eliminada pela bile. A tetraciclina é excretada principalmente por filtração glomerular, recuperando-se cerca de 60% da droga ativa na urina.
Indicações das tetraciclinas
As tetraciclinas são medicamentos indicados, principalmente, na terapêutica de riquetsioses, cancroide, linfogranuloma venéreo, uretrites não gonocócicas, psitacose, tracoma, cólera, pneumonia atípica por micoplasma e clamídia, febres recorrentes, tularemia, febre por mordedura de rato e peste.
As tetraciclinas são antibióticos de amplo espectro usados para tratar a infecção causada por muitas bactérias gram-positivas e gram-negativas aeróbicas. As infecções uretrais e prostáticas por clamídias e micoplasmas têm, nas tetraciclinas, o medicamento de escolha para o tratamento. As infecções uretrais e prostáticas por clamídias e micoplasmas têm, nas tetraciclinas, o medicamento de escolha para o tratamento.
A tigeciclina tem um espectro mais amplo de atividade quando comparada às tetraciclinas. A tigeciclina tem atividade contra patógenos gram-positivos, incluindo: Enterococcus spp, enterococos resistentes à vancomicina, Listeria, Streptococcus spp, Staphylococcus aureus suscetível à meticilina e resistente à meticilina e Staphylococcus epidermidis. Sua atividade gram-negativa inclui: Acinenobacter baumannii, Citrobacter spp, Enterobacter spp, Escherichia coli, Klebsiella spp, Pasteurella multocida, Serratia marcescens e Stenotrophomonas maltophilia.
A doxiciclina é uma das tetraciclinas mais ativas e é a mais utilizada clinicamente, uma vez que possui muitas vantagens sobre as tetraciclinas tradicionais e a minociclina. A doxiciclina pode ser administrada duas vezes ao dia, possui formulações intravenosas (IV) e orais, alcança concentrações razoáveis mesmo se administrada com alimentos e tem menor probabilidade de causar fotosensibilidade.
Efeitos adversos das tetraciclinas
As tetraciclinas geralmente são drogas seguras, mas alguns efeitos adversos podem ocorrer. Como os demais antibióticos, podem causar problemas alérgicos que estão na dependência do indivíduo. Manifestações de intolerância gastrintestinal são muito frequentes, surgindo em até 10% dos pacientes, especialmente náuseas e diarreia. As tetraciclinas apresentam efeitos tóxicos para o fígado, sistema hematopoiético e para o feto.
Por via IM, provocam dor, eritema e enduração local, o que limita o seu uso por esta via, especialmente em tratamentos prolongados. As tetraciclinas, juntamente com o cloranfenicol, são os antibióticos mais frequentemente relacionados com superinfecções, especialmente do trato digestivo.
A minociclina, em especial, causa efeitos adversos com frequência (em até 90% dos pacientes), manifestados por tonteira, vertigem, náuseas, vômitos e ataxia, devido à intoxicação do sistema de equilíbrio (vestíbulo).
Contraindicações
As tetraciclinas exercem um efeito antianabólico, provocando elevação da ureia sanguínea e aumento da excreção urinária de nitrogênio. Devido a esse efeito metabólico, as tetraciclinas são contra indicadas em pacientes com insuficiência renal.
Interações medicamentosas das tetraciclinas
As tetraciclinas sofrem interferência em sua absorção por via oral ao serem administradas junto a alimentos em geral, leite e medicamentos antiácidos e com sais de ferro, sendo eliminados como quelatos inativos nas fezes.
O uso concomitante de medicamentos antiepilépticos, como a difenilidantoína, barbitúricos e carbamazepina, acelera a inativação da doxiciclina, que tem reduzida em 50% sua meia-vida. A clorpropamida aumenta a hepatotoxicidade das tetraciclinas. O mesmo ocorre com a fenitoína, a fenilbutazona e derivados. Esses antibióticos podem potencializar o efeito dos anticoagulantes orais; por esse motivo é indicado acompanhar com mais atenção os parâmetros de coagulação do paciente.
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Referências:
- Bruntos, Laurence L. Chabner, Bruce A. Knollmann, Bjorn C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
- TAVARES, Walter Antibióticos e quimioterápicos para o clínico/Walter Tavares. 3. ed. rev. e atual. — São Paulo: Editora Atheneu, 2014.
- Whalen, Karen. Finkel, Richard. Panaveli, Thomas A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.