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As quinolonas pertencem a classe de medicações antimicrobiana. Possuem potente atividade contra bacilos gram-negativos aeróbios e entéricos e muitos patógenos respiratórios comuns.
Além disso, algumas fluoroquinolonas são ativas contra espécies de Pseudomonas, alguns organismos gram-positivos, anaeróbios e micobactérias. Por isso, os antibióticos desta classe são caracterizados como antibióticos de amplo espectro ou de espectro alargado.
Sua origem ocorreu em 1962, quando foi descoberto o ácido nalidíxico, a primeira das quinolonas de uso clínico, e que mostrou ação bactericida contra bactérias gram-negativas.
Em 1980 ocorreu um grande avanço no desenvolvimento de medicamentos dessa classe, com a produção das fluorquinolonas através do acréscimo de um átomo de flúor na posição 6 do anel quinolônico.
Esse grande progresso culminou em diversos fármacos, com propriedades antimicrobianas e características farmacocinéticas distintas, fazendo com que houvesse a necessidade de dividir essa classe gerações. Atualmente, existem 4 gerações de quinolonas, com particularidades de atuação e de medicações. Veremos mais a seguir.
Mecanismos de ação
Esta classe possui ação bactericida. Normalmente, o DNA bacteriano encontra-se fortemente condensado e espiralado no interior celular. Para se multiplicarem, é preciso que as bactérias passem pelo processo de divisão celular, com replicação cromossomal. Para isso, é necessário que haja a descondensação cromossômica, permitindo sua duplicação.
Esses processos são controlados através de enzimas denominadas topoisomerases. Dentre elas a topoisomerase II, também denominada DNA-girase.
As quinolonas atuam inibindo a ação das subunidades “A” da topoisomerase II nas bactérias gram-negativas. Já nos estafilococos e pneumococos, o local primário de ação é a topoisomerase IV, e, a DNA-girase se torna um local secundário.
A partir dessa atuação, o DNA bacteriano deixa de se manter condensado e se torna relaxado, ocupando um espaço maior do que o contido nos limites do corpo bacteriano, conduzindo à morte celular.
A resistência bacteriana tem aumentado progressivamente nesses fármacos, principalmente em Pseudomonas aeruginosa e Serratia marcescens. Essa resistência decorre de modificação na DNA-girases que resultam em insensibilidade à inibição por essas drogas.
Classificação das Quinolonas
Primeira geração
São consideradas quinolonas da primeira geração os fármacos com ação antimicrobiana sobre as enterobactérias, com limitada ação antipseudomonas e sem atividade contra bactérias gram-positivas. Possuem eficácia terapêutica somente em vias urinárias e intestinal.
Seus principais representantes são o ácido nalidíxico e drogas análogas, como o ácido pipemídico e o rosoxacino.
Segunda geração
Nesta classificação se encontram as fluoroquinolonas com propriedade antimicrobiana contra os cocos e bacilos gram-negativos, com moderada ou potente ação contra a P. aeruginosa, atividade contra estafilococos sensíveis à oxacilina e, com exceção do norfloxacino, exercem ação terapêutica sistêmica, pois atingem concentrações ativas nos líquidos e tecidos orgânicos.
Devido a essa particularidade de ação sistêmica, pode ser subdividida em dois grupos:
- um grupo que inclui o norfloxacino e o lomefloxacino, disponíveis somente para uso oral e com pequena atividade terapêutica sistêmica
- um grupo que inclui o o pefloxacino, o ofloxacino e o ciprofloxacino, disponíveis para uso oral e intravenoso, e úteis no tratamento de infecções sistêmicas causadas por bactérias sensíveis.
Vale destacar que o ciprofloxacino é o principal representante da classe das fluorquinolonas de modo geral.
Terceira geração
As quinolonas desta geração incluem as que possuem atividade terapêutica em infecções sistêmicas por microrganismos gram-negativos e gram-positivas, incluindo os estreptococos hemolíticos e o pneumococo e as bactérias atípicas.
São chamadas quinolonas respiratórias, por atuarem em patógenos mais frequentemente causadores de infecções respiratórias, como os pneumococos, hemófilos e clamídias, legionelas e micoplasmas.
São representadas, principalmente, pelo levofloxacino. O gemifloxacino também faz parte dessa categoria.
Quarta geração
Neste grupo estão as que apresentam atividade antimicrobiana potente sobre bactérias aeróbias gram-negativas e gram-positivas, além de exercerem atividade contra os anaeróbios de vias áreas superiores, da pele e intestinais, com ênfase ao Bacteroides fragilis.
No Brasil, só está disponível para uso clínico o moxifloxacino, mas também fazem parte dessa classificação o trovafloxacino, o clinafloxacino e o sitafloxacino.
Indicações das Quinolonas
As quinolonas estão indicadas para uma grande quantidade de acometimentos clínicos. As principais são:
- Infecções no trato genito-urinário – pode ser utilizada para o tratamento de infecções urinárias não complicadas até pielonefrites graves ou prostatites. Também possui ação contra bactérias que afetam o trato genital, como a Chlamydea trachomatis e Mycoplasma hominis.
- Infecções respiratórias – Indicada em quadros de sinusite, otite externa invasiva além de certos tipos de pneumonia e bronquites agudas. Pode ser utilizada para tratar infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa em pacientes com fibrose cística,
- Infecções do trato gastrointestinal – atuam em todas as bactérias causadoras de gastroenterites
- Osteomielites – inflamação óssea causada por bacilos gram-negativos .
- Infecções cutâneas e de tecidos moles – indicadas em infecções de pele, escaras e úlceras infectadas, assim como pé-diabético com infecção bacteriana.
- Atividade contra micobactérias
- Atividade contra o Antraz.
Efeitos adversos
As quinolonas apresentam boa tolerância, e seus principais efeitos adversos são gastrointestinais, incluindo náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. Existe a possibilidade de desenvolver colite pseudomembranosa, mas é muito rara.
Sintomas de hipersensibilidade como de urticária, eosinofilia, erupções maculopapulares e febre podem aparecer, mas também não são comuns. Entretanto, esses medicamentos podem causar efeitos tóxicos sobre o SNC, causando sonolência, cefaléia, insônia, tonturas, fadiga, depressão e, por vezes, convulsão. Essas manifestações estão associadas a altas doses e são mais frequentes em idosos e lactentes.
Interações medicamentosas das Quinolonas
- Cloranfenicol e Rifampicina – inibem a ação bactericida de algumas quinolonas, como o ácido nalidíxico e a norfloxacina
- Gentamicina e Ceftazidima – possuem ação sinérgica com as quinolonas contra Pseudomonas
- Teofilina – as quinolonas aumentam a concentração sérica da teofilina, podendo causar intoxicação.
- Varfarina – podem causar sangramento
- Ferro, Zinco, sucralfato, antiácidos contendo hidróxido de alumínio, magnésio, cálcio – diminuem a absorção das quinolonas.
- Não devem ser administradas com outras drogas que provoquem o alargamento do intervalo QT pois estas medicações causam esse efeito
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Referências:
Rang, H.P; Dale, M.M. Farmacologia. Editora Elsevier, 8 ed., 2016
TAVARES, Walter. Antibióticos e Quimioterápicos para o clínico. Editora Athene, 3 ed., 2014