Medicina da Família e Comunidade

Síndrome Nefrítica x Síndrome Nefrótica

Síndrome Nefrítica x Síndrome Nefrótica

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As síndromes Nefrítica e nefrótica são duas grandes entidades da nefrologia, agrupando um enorme número de doenças e tipos de lesão renal. Está com dúvida na hora de diferenciar? Nós te ajudamos a não se esquecer mais.

Anatomia Básica do glomérulo

Anatomia do glomérulo – Princípios de nefrologia, Riella.

O glomérulo é uma estrutura complexa que tem a função de filtrar o sangue que chega ao rim, evitando que certas moléculas, como as proteínas e as hemácias, sejam perdidas pela filtração. A composição dessa barreira é feita por três estruturas cruciais: o endotélio capilar, a membrana basal e o epitélio visceral. Perceba que o endotélio do capilar glomerular é fenestrado, para permitir a passagem do filtrado, a membrana basal por sua vez é uma estrutura contínua, que envolve quase todo o capilar, isso mesmo, ‘’quase todo’’! Perceba que em sua porção central os capilares estão unidos um ao outro pelo mesângio, um tecido que não permite a filtração e funciona como sustentação para as alças. A terceira e não menos importante estrutura é o epitélio visceral, que também possui fenestrações e pequenas estruturas chamadas podócitos, que são uma barreira mecânica e também elétrica, repelindo proteínas de carga negativa. Quando essas barreiras são quebradas, teremos a presença de elementos anormais no sedimento urinário, originando a proteinúria e hematúria, que são encontradas nas síndromes que vamos tratar agora.

Síndrome Nefrítica

      As glomerulonefrites são processos infecciosos agudos que acometem o glomérulo, acarretando retenção de sódio pela dificuldade de excreção. Essa retenção pode levar ao edema e a hipertensão. Ocorre também ruptura e lesão de pequenas alças capilares, a barreira de filtração perde sua integridade, fazendo com que possam surgir na urina proteínas e hemácias. O quadro caracterizado por Hipertensão, edema, hematúria e proteinúria é o que chamamos de Síndrome Nefrítica!
     Ao passar pelos capilares fenestrados, as hemácias são “rasgadas” e sofrem deformações, adquirindo um aspecto dismórfico, aumentando o índice de dismorfismo eritrocitário. Isso quer dizer que a hematúria provavelmente é de origem glomerular, repare que o mesmo não ocorreria com outras causas de hematúria, como os cálculos.
     A proteinúria na síndrome nefrítica costuma ser de moderada intensidade, geralmente, não ultrapassando 3g, entretanto, pode servir como parâmetro de evolução, tendendo a desaparecer conforme a melhora do quadro. Já a hematúria, principal marcador clínico, pode permanecer ainda que o quadro tenha resolução, visto que é mais complexo reconstruir as alças rompidas.
     Uma causa comum é a glomerulonefrite pós-estreptocócica, e o paciente pode relatar episódio prévio de amigdalite bacteriana. Clinicamente, o paciente pode apresentar colúria, e o edema é de moderada intensidade, + a ++, poupando face.

Síndrome Nefrótica   

      Quando a perda de proteínas é maior que 3500mg por dia chamamos de proteinúria maciça. Essa perda exagerada supera a capacidade de síntese hepática, ocorrendo então hipoalbuminenia. A hipoalbuminemia, por sua vez, leva a um edema generalizado. A perda da integridade da barreira na síndrome nefrótica é drástica. O fígado, na tentativa de recuperar essa perda, aumenta a síntese de proteínas, dentre elas as lipoproteínas, culminando em hipercolesterolemia. O quadro de edema generalizado, hipoalbuminemia, proteinúria maciça e hipercolesterolemia é o que chamamos de síndrome nefrótica.
       A Síndrome nefrótica não é uma entidade única, mas sim um distúrbio associado a uma série de causas e condições diversas, que vão desde lesões primárias a secundárias, e até mesmo lesões visíveis apenas à microscopia eletrônica. Repare que aqui não temos a presença da hematúria como marcador principal, pois quando está presente, geralmente é microscópica.
     Clinicamente, o edema da síndrome nefrótica é mais acentuado que o edema presente na nefrítica, acometendo inclusive a face, caracterizando a fácies renal. A urina pode se apresentar espumosa, devido ao excesso de proteínas. Além disso, tende a acometer com mais frequência a faixa etária pediátrica, com a primeira manifestação dos 1 aos 8 anos.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

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Referências:

1- Bases fisiológicas da Nefrologia – Zatz- 1ª edição

2- Princípios de Nefrologia- Riella – 6ª edição